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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 17 de julho de 2018

MÃOS QUE ENDIREITAM

Olá familiazinha!

Já só faltam cerca de três meses para eu completar 29 anos a animar a Família do Tio João e nunca me tinha acontecido, como na quarta-feira passada. Nesse dia trabalhei, das 6 às 8 da manhã, debaixo de uma grande trovoada, mas a emissão não foi abaixo, como tem acontecido sempre nestas situações.

Os nossos participantes iam relatando em directo o que se estava a passar nos locais de onde nos ligavam. Foi o caso da tia Fátima, de Viduedo (Bragança), que nos falou directamente da igreja matriz, onde tinha colocado o Menino Jesus à entrada da porta para afastar a trovoada. Também a tia Helena Romão e o tio Lita, de Caravela (Bragança), nos contaram, com lágrimas nos olhos, que a aldeia estava debaixo de uma chuva de pedras que durou cerca de 20 minutos, destruindo toda a produção agrícola e provocando inundações em muitas habitações.

Na sexta feira, dia 13, entrou a lua nova e troada. Será que vai estar 30 dias baralhada?

A tia Neves, de Nuzedo de Baixo (Vinhais), na sua participação, disse-me que andava engarrada com um exército e não sabia de onde diabo saíam tantos soldados!... Fiquei sem saber de que trabalho agrícola estaria ela a falar, até que me explicou que andava a arrancar as ervas daninhas, que são a maior produção agrícola deste ano.

No dia 11 faleceu o tio Carlos Frias, com 54 anos, um dos membros mais antigos da família, marido da nossa tia Barbarinha. Também o meu bairro ficou mais pobre com o falecimento da Antónia Campos, de 54 anos, vítima de doença. No espaço de um ano faleceu a sua mãe, o seu pai e agora ela, deixando um filho de 22 anos, entregue à vida. Paz às suas almas e os sentimentos às famílias enlutadas.

O casal Humberto Almeida e Vitória Romão festejaram as suas Bodas de Ouro Matrimoniais no passado sábado. Que continue o pão da boda.

Estiveram de parabéns Celeste Fidalgo (77), de Grijó (Bragança); Armindo Miraco (75), de Vinhais; Luís Rodrigues (42), de Viduedo (Bragança); tio Neca Gaiteiro (83), de Romariz (Vinhais); Paulo Coelho (31), de Castedo (Torre de Moncorvo); Regina Cordeiro (90), de Coelhoso (Bragança) e Rita (74), de Vale de Frades (Vimioso). Agora vamos conhecer melhor o meu tio “endireita”, António Lopes.

Embora eu tivesse sido criado com os meus avós paternos, sempre fui acompanhando as mãos habilidosas da minha avó materna, a avó Toninha, mãe do meu tio António Lopes, que dela herdou o dom de “endireita”, no mundo dos ossos e tendões. Numa destas tardes calorentas, em sua casa, o meu tio contou-me um pouco mais daquilo que faz com as suas mãos e pude assistir ao vivo e a cores a uma sessão de “endireita”. Vamos então conhecer melhor a arte do meu tio António.

“Eu tinha 16 anos e morava na vila, no tempo em que havia soldados e iam-se todos a ‘compor’ a casa da minha mãe, que não havia outra cá, naquela altura. A minha mãe aprendeu a ‘endireitar’ com o pai dela. É um dom que nasce com a gente. Nós somos oito irmãos e só eu é que herdei este dom que já veio do meu avô para a minha mãe e dela só veio para mim. Pode ser que amanhã ou passado ainda haja alguém, porque a família começa a aumentar e não sabemos o que vem aí.

Vê-se logo se é partido ou deslocado, com um pouco de imaginação consigo ver se a mão, o pé ou as costelas, por exemplo, estão fora do sítio. Quer dizer, para isso é preciso um pouco de imaginação do osso que está saído por baixo da pele, para eu o compor. Não vamos pegar num osso e dizer já está feito e vai-te embora!

Dantes só usava azeite puro porque escorregava mais. Hoje já há pomadas que são melhores que o azeite. No fim ponho álcool canforado que é para apertar os ossos e não os deixar sair do sítio. Ao fim de dois ou três dias pode-se retirar a venda que não tem problema nenhum de voltar a sair do sítio.

Quando é o caso de uma mão ou de um pé aberto, uso uma pele de bacalhau. Primeiro esfrego-a, bem esfregadinha para lhe tirar o sal e depois aplico-a seca no sítio e o próprio bacalhau é que vai curar o pulso, devido ao iodo que contém.

Faço berrar os guardas republicanos, os polícias e tudo! Normalmente dou-lhes três dias. Ao fim de três dias, se correr tudo bem, escusam de cá voltar. Se ainda houver alguma dorzita ou qualquer coisa, em vez de estar a moer, voltam cá, porque por vezes, em vez de ser só um, são dois males.

A minha filha mais velha, Cândida, já tem uma pequena vista para isto, mas não se interessa muito. Tem de se interessar mais para aprender. Já lhe dá o jeito pelo dom que herdou de mim, mas não quer.

O médico de família que eu tinha em França, mandava os seus pacientes à ‘casa dos Antónios’, pois a minha mulher também se chama António, mas pedia para que não dissessem que foi ele que os tinha lá mandado. E não chamo cá ninguém.”

Na verdade todas as pessoas que têm visitado o meu tio, dizem que se sentem muito melhor, graças às suas mãos que endireitam.

Tio João
in:jornalnordeste.com

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