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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Mulheres reavivam a arte de construir e tocar pandeiro

Só as mulheres tocam o instrumento musical feito de pele de cordeiro com caixilho de madeira que, no interior, leva caricas de garrafas para enriquecer a sonoridade.
Mulheres de Fornos mostram os seus pandeiros. Foto: Olímpia Mairos/RR

É em Fornos, aldeia do concelho de Freixo de Espada à Cinta, que um grupo de mulheres se reúne semanalmente para tocar e cantar ao som do pandeiro, um instrumento de percussão feito de pele de cordeiro com caixilho de madeira.

O local de encontro é o Centro Social e Paroquial da localidade. Foi aqui que, em 2015, se recuperou uma tradição antiga que definhava por não haver quem lhe desse continuidade.

“Os pandeiros de Fornos surgiram da hora do conto. A partir daí, da recolha de músicas tradicionais, as senhoras que participavam falaram neste instrumento tradicional. E, então, surgiu a ideia de começarmos a aprender”, conta à Renascença a diretora técnica, Conceição Gaspar.

Primeiro, foi preciso fazer os instrumentos. E até não foi difícil, porque ainda havia e há na terra mulheres sabedoras da arte. Amélia Gabriel, de 70 anos, é uma das senhoras que, além de saber fazer, também sabe tocar e com mestria.
“O pandeiro é uma tradição muito antiga que temos cá em Fornos. É feito da pele dos borregos (cordeiros), daqueles já grandinhos. A pele tem de ficar de molho dois a três dias. Depois, com a unha, tem que se tirar o pêlo todo fora. A seguir lava-se bem lavadinha para eliminar o cheiro. Depois, como já temos os aros de madeira, coloca-se a pele bem esticada e segura-se com uns preguinhos miudinhos e depois colocam-se pioneses.”

Dentro, o pandeiro leva caricas de garrafas para enriquecer a sonoridade. Antigamente “levava feijões, mas como depois ganhavam bicho devido à humidade, resolvemos colocar estas 'latinhas' e resulta bem”, observa Amélia, destacando que, “nos quatro cantos, alguns pandeiros levam fitas coloridas”.
Tatiana, de 12 anos, também está a aprender a tocar o instrumento típico da terra. Foto: Olímpia Mairos/RR

Ao lado de Amélia está Olinda Lucas, de 74 anos, outra tocadora exímia. Entra na conversa para dizer que já fez “cinco pandeiros” e que não demorou mais do que três dias. “É uma coisa que se faz rápido. Pelar a pele é que dá mais trabalho e há peles bem difíceis, mas depois uma pessoa a pegar, outra a estender e outra a pôr os preguinhos, é rápido que se faz”, partilha com orgulho.

Albertina Pereira, de 66 anos, conta que começou a fazer pandeiros aos 12 anos. O pai tinha um rebanho de gado e com uma vizinha, que agora é cunhada, começou a fazer os instrumentos musicais para tocar nos bailaricos da aldeia.

“Aos domingos era com o que nos entretínhamos, com os bailaricos, ao som dos pandeiros. Uns tocavam, outros cantavam e outros bailavam e assim se arranjavam uns namoricos”, recorda.

Atualmente, Albertina vive no Porto, mas sempre que vem à terra não perde a oportunidade de se juntar ao grupo para tocar. Por estes dias, o grupo de mulheres – “os homens têm vergonha em tocar este instrumento” - reúne para ensaiar e preparar o reportório para a festa do Senhor da Rua Nova, que acontece todos os anos no primeiro domingo de setembro.

“Há muita gente que vem cá só para nos ver tocar os pandeiros e nós queremos muito manter esta tradição, porque é muito bonita e é cá da gente”, afirma sorridente.

Como se toca o pandeiro de Fornos?

O instrumento musical é composto por duas membranas paralelas, mas apenas uma é usada para tocar. “É com as duas mãos e é conforme o jeito da canção”, atira Amélia Gabriel, exemplificando com a canção “Quando eu saí de Fornos”.

O pandeiro é segurado pelos polegares de ambas as mãos e pelo indicador da mão direita, deixando, deste modo, os outros dedos livres para percutir o instrumento. “Os dedos vão mexendo conforme o ritmo da canção. Às vezes é preciso repetir duas vezes os dedos e às vezes é só uma, que é quando se dá aquela pancada”, diz. E lá vai mais uma pancada.

“Ninguém me ensinou a tocar, eu aprendi com os mais velhos e há pessoas que querem tocar e não conseguem, porque é preciso dar um certo jeito aos dedos”, conta.

Olinda também trata o instrumento por ‘tu’, que é como quem diz ‘até o faz falar’, e realça a importância de se recuperar uma tradição que “ajuda a passar o tempo, à diversão e ao convívio”. “É pelo convívio e pelo amor ao que é nosso que nunca devemos deixar de tocar o pandeiro”, completa Albertina.

Conceição Gaspar, a diretora do Centro Social e Paroquial de Fornos, grande impulsionadora das ‘pandeiras de Fornos’ ainda não conseguiu aprender a tocar, porque, diz, “é difícil, é preciso ter o ritmo e aptidão para a música”. Mas a técnica promete aprender, pois considera que “é importante preservar uma tradição que só existe naquela localidade.

Tatiana Canhoto, de 12 anos, também quer aprender a tocar o instrumento típico da terra, embora, para já, só empreste a sua voz ao canto enquanto observa como fazem as tocadoras. “É difícil. Já tentei tocar, mas ainda não sou capaz e por isso só canto”, conta à Renascença, acrescentando que a dificuldade está “na aprendizagem dos ritmos, para poder tocar e cantar ao mesmo tempo”.

Como vontade é algo que não lhe falta, certamente será uma das próximas tocadoras de pandeiros de Fornos, no concelho de Freixo de Espada à Cinta. E até pode acontecer que na festa do Senhor da Rua Nova junte já à voz umas ´pancadinhas’ no pandeiro.

Olímpia Mairos
Rádio Renascença

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