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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

A “santa causa” do Liceu Central de Bragança nos derradeiros anos da Monarquia e nos primeiros tempos da República

Na frente cultural, não podemos passar ao lado da "saga do Liceu", que urgia promover a "Central", quer pelo que representou e significou essa conquista para os brigantinos e para a região, quer pela envolvência e pelo empenho das "forças vivas" e dos poderes políticos locais e de outros municípios.
Há algumas peças que nos elucidam sobre o evoluir desta importante, porque simbólica, causa. Numa terra que tão pouco tinha, esta aspiração revelava-se primordial. Esgrimem se argumentos e razões, promovem-se ações políticas, há movimentações sociais. 

Edifício do Liceu, Pavilhão poente (instalações liceais entre 1927 e 1968)

Finalmente, já com a República, em 30 de maio de 1911, as pretensões são atendidas – o Liceu ganha o estatuto de Central.
Em 1908, uma comissão de pais de alunos “tomou a iniciativa de um movimento em favor da conversão do Liceu de Bragança em Central", porque "a instrução não deve nem pode ser um privilégio dos grandes centros".
Além disso, a urbe está afastada das principais cidades e "a sua escola secundária tem uma frequência avultadíssima…
Não vemos razão de os seus alunos irem frequentar a 6.ª e a 7.ª classe a outras escolas, com gravíssimo prejuízo das suas famílias e da terra, que parece ser conhecida dos poderes públicos apenas como contribuinte".
A luta – comum a todas as forças políticas locais e que parece congraçar as energias do Distrito – prossegue com argumentos convincentes… Na Câmara dos Deputados é apresentado um projeto assinado pelos deputados do círculo de Bragança.
Algumas passagens ajudam-nos a compreender a "união" que se dizia reinar no Distrito, em torno deste desiderato comum. "Esta momentosa questão teve a grande virtude de conciliar em sua defesa todas as energias do Distrito, reunindo-as numa só vontade. Todas as bandeiras partidárias se abateram perante a imperiosa necessidade de se obter para Bragança um estabelecimento onde se ministrem aos filhos desta desprotegida região os conhecimentos que constituem o curso completo dos liceus. A digna comissão que tem dirigido os trabalhos é composta de todos os partidos políticos que no Distrito têm representação, e têm-se conduzido de forma a merecer os mais rasgados elogios de gregos e troianos. As câmaras municipais de todo o Distrito, sem distinção de cor política, têm igualmente adotado o mesmo honroso procedimento. E igualmente os cinco deputados que em cortes representam o círculo de Bragança, nobre e lealmente têm cumprido o seu dever, esquecendo-se se são regeneradores, progressistas ou dissidentes”. Como se vê pelos relatos, também os republicanos – nem podia ser de outra maneira – apoiam, com entusiasmo, as iniciativas tomadas.
A causa não se resolvia. A 23 de setembro de 1908 volta-se à carga, em A Pátria Nova, num artigo impregnado de doutrina e de política e no qual se apela novamente à união. “Terminaram os trabalhos parlamentares e o Liceu lá ficou dormindo o sono dos justos no seio das comissões respetivas, as quais o dr. Afonso Costa classificou de cemitério dos projetos... Um povo instruído é um povo cioso dos seus direitos e regalias e como eles precisam dum povo de escravos, era preciso retirar-lhe os meios de se instruir. Daí a criminosa reforma de instrução que impossibilitava os filhos das classes menos abastadas de concluir o curso geral dos liceus. Essa reforma veio importada da Alemanha, quando esta Nação a tinha repudiado por ter dado péssimos resultados na instrução alemã. Mas foi por isso mesmo que o sinistro João Franco a importou. Servia-lhe para os seus malévolos desígnios fazer do povo português uma passiva besta de carga que resignadamente sofresse e trabalhasse. É por esta razão que as oligarquias dominantes hão de fazer oposição ao projeto que tem por fim elevar a central o nosso Liceu...


Acreditamos piamente que não haverá um só filho de Bragança, ou que de Bragança se considere, que não se apresente a combater denodadamente por esta santa causa".
A “criminosa” reforma de João Franco – que governara em ditadura – é a de Jaime Moniz (1894-1895), que estabeleceu o regime de classe, mas sofreu alterações em 1905. Apesar da crítica dos republicanos, a República pouco inovaria no campo do ensino secundário. Retomando este “folhetim”, o Jornal de Bragança de 29 de junho de 1910 manifesta a esperança de a reivindicação ser atendida: Teixeira de Sousa, agora no Governo, "querendo honrar a memória do que foi seu dedicado correligionário, o conselheiro Beça, envidará esforços para a elevação do nosso Liceu a central, cumprindo o que havia prometido". A luta irá ter êxito em 1911…

Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa

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