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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 2 de setembro de 2018

Bragança - Décadas de 50/60 do Século XX – 4ª Parte

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

A safra das vindimas era trabalhosa e havia uma quantidade razoável de tabernas ou melhor dizendo, vendas de vinho de colheita que apenas abriam para vender os excedentes que o dono do vinho achava serem extras ao cálculo de consumo privado previsto para o futuro próximo que seria até à próxima colheita.

Assim tínhamos as tabernas do Olho do Cú, na Estacada, creio que para escoar o excedente da Quinta da Trajinha. O Malaguetas. Além do Rio, o África, na Alexandre Herculano, quase só vinho branco. O Domingos Lopes, na Rua da República. O Necho na Rua dos Fornos, no Sapato havia uma mas não me recorda o nome do dono que creio ser Porfírio e o Má Cara na Caleja.
Estas são as que recordo neste momento em que escrevo não significando isto que mais tarde não apareçam mais. Vendiam ao copo e à garrafa e de "comes" normalmente só havia, sardinhas de conserva com cebola e coisas simples que não eram de monta, pois a intenção era escoar o vinho rapidamente.
O Outono em Bragança era como diziam na Igreja  "Tempo Comum" que até ao Advento apenas tinha pelo meio um destaque que se chamava São Martinho. Considero este período do Outono, o mais influenciador das relações amorosas e de paixonetas características da juventude que aproveitava o recomeço das aulas para deitar o anzol aos amores que como os peixes de quando em quando mordem o isco. Quando mordiam era sinal que ficavam os amores presos pelo beicinho, mas vezes havia que como soe dizer-se comiam o isco e cagavam no anzol. O vernáculo uso-o aqui excepcionalmente pois outro vocábulo que usasse seria não bater a bota com a perdigota.
A vida fluía numa constante de maturação para os que como eu estavam a crescer e a fazerem-se adultos. Os cafés, as barbearias, os sotos de sapateiros e alfaiates e até algumas lojas comerciais eram palco de conversas e de debates dos mais variados assuntos que passavam mais por um desejo latente e persistente de mudança do que do esclarecimento das mentes pois o que era o Status quo da maioria desmobilizava a gente de participação proveitosa no debate público. Tenho de confessar que na minha forma linear de ver a coisas a Rádio havia feito um trabalho meritório do ponto de vista da optimização da capacidade de fluência comunicacional e as Bibliotecas Itinerantes da Gulbenkian foram uma ferramenta eficaz contra um certo obscurantismo atávico das mentes brigantinas.
Não esqueçamos que Bragança foi o distrito nacional que mais gente deu para a fogueira e cárceres da Inquisição o que não só aos cristãos novos causou medos duradouros que instintivamente os que não caíram nas acusações escolheram passarem por ignorantes do que caírem sob a alçada daquela seita criminosa e sem temor a Deus, a quem só interessava tomar para si o património dos acusados nunca acreditando poderem vir a serem castigados quando Deus os chamasse a capítulo ou se apiedasse dos fracos e sem pau nem pedra castigasse os fortes. 
São Martinho /castanhas e vinho/Vinho novo consolo do povo/Dá Saúde este rico vinho/Bebe-se um almude /Por ti São Martinho/Nesta quadra se explicava toda a filosofia subjacente à comemoração da data de tão popular santo que a esmagadora maioria desconhecia ser de Reims e haver partilhado a sua capa com um pobre que no seu caminho se lhe deparou.
Grandiosas pielas os valentes dos flagrantes de litros sublimaram com o esforço do sistema digestivo em labor forçado só porque era tradição fazê-lo nesse dia e em louvor da estupidez grassante. Era só um dia e passava depressa! 
Aproximava-se a quadra natalícia No tempo do Advento a alegria espalhava-se na Alma do povo. Na Igreja preparava-se a Festa do Nascimento do Messias. Uma história que os Evangelistas relatam mas para a qual não forneceram data. Convencionou-se que fosse o dia 25 de Dezembro e durante quase dois mil anos nunca se questionou esta datação que foi combinada em Concílio. O Natal fez a proeza de se tornar um tempo de amor ao próximo como o Messias ensinou e foi capaz de ser brilhante pela aceitação de um mandamento da Antiga Aliança que ordenava: -Amarás ao teu Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo. Belas palavras que os Natais que foram passando através dos séculos ajudarem a sedimentar na tradição dos povos e na prática da Caridade que Jesus tanto mandou praticar.
No tempo de São Francisco de Assis começaram a fazer-se os primeiros Presépios que porque o povo amando este santo fez questão de copiar. Séculos passados no tempo do vigésimo e passada que era a primeira metade havia em Bragança uma tradição que as crianças adoravam e os adultos praticavam; fazerem o Presépio para com figuras feitas com as mãos do povo se pudesse representar o Milagre acontecido e memorado por mais de dois milénios, numa gruta ou cabana na Filistina mais propriamente em Belém quando uma jovem mulher dá à luz o Messias que os profetas do seu Deus haviam anunciado!
Na Sé em Bragança caprichava-se para que o cenário montado fosse explícito suficientemente para que assim pudesse surtir efeito nas criaturas e as influenciasse a seguirem o exemplo daquele que viu a luz nas condições mais humildes da escala de valores da sociedade do seu tempo e ainda da que nos anos cinquenta do século vinte poderia ser comparada em milhentos lugares de Trás -os -Montes. E por isso eu amava aquele presépio que se fazia na Sé e que o olhar da criança que era eu parecia a palavra do Salvador materializada. Que lindo o presépio era.
Hoje com a idade já longa continua a ser uma, senão a mais bela recordação da minha infância.
E com o Presépio e o Natal acabava o Ano e eu fazia -me Homem.

Bragança 31 de Agosto de 2018, no dia em que se cumprem sessenta e nove anos que minha mãe numa casa da Caleja do Forte deu à luz um menino que ela nomeou como António Orlando dos Santos, e do pai tomou a alcunha de Bombadas!




A. O. dos Santos 
(Bombadas)

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