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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

DA FERROVIA E DA CRISE ENERGÉTICA

A recente crise energética veio demonstrar o evidente: o país está demasiadamente dependente da rodovia. A necessária atualização e modernização da rede viária nacional, iniciada no consulado de Cavaco Silva e prosseguida nos governos que lhe sucederam foi feita de forma distorcida e enviesada. Enquanto se multiplicaram as vias rápidas junto ao litoral ou na faixa longitudinal mais próxima (é possível ir do Montijo até ao Peso da Régua sempre em auto-estrada e regressar, igualmente por esse tipo de via, sem passar duas vezes pelo mesmo lugar, sem repetir nenhum troço, por mais pequeno que seja), no interior, continuam a existir ligações por fazer, estradas por terminar e itinerários principais incompletos. Em Trás-os-Montes, última região a ter acesso a uma auto-estrada, faltam as ligações nacionais previstas em Vinhais e Vimioso e os acessos internacionais a Puebla de Sanábria, a Gudiña e a Zamora. O IC5 parou em Duas Igrejas e não há forma de ligar a Junqueira ao Pocinho pelo IP2. Mas se este cenário desanimador e em contraciclo à anunciada (e repetida, pelo menos de quatro em quatro anos) vontade firme de diminuir o enorme fosso que divide o país, pelo lado da rodovia, no que toca à ferrovia, o panorama é ainda mais dramático. Se é verdade que muito ficou para fazer e se é mesmo possível admitir que na faixa junto ao mar, melhor fora desviar alguns recursos do alcatrão para o caminho de ferro, com melhor resultado, maior sustentabilidade e maior diversificação (veja-se o jeitão que tinha dado poder usar o comboio de forma mais eficiente, na recente “crise energética”), na banda territorial próxima do país vizinho a situação é escandalosa. Não houve qualquer tipo de melhoramento, absolutamente nenhuma expansão e, pelo contrário, foram encerradas, abandonadas e destruídas várias infraestruturas ferroviárias privando os transmontanos do acesso a um dos meios de transporte em expansão e com largos investimentos noutros países europeus. Todas as linhas de via estreita foram extintas e a própria linha do Douro se foi degradando tendo sido encerrada no Pocinho e quase abandonada da Régua para cima.
Esta situação é tão mais dramática quanto a história nos ensinou que foi precisamente o caminho de ferro que nos dois séculos passados rasgou o atraso rural de grande parte do país como, facilmente se pode verificar sobrepondo o mapa das antigas linhas do comboio com os vetores de desenvolvimento no tempo em que existiram. E se havia, só por isso, razões para a aposta imediata e adequada a crise ambiental que nos afronta contribui com acrescidas razões para essa estratégia urgente e necessária. São os comboios modernos movidos a eletricidade e, só por isso, a passagem de grande parte do serviço rodoviário para este tipo de transporte trará uma considerável diminuição da poluição do ar. O imparável aumento da digitalização da economia vai trazer vantagens acrescidas pois o teletrabalho é perfeitamente compatível com esta forma de viajar, em detrimento de todas as outras. Os canais associados serão, igualmente, um corta-fogo permanente e eficaz. 
Mas sabemos bem, do passado que, contrariamente aos naturais da beira-mar, dificilmente teremos o que nos é devido se o não soubermos reivindicar. Ora, acontece que aos autarcas que promovem ecopistas nas antigas vias de ferro, falta moral para reivindicar a reposição justa e devida. Mesmo, e principalmente, aqueles que apoiam os intentos perversos da CP (e do Governo) na sua casa e não têm vergonha de vir à rua defender a reabertura da ligação das carruagens nos concelhos vizinhos!


José Mário Leite
in:jornalnordeste.com

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