Era uma vez um sapateiro pobre, que nada tinha seu a não ser o pão do dia, que ia conseguindo com os pequenos arranjos em calçado que fazia e com outros serviços, como ripar sacos de folhas de negrilhos para dar aos animais dos outros. Um dia estava ele em cima de um negrilho a ripar folhas, quando se deu conta que três homens dirigiam-se na sua direcção, encaminhando-se para umas enormes fragas.
Os três homens ao chegar ás fragas pararam, falando um deles:
- Abre-te sésamo.
Espanto do sapateiro, quando viu as fragas a abrirem-se para os lados e os três homens entraram, passados poucos minutos, os indivíduos saíram voltando-se novamente para as fragas:
- Fecha-te sésamo.
As fragas voltaram a unir-se, de modo que ninguém desconfiou que ali havia algo de anormal. O sapateiro em cima do negrilho puxou por um papel escrevendo as fórmulas que acabara de ouvir. Quando os indivíduos se afastaram ele, movido pela curiosidade, foi tentar fazer o mesmo:
- Abre-te sésamo.
As fragas abriram-se e ele, ficou espantado com a riqueza que viu, meteu, então, no saco das folhas uma rasa de libras, pedindo depois ás portas para se fecharem.
Regressou a sua casa continuando com os seus afazeres do dia a dia, no entanto um vizinho rico não deixava de comentar o modo de vida daquele homem:
- Ó vizinho, estranho como leva a sua vida tão pobre e sempre a cantar! Levanta-se tarde, vai-se embora cedo …
Interrompeu o sapateiro:
- Sabe vizinho vale mais quem Deus ajuda do que quem muito madruga!
O seu vizinho rico desfazia-se a trabalhar, levantando-se cedo e fazendo grandes noitadas, nunca lhes apetecendo cantar. Ao lado da casa do pobre, o vizinho rico tinha grandes quintas com casas ao fundo. Um dia o sapateiro falou ao vizinho naquele prédio e ele pediu-lhe muito para o arrendar, mas o sapateiro queria-lo comprar, o homem ante esta proposta, olha o sapateiro de alto a baixo, e lança uma gargalhada. O sapateiro, pensando que não se tinha feito entender, repetiu:
- Eu preciso desta quinta diga-me quanto quer por ela? Eu compro-a.
O rico lançou para o ar um preço, que não sendo o valor real da fazenda, lhe pareceu que ia assustar o sapateiro, só que enganou-se porque o sapateiro saca de um grande valor de dinheiro e dá-lo ao vizinho:
- Pronto, negócio fechado, a quinta é minha. Vamos tratar de a pôr em meu nome.
O rico nem teve tempo de resposta, ficou vencido no conceito que tinha do seu vizinho sapateiro, este por sua vez sentiu-se mais rico e feliz que o vizinho rico. O sapateiro tratou em pouco tempo de construir uns celeiros grandes para recolher os cereais, estaleiros para os animais, uma pocilga para os porcos que iria vender e aves de capoeira. O resto da população andava admirado com o sapateiro pobre que comprou carros, tractores, toda a espécie de máquinas e quintas por aquelas redondezas. Mas de tanto investir, o dinheiro foi-se escasseando e o sapateiro pensou em voltar ás fragas para ir buscar mais dinheiro. Então, o sapateiro muniu-se com a sua caçadeira e dirigiu-se para as fragas, esperou que os três indivíduos chegassem, deixou que eles entrassem e colocou-se mesmo em cima das fragas, armando a coisa de tal modo que parecia que trazia consigo um batalhão de soldados.
Desviou com cuidado duas telhas e enfiou por lá os canos da espingarda, começando a dar ordens aos hipotéticos soldados para estarem atentos aos movimentos dos homens no interior do esconderijo. Ao ouvirem as ordens os indivíduos desorientaram-se, matando os três muito facilmente dentro do buraco. Desceu a casa a buscar a carrinha e na volta ordenou ás fragas:
- Abre-te sésamo!
Ali carregou o carro com tudo o que lá havia, agora rico não havia ninguém que pegasse nele. Em casa a mulher e as filhas ficaram admiradas com tudo aquilo, transformando-se a vida daquela família.
RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localização geográfica: PAÇO DAS MÓS – ORIGEM + 60 anos.
FICHA TÉCNICA:
Título: CANCIONEIRO TRANSMONTANO 2005
Autor do projecto: CHRYS CHRYSTELLO
Fotografia e design: LUÍS CANOTILHO
Pintura: HELENA CANOTILHO (capa e início dos capítulos)
Edição: SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE BRAGANÇA
Recolha de textos 2005: EDUARDO ALVES E SANDRA ROCHA
Recolha de textos 1985: BELARMINO AUGUSTO AFONSO
Na edição de 1985: ilustrações de José Amaro
Edição de 1985: DELEGAÇÃO DA JUNTA CENTRAL DAS CASAS DO POVO DE
BRAGANÇA, ELEUTÉRIO ALVES e NARCISO GOMES
Transcrição musical 1985: ALBERTO ANÍBAL FERREIRA
Iimpressão e acabamento: ROCHA ARTES GRÁFICAS, V. N. GAIA
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A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)
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