quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

A HISTÓRIA DO CRIADO E NÃO NASCIDO

Era uma vez um reino longínquo, onde existia uma princesa que dizia conseguir ler o pensamento dos rapazes. O rei propôs um desafio a todos os rapazes: se houvesse algum a quem ela não conseguisse ler o pensamento casaria com ela e a quem ela conseguisse ler o pensamento iria para a forca. No entanto, o desafio impunha uma condição, os rapazes teriam de passar em casa da princesa três dias e três noites.
A princesa como não conseguia ler o pensamento, fazia as criadas dormir com os rapazes, para que estes contassem a história das suas vidas a estas.
Muitos foram os que morreram devido à crueldade da menina, até que um dia pareceu um rapaz que era “criado e não nascido” (nascido por cesariana), que tinha um cavalo também “criado e não nascido”. Este resolveu aceitar o desafio porque pensou que não haveria ninguém que adivinhasse a sua condição de “criado e não nascido”. Perante a decisão do rapaz, o seu pai que não queria vê-lo enforcado, preparou-lhe uma merenda composta por três bolos envenenados. O rapaz ao partir a galope foi seguido pela sua cadelinha “celindra”, mas ao ver-se seguido por ela, pensou que teria fome e deu-lhe os três bolos, o que fez com que a cadelinha morresse. Ao ver que a cadelinha tinha morrido em seu lugar, enterrou-a como era o seu dever, mas ao chegar ao local viu sete aves que sucumbiram pelo veneno, pondo-as num saco e seguindo logo depois viagem. Durante o caminho ia feliz, ao pensar que a princesa nunca iria adivinhar que ele e o seu cavalo eram “criados e não nascidos”, que três mataram um e um matou sete.
Durante a viagem o rapaz foi interceptado por catorze leões que queriam comer o cavalo para saciar a fome, o rapaz, contudo, querendo poupar o cavalo ofereceu, em sua vez, as aves que foram aceites pelos ladrões, que morreram ao comê-las. O rapaz pensou, então, que depois de todas aquelas peripécias, a princesa nunca descobriria que ele e o seu cavalo eram “criados e não nascidos”, que três mataram um, um matou sete e que sete mataram catorze.
Ao chegar ao castelo o rapaz instalou-se. Ao chegar a primeira noite foi uma criada a ter com ele a qual foi recusada, acontecendo o mesmo, assim sucessivamente, pelas duas noites seguintes, até que o rapaz mandou chamar quem as tinha enviado.
Vendo-se em tal desespero, a rapariga na terceira noite, aceitava ir dormir com ele, e ao amanhecer depois da princesa ter dormido, o rapaz cortou um pedaço de cada um dos seus vestidos.
Chegado o dia do desafio, a princesa adivinhou toda a vida do rapaz. Ao ser condenado à forca, o rei perguntou se havia alguma coisa que queria dizer à princesa antes de morrer. Este revelou que a princesa adivinhava a vida dos rapazes graças à ajuda das suas criadas que pernoitavam com eles, tendo como prova um pedaço dos vestidos da princesa.
O rei, perante esta situação, ao confirmar a veracidade das provas e da situação concedeu a mão da filha em casamento ao rapaz. O “nascido e não criado” recusou casar-se com a princesa, visto esta ter dormido com ele, o que o levava a pensar que esta já podia ter dormido com muitos outros. O rei aceitou a recusa do rapaz, mandando para a forca a filha que acusou de ser uma falsa e uma assassina. O rapaz voltou para casa fazendo uma grande festa.

RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localização geográfica: PAÇO DAS MÓS – ORIGEM + 60 anos.

FICHA TÉCNICA:
Título: CANCIONEIRO TRANSMONTANO 2005
Autor do projecto: CHRYS CHRYSTELLO
Fotografia e design: LUÍS CANOTILHO
Pintura: HELENA CANOTILHO (capa e início dos capítulos)
Edição: SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE BRAGANÇA
Recolha de textos 2005: EDUARDO ALVES E SANDRA ROCHA
Recolha de textos 1985: BELARMINO AUGUSTO AFONSO
Na edição de 1985: ilustrações de José Amaro
Edição de 1985: DELEGAÇÃO DA JUNTA CENTRAL DAS CASAS DO POVO DE
BRAGANÇA, ELEUTÉRIO ALVES e NARCISO GOMES
Transcrição musical 1985: ALBERTO ANÍBAL FERREIRA
Iimpressão e acabamento: ROCHA ARTES GRÁFICAS, V. N. GAIA

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