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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 29 de dezembro de 2019

Instrumentista de Miranda do Douro, transforma velhas latas em guitarras elétricas

Um instrumentista de Miranda do Douro aproveita antigas embalagens em lata, bem conservadas, para fazer guitarras elétricas e acústicas com uma sonoridade "única", que depois utiliza nos concertos do grupo de música folk Galandum Galundaina.

A ideia de construir o 'guitarro' vem da mestria do senhor Francisco dos Reis Domingos, que há cerca de 70 anos construiu umas guitarras a partir de antigas latas do café e outras que encontrava, às quais juntava braços feitos de pau ou aproveitava os de velhas guitarras. Daí ter começado a procurar estes materiais para introduzir nas músicas do grupo Galandum Galundaina uma sonoridade mais harmónica, que vem deste género de instrumento e que fui estudando", explicou à Lusa Paulo Meirinhos.

O "guitarro", como assim é designado o instrumento musical, é composto por uma lata estilo 'vintage' que no passado serviu para transportar lubrificantes ou produtos alimentares, à qual se lhe acrescenta um braço com escala musical feito numa fábrica em Braga, e diversos componentes elétricos e eletrónicos, e que em conjunto emanam um som "único e característico".

"Este é um instrumento, tido como tradicional nas Terras de Miranda, já acompanhava cantares e outras modas, oriundas deste rincão transmontano", frisou o músico.

O legado deixado por Francisco dos Reis Domingues consta das recolhas do etnomusicólogo francês Michel Giacometti e de filmes dedicados à cultura do Nordeste Transmontano.

O grupo Galandum Galundaina já fez concertos em que utilizou o "guitarro" e os músicos garantiram que "conseguiram recursos diferentes paras as sonoridades pretendidas".

"O acompanhamento musical deste instrumento é muito harmónico. No caso dos Galandum, temos em atenção um som mais melódico e, por isso, estamos a tentar fazer um equilibro", observou à Lusa, Paulo Meirinhos.

O característico som da lata, que após amplificado, marca a diferença, principalmente nos sons mais agudos, em que "o torna agradável ao ouvido e harmónico no acompanhamento de outros instrumentos como a sanfona, as percussões ou até mesmo uma gaita-de-foles".

"Com este instrumento conseguimos uma vibração ondulante, que é umas das características deste tipo de latas. Este som da lata é estranho que depois se entranha, já que não tem o timbre dos instrumentos feitos em madeira", concretizou o instrumentista.

Paulo Meirinhos, que também se dedica ao estudo de outro tipo de instrumentos, espera agora que o "guitarro" tenha um presente e um futuro e que seja utilizado por outros músicos.

"No que respeita aos Galandum Galundaina, tentamos recuperar músicas e sonoridades de outros tempos e do cancioneiro tradicional mirandês. A recuperação do 'guitarro' é outro dos desafios e esperamos que outros grupos musicais sigam o mesmo caminho e deem a este instrumento uma nova vida", vincou.

Para o músico e artesão, o facto de recuperar estas "velhas latas" é também mostrar um pouco do passado comercial e industrial de Portugal.

"Esta é também uma forma de reciclar e reutilizar antigos manteriais, que marcaram o seu tempo e que desta forma não acabaram no lixo, já que são objetos bonitos", observou Paulo Meirinhos.

Para além da construção deste tipo de instrumento de cordas, o músico também constrói réplicas medievais como a rabeca e o rabel. Paulo Meirinhos também excuta os tradicionais pandeiros mirandeses, que têm várias formas e são introduzidos nas músicas de vários cancioneiros regionais, um pouco por toda a Península Ibérica, dadas as muitas semelhanças sonoras.

1 comentário:

  1. Parabéns ao Paulo Meirinhos, na iniciativa.
    Não obstante a solução produtiva não ser nova (há hoje alguns fornecedores, sobretudo norte-americanos, que produzem guitarras feitas a partir desse material- a Bohemian Guitars opera nessa área há alguns anos), aqui tem um valor acrescido por resultar de uma tradição local de décadas!
    A produção do "guitarro" é muito interessante porque permite o reaproveitamento de um resíduo, e a materialização de um cordofone original, com uma sonoridade particular, muito versátil e a preços aceitáveis!...A electrificação abre caminho à exploração de efeitos sonoros, inesgotáveis em função dos acessórios que se queira usar. O efeito final é muito equilibrado, harmónico e com um timbre que estimula experiências muito diversas na produção musical!...Confesso que ainda não experimentei, mas estou muito predisposto a tal!
    HMC

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