O setor do azeite vive dias muito penosos em Trás-os-Montes. À diminuição do preço da azeitona e por consequência do azeite, a campanha deste ano está a ser assombrada pelo enorme e inesperado aumento do custo do transporte do bagaço da azeitona para as empresas extratoras. Os cerca de 100 lagares que existem na região já fizeram as contas e vão ter de desembolsar mais de dois milhões de euros.
"Fomos apanhados de surpresa e sem possibilidade de reação" diz Paulo Ribeiro, presidente da Cooperativa de Olivicultores de Valpaços. "Nós antes vendíamos o bagaço, mais tarde já o levavam e pouco pagavam, ou nada e este ano temos que pagar (o transporte). Feitas as contas temos de pagar cerca de 300 mil euros que vão suportar os associados".
A cooperativa de Valpaços é a segunda maior do país com mais de 2200 associados de toda a região transmontana. Quem perde, acrescenta Filipe Rodrigues, responsável de um Lagar na zona industrial de Bragança, são todos os agentes do setor.
"Para ter uma ideia, cada camião, o ano passado era valorizado em 20, 30 euros e este ano cada camião custa-nos 500 euros, ou seja, mais do que nos afetar a nós afeta a fileira toda".
Os dois responsáveis acrescentam que para lá dos custos inesperados do transporte do bagaço são obrigados a deixarem ir o caroço (que os lagares retiravam para comercializar para aquecimento) e não lhes deixam fazer a repassa (segundo processo de prensagem da pasta que resta donde se pode extrair azeite refinado).
O que está em causa é mesmo o custo do transporte do bagaço, (o que resta da azeitona depois de moída), e que vai para as indústrias de extração onde é transformado em azeite refinado e óleos.
Em Trás-os-Montes há 3 empresas e Licínio Miranda é o proprietário duma situada entre Mirandela e Valpaços. Diz que os preços dos óleos que ali são retirados e que vão para Espanha desceram para metade e isso condicionou tudo.
"O ano passado isto andaria por 1.40 euros e este ano estamos nos 60 cêntimos, o que é praticamente incomportável a gente poder pagar os preços que se praticavam o ano passado porque para lá de pagarmos o transporte também pagávamos alguma coisa pelo bagaço, este ano é manifestamente impossível".
Licínio Miranda diz que este ano o mal tem que ser dividido por todos e que para o ano logo se vê. "Como isto é cíclico, aguentar pelo menos este ano esta situação e pode ser que para os outros anos melhore e então cá estamos e voltamos a praticar o que praticávamos nos outros anos".
Mas os lagareiros estão mesmo com "os azeites" e já se estão a organizar para arranjar soluções. Jorge Pires é o presidente da Comissão Instaladora duma associação que aí vem e salienta que "no imediato o mais importante é resolver um problema que nos foi posto a quinze dias do início da campanha que trás para o setor um prejuízo superior a 2 milhões de euros. É impossível! Porque aqui não se põe só o problema dos custos, é uma pressão que o setor dos lagares tem porque hoje foi isto, a quinze dias do início da campanha, e nada nos diz que para o ano não haverá outra coisa qualquer".
As soluções que estão faladas passam por chegar a consensos com as extratoras, chamar o poder político ao problema e com as universidades arranjar mais possibilidades de utilização do bagaço da azeitona.
Afonso de Sousa
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