Foto: AZIMUTE |
Vale a pena lembrar que pouco antes se concluíra o IC5 (Alijó-proximidade de Miranda do Douro), mas também o troço do IP2 entre a Vilariça e Bornes, que nos aliviou do serpentear agoniante que suportámos décadas sem fim, quando Lisboa ficava a um dia inteiro de tortura.
É certo que em 2013 ainda não se dominavam as entranhas do Marão, uma conquista que, chegada mais cedo, talvez tivesse permitido que outro galo cantasse ao sol nascente por estas terras.
Circular pela A4 é uma comodidade que há 50, 40 ou 30 anos, não cabia na cabeça da maior parte dos nordestinos, mesmo dos que já conheciam as “auto-routes” e as “autobahnen”, onde nem havia limite de velocidade, talvez uma forma de propaganda às marcas da indústria automóvel alemã, esse potentado discreto, reconstruído com o apoio dos que tiraram o pio às proclamações histéricas dos nazis e do seu maior protagonista, essa figura diabolicamente inquietante que foi o cabo Adolfo.
Não lhes cabia na cabeça poque durante décadas se habituaram às veredas, ao pó dos caminhos, às poldras para salvar ribeiros, até bater as solas ao chegar ao macadane, antes de subir para a carroçaria de uma camioneta com bancos de pau duro, como acontecia na segunda e terceira classes dos comboios com vagar, rivais dos sinos das igrejas a marcar o ritmo dos dias, onde os havia.
Mas hoje aí está a auto-estrada. Enquanto se percorre é possível pensar, para além das certezas de chegar ao destino em tempo e em condições de segurança, enquanto se observam as mudanças na paisagem, para o bem e para o mal.
É notável o que se pode ver em plena Terra Quente, até à envolvência de Murça, já no distrito vizinho. Olivais e vinhas ordenados, adaptados à exploração mecanizada racional, surgem a cada passo, justificando o sucesso de azeites e vinhos da região por esse mundo além, com proveito para os seus proprietários, mas também para a economia regional e para essa coisa difusa que é a esperança no futuro.
Já o mesmo não se dirá da Terra Fria, onde se sente a secura do abandono, a dar lugar ao mato rasteiro, estevas e giestas a fazer o que podem para lhe dar cor e atenuar o desânimo com o seu aroma intenso.
Há ainda o que dali não se vê, mas que se vive, um pouco mais longe, no nordeste profundo, onde já desapareceram os tagalhos de ovelhas e cabras, as vacadas são memórias, nas lojas de cevados não se ouve roncar e o que sobra é o tlintar desengonçado de motores a diesel de carripanas que, por Outubro e Novembro, vão carregando sacas de castanhas à porta de gente encanecida, que dá graças a Deus por lhas tirarem de casa.
P´ró que lhe havia de dar hoje, dirão alguns. E têm razão. Podendo ir ao Porto arejar e sentir o bafo da cidade a sério, só um tolo é que se dedica a estas tontices.
Teófilo Vaz
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