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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 17 de outubro de 2020

O futuro vai voltar

 No tempo em que os animais falavam, que é como quem diz, há coisa de cento e cinquenta anos, não havia futuro. Havia um passado que era sempre igual e um presente que se repetia.
A terra girava em torno do sol como sempre, mesmo que haja quem não acredite, a lua jogava à vez com a estrela que nos alumia para se colar no firmamento, os anos sucediam-se, mas nada mudava.
Os seres humanos nasciam todos da mesma maneira, mas consoante o lugar na escala e na organização social, assim ficava. Uns poucos com muita fartura e todos os outros muitos, à mercê do que calhava fartos de miséria e de falta de condições de vida. A palha em que se nascia, condicionava e atava.
Com a Revolução Industrial o velho regime, o ancestral mundo, mudou, um gigante mexeu-se na cadeira, as coisas começaram a bulir, as próprias estruturas começaram a modificar-se. Ao fundo do túnel da vida, começou a despontar uma luz que rompia o breu.
Nasceu a cidadania, foi florindo a esperança, foi vingando a ideia de solidariedade, e despontou a noção tornada exigência de liberdade ao mesmo tempo que se foi elevando a ideia do futuro. Este foi adquirindo contornos e as pessoas foram conseguindo maneiras de o alcançar e de o melhorar individual e coletivamente.
Uma geração foi desejando deixar herança de melhores formas de vida para a que seguia, as empresas desejavam crescer e somar valor para se tornarem robustas, os Estados, pelo menos supostamente alguns, e efetivamente outros, procuraram garantir o desenvolvimento. A civilização parecia ir de vento em popa.
O futuro surgiu e ficou sempre a subir. No entanto e num repente, deixou de ser o que era. Tremelicou, e há que diga que se finou. Por via dos muitos e variados desmandos da humanidade, e por causa de um terrível mal sob a forma de uma pandemia, o mexer da vida esbarrou contra um desconhecido bloco de gelo no meio do nevoeiro.
O saber vindo da História diz-nos que houve outros e mais terríveis flagelos ao longo dos séculos, relembra-nos que há cem anos, morreram por causa de um, perto de cem milhões de pessoas e que nunca se acabou o futuro. A prova disso, é que estamos cá e a viver muito mais e muito melhor.
Mas estamos desesperados. Temos e tivemos muito mais e parece-nos que temos tudo a perder. Escasseia-nos a força para resistir porque se nos mirra a esperança. O medo por nós e pelos nossos revolve-nos as estranhas e faz-nos andar as miudezas cá dentro aos saltos.
Resta-nos a grandeza e a fibra com que nos fizeram. Ambas são robustas comandadas pelo discernimento apesar das tentativas de as minarem. São elas o farol que garante que o futuro vai voltar por maiores que sejam as tempestades e por mais densa que seja a escuridão.
Manuel Igreja

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