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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 29 de maio de 2021

Guerra Junqueiro: "Os pequenos no bosque"

 Um dia três pequenos iam juntos para a escola, e disseram uns aos outros, que não havia nada no mundo mais aborrecido que estudar: “Vamos para o bosque que encontremos lá toda a espécie de lindos bichinhos, que não fazem outra cousa senão brincar, e nós brincaremos com eles.”

Foram logo, e passaram sem fazer caso ao pé da ativa formiga e da abelha diligente. Mas o besouro, que eles convidaram a vir patuscar, disse-lhes:

- Brincar? Preciso construir com estas ervas uma ponte nova, porque a outra já não está solida.

- Eu, disse o rato, tenho que fazer as minhas provisões para o inverno.

- Eu, disse dali a pomba, tenho muitas cousas que levar para o meu ninho.

- Eu, disse a lebre, gostava bem de me ir divertir com vocês, mas ainda hoje não lavei o meu focinho. Antes de mais nada, tenho que fazer a minha toilete.

E tu, lindo regato, disseram os pequenos desertores, que passas o tempo a saltar e a tagarelar, também não queres brincar connosco?

- Estes pequenos são tolos, disse o regato. Como? Vocês então imaginam que eu não tenho que fazer? De noite ou de dia, não descanso nem um momento. Tenho que dar de beber aos homens e aos animais, às colinas, aos vales, aos campos e aos jardins. Tenho que apagar os incêndios, tenho que fazer mover as forjas, os moinhos, as serralherias. Nem hoje acabara, se lhes quisesse contar o que tenho que fazer. Não posso perder um instante. Adeus, adeus. Estou com muita pressa.

Os pequenos, desconcertados, puseram-se a olhar para o ar, e viram um pintassilgo, em cima de um ramo.

- Olha! tu, que não tens nada que fazer, queres brincar connosco?

- Nada que fazer? vocês estão a mangar comigo, disse o pintassilgo. Todo o dia tenho que apanhar moscas para comer. Tenho além disso que tomar parte no concerto dos passarinhos, tenho que alegrar o operário com o meu chilrear, e tenho que adormecer as crianças com uma outra cantiga, que à noite e de madrugada celebre a bondade do Criador. Ide-vos embora, preguiçosos, ide cumprir o vosso dever, e não tornem a vir incomodar os habitantes das florestas, que cada um tem a sua tarefa a desempenhar.

Os pequenos aproveitaram a lição, e compreenderam que o prazer só é legítimo, quando é a recompensa do trabalho.

Fonte:
Guerra Junqueiro: "Contos para a Infância", Publicado originalmente em 1877.

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