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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Nota sobre as adivinhas populares portuguesas

 
Adivinhas populares portuguesas

No estudo das adivinhas populares portuguesas oferecem-se dois factos sobremodo interessantes:

– um é que elas têm fórmulas inicias (e às vezes finais) diversos segundo as localidades;

– outro é que o assunto sai principalmente das coisas domésticas e da lavoura.

Estes factos referem-se portanto à forma e à essências das adivinhas.

Fórmulas iniciais

Da observação de mais de trezentas adivinhas que tenho recolhido, posso concluir que a fórmula inicial = que é, que é = predomina no Minho e Trás-os-Montes.

Também se encontra na Beira Baixa e no limite (Pesqueira) desta província com a Beira Alta. Às vezes aquela fórmula é substituída só por = que é a coisa, etc.

A fórmula = qual é a coisa, qual é ela = domina (se não é única) nos arredores de Lamego e Viseu (Lamego, Mondim, S. Martinho de Mouros, Cinfães, S. Pedro do Sul, Mortágua, Vouzela, etc.).

Possuo adivinhas onde apenas se lê = qual é a coisa (Porto, Feira, Amarante) e possuo outras que começam = qual é ele, qual é ela = (Guimarães, etc.).

Em Paços de Ferreira aparece esta fórmula inicial = adivinhas uma adivinha?=

Fórmulas finais

As fórmulas finais variam igualmente.

Algumas dizem adivinhai, bacharéis (Minho); não adivinhas este ano, nem para o ano que vier, só se t’o eu disser (Porto, etc.).

Adivinha, tolo (Trás-os-Montes), à maneira dos contos populares cujo termo é: adeus ó Vitória, acabou-se a história, etc. (Minho).

Com relação ao segundo facto, o assunto muitas vezes é tirado de outras partes, mas dá-se de quando em quando a coincidência de se ir buscar à lavoura, por ex., o objecto da comparação.

Assim uma adivinha de Tabuaço, na qual se representa o ar, as estrelas, o vento e o sol, diz:

Qual é a coisa,
Qual é ela,
Lameiro redondo,
Pastorinhas ao longo,
Cão raivoso,
Pastor formoso?

Quando se estuda o nosso país, nota-se que de província para província há uma variedade nos terrenos, na flora, na linguagem, nos trajos, nos costumes; por isso não admira que as fórmulas das adivinhas ofereçam diferenças locais.

Como os nossos enigmas se encontram ao mesmo tempo na Galiza, Catalunha, Baixa Bretanha e outros povos, somos levados a concluir que eles não têm origem portuguesa.

Por isso, das ideias ai expressas, alguns ensinamentos se devem tirar a respeito dos povos que os transmitiram, – povos civilizados, essencialmente conhecedores da agricultura.

Eis um exemplo da importância das tradições populares, e eu os ofereço àqueles que, com uma teima inepta, não se cansam de atirar zombarias às crenças do povo.

J. Leite de Vasconcelos
in “O Pantheon”, nº13 – 1881 (texto editado e adaptado)

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