Adivinhas populares portuguesas
No estudo das adivinhas populares portuguesas oferecem-se dois factos sobremodo interessantes:
– um é que elas têm fórmulas inicias (e às vezes finais) diversos segundo as localidades;
– outro é que o assunto sai principalmente das coisas domésticas e da lavoura.
Estes factos referem-se portanto à forma e à essências das adivinhas.
Fórmulas iniciais
Da observação de mais de trezentas adivinhas que tenho recolhido, posso concluir que a fórmula inicial = que é, que é = predomina no Minho e Trás-os-Montes.
Também se encontra na Beira Baixa e no limite (Pesqueira) desta província com a Beira Alta. Às vezes aquela fórmula é substituída só por = que é a coisa, etc.
A fórmula = qual é a coisa, qual é ela = domina (se não é única) nos arredores de Lamego e Viseu (Lamego, Mondim, S. Martinho de Mouros, Cinfães, S. Pedro do Sul, Mortágua, Vouzela, etc.).
Possuo adivinhas onde apenas se lê = qual é a coisa (Porto, Feira, Amarante) e possuo outras que começam = qual é ele, qual é ela = (Guimarães, etc.).
Em Paços de Ferreira aparece esta fórmula inicial = adivinhas uma adivinha?=
Fórmulas finais
As fórmulas finais variam igualmente.
Algumas dizem adivinhai, bacharéis (Minho); não adivinhas este ano, nem para o ano que vier, só se t’o eu disser (Porto, etc.).
Adivinha, tolo (Trás-os-Montes), à maneira dos contos populares cujo termo é: adeus ó Vitória, acabou-se a história, etc. (Minho).
Com relação ao segundo facto, o assunto muitas vezes é tirado de outras partes, mas dá-se de quando em quando a coincidência de se ir buscar à lavoura, por ex., o objecto da comparação.
Assim uma adivinha de Tabuaço, na qual se representa o ar, as estrelas, o vento e o sol, diz:
Qual é ela,
Lameiro redondo,
Pastorinhas ao longo,
Cão raivoso,
Pastor formoso?
Quando se estuda o nosso país, nota-se que de província para província há uma variedade nos terrenos, na flora, na linguagem, nos trajos, nos costumes; por isso não admira que as fórmulas das adivinhas ofereçam diferenças locais.
Como os nossos enigmas se encontram ao mesmo tempo na Galiza, Catalunha, Baixa Bretanha e outros povos, somos levados a concluir que eles não têm origem portuguesa.
Por isso, das ideias ai expressas, alguns ensinamentos se devem tirar a respeito dos povos que os transmitiram, – povos civilizados, essencialmente conhecedores da agricultura.
Eis um exemplo da importância das tradições populares, e eu os ofereço àqueles que, com uma teima inepta, não se cansam de atirar zombarias às crenças do povo.
in “O Pantheon”, nº13 – 1881 (texto editado e adaptado)
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