Árvores perto de Cardigos, Mação, em julho de 2019 - REUTERS/Rafael Marchante |
Como criar florestas mais resistentes aos incêndios enquanto se agravam as alterações climáticas? Eis a resposta procurada por cerca de 20 investigadores na zona florestal de Lombada, distrito de Bragança, com a ajuda de modelos computacionais.
Desde outubro e durante 18 meses, uma equipa de cerca de 20 pessoas liderada por David Carvalho, investigador do Centro de Estudos do Ambiente e Mar (CESAM) da Universidade de Aveiro, vai criar vários cenários de gestão florestal que consistem "na aplicação de diferentes espécies vegetais e respetiva distribuição espacial" para "minimizar o potencial de ignição e propagação de fogos florestais". De seguida, estes cenários serão testados para descobrir qual é o mais resistente às chamas, explica o líder do projeto FoRES.
David Carvalho conduz a sua investigação sobre alterações climáticas e modelação atmosférica, entre outros temas. Na sua opinião, os problemas da floresta "vão muito para além dos incêndios" e só podem ser respondidos através da cooperação de "um grande número de pessoas, organizações e setores" que o FoRES não abrange na totalidade. Contudo, no âmbito do projeto, o investigador salienta a importância da valorização do espaço rural.
A Zona de Intervenção Florestal da Lombada inclui 650 hectares distribuídos junto às povoações de Rio de Onor, Aveleda, Deilão, São Julião de Palácios, Quintanilha e Babe. Foi escolhida por responder a vários critérios exigidos pela candidatura às EEA Grants, que financiam o projeto, como figurar entre as Áreas Integradas de Gestão da Paisagem, à Rede Nacional de Áreas Protegidas, à Rede Natura 2000 e ser uma área suscetível à aridez e desertificação.
David Carvalho aponta que a diversificação do uso do solo "associada a um maior leque de atividades (agricultura, silvicultura, pastorícia) pode trazer resultados positivos no que respeita à diminuição do potencial de propagação de incêndios florestais". "Há que tentar encontrar o equilíbrio, porém, entre esse objetivo e a conservação de habitats, sequestro de carbono e conservação do solo, que são também objetivos prioritários", avisa.
Mas o projeto não se limita à preparação para fogos. Também serão analisadas medidas de recuperação dos solos ardidos, para evitar a erosão, desertificação e aridez.
A equipa conta com elementos de várias instituições como a Universidade de Aveiro, o ForestWISE – Laboratório Colaborativo para a Gestão Integrada da Floresta e do Fogo, e o NIBIO, o Instituto Norueguês de Investigação em Bioeconomia. Além do trabalho científico, serão ainda desenvolvidos no terreno workshops científicos e visitas à Lombada para investigar as medidas de recuperação dos solos ardidos.
Uma ajuda preciosa é o sistema de modulação computacional da atmosfera-terra-vegetação-fogo, "que considera e simula toda a atmosfera e as diferentes interações que a atmosfera efetua com outros subsistemas do sistema climático", como o terreno, "e que inclui também um sub-modelo que simula a ignição e propagação de fogos florestais, considerando as condições do terreno em termos de vegetação e condições atmosféricas".
"Se nada se fizer, o setor florestal, bem como os outros diretamente ligados aos ciclos naturais, estão em perigo", lembra David Carvalho. Talvez seja essa uma das razões pela qual "o nosso projeto tem tido uma excelente receção e os objetivos a que nos propomos convergem com aqueles dos próprios agentes locais". Os resultados serão partilhados através de artigos científicos, organização de conferências e workshops e no fim, um relatório.
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