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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 27 de novembro de 2022

O que procurar no Outono: a urze-lusitana

 Também vulgarmente conhecida como urze-de-Portugal, como nos conta Carine Azevedo, esta planta nativa começa a florescer agora por esta altura, alegrando com as suas pequenas flores os dias escuros e cinzentos do inverno.

Foto: Miguel Porto/Flora-On

É no outono que podemos avistar as flores brancas da urze-lusitana (Erica lusitanica), uma das pouco mais de uma dezena de espécies do género Erica que ocorrem em Portugal.

Vamos conhecê-la melhor e descobrir as diferenças para outras espécies deste género. 

Ericaceae 

Segundo a World Flora Online Plant List  a família Ericaceae é composta por 3550 espécies, distribuídas por 150 géneros botânicos.

Em Portugal, esta família está representada por oito géneros e por cerca de três dezenas de espécies, sendo as mais conhecidas a torga (Calluna vulgaris), o rododendro (Rhododendron ponticum subsp baeticum), o medronheiro (Arbutus unedo), a urze-roxa (Erica cinerea), o mirtilo (Vaccinium myrtillus) e a camarinha (Corema album).

A maioria destas espécies ocorre em território continental; no entanto, também podemos encontrar algumas espécies nas regiões autónomas da Madeira e dos Açores, muitas das quais endémicas dessas regiões.

A camarinha (Corema album subsp. azoricum), a queiró (Daboecia azorica), a urze (Erica azorica) e a uva-da-serra (Vaccinium cylindraceum) são exclusivas da Região Autónoma dos Açores.

Quanto à urze-rasteira (Erica maderensis), urze-das-vassouras (Erica platycodon subsp. maderincola) e uva-da-serra (Vaccinium padifolium), ocorrem apenas no Arquipélago da Madeira.

Urze-lusitana

A urze-lusitana, também vulgarmente conhecida como urze-de-Portugal, é uma espécie de porte arbustivo, muito ramificada, que pode crescer até três a quatro metros de altura.

Foto: Ana Júlia Pereira/Flora-On

Os caules são lenhosos, sendo os mais antigos acastanhados, e os mais jovens brancos ou acinzentados, densamente pubescentes, com pelos lisos e simples.

As folhas são persistentes e muito pequenas. Ocorrem em grupos de duas a quatro folhas, em verticilos, sendo o mais comum três folhas por verticilo. São verdes, ereto-patentes, lineares, raramente estreitamente ovadas, e também glabras (sem pelos). Na sua maioria são sésseis (sem pecíolo) ou, por vezes, subsésseis (com pecíolo muito curto). Têm margens inteiras e revolutas, ou seja, enroladas para baixo, sendo difícil de ver a página-inferior.

A floração ocorre maioritariamente no inverno, podendo começar a florir ainda no final do outono e prolongar-se até ao início da primavera (de novembro a março).

As flores são tubulares e numerosas. Ocorrem de forma solitária ou agrupadas em pequenas umbelas de três a quatro flores, na extremidade de ramos laterais muito curtos, que surgem ao longo dos caules.

Foto: Miguel Porto/Flora-On

Cada flor é formada por quatro pétalas fundidas entre si, com quatro lóbulos arredondados nas pontas que formam uma corola tubulosa-campanulada, e por quatro minúsculas sépalas de cor creme ou esbranquiçada, soldadas na base e glabras.

As flores pendem para baixo e são inicialmente de cor rosa-pálido. Tornam-se brancas à medida que “amadurecem” e, eventualmente, acastanhadas à medida que envelhecem. Já o fruto é uma pequena cápsula ovóide e glabra, que aloja inúmeras sementes muito pequenas e elipsoidais. A maturação dos frutos ocorre na primavera e no verão.

A urze-lusitana tem uma esperança de vida de 40 a 50 anos, no máximo.

Da Lusitânia

A designação científica desta espécie é parcialmente comum a outras espécies do mesmo género. O termo Erica deriva do grego Ereíko e significa “charneca”, associado ao habitat característico da vegetação xerófila — terrenos áridos e pedregosos onde é comum encontrar espécies do género Erica. O restritivo específico lusitanica deriva do latim lustianicus-a-um, de Lusitânia, origem geográfica da espécie — a província romana no oeste da Península Ibérica, ocupada atualmente por Portugal.

A urze-lusitana tem uma área de distribuição nativa restrita, compreendida entre o sudoeste da França e a Península Ibérica; no entanto, pode ocupar uma ampla gama de habitats.

Em Portugal, ocorre maioritariamente nas regiões do Centro e Sul do território continental, não havendo registo da sua presença nos arquipélagos da Madeira e dos Açores.

A urze-lusitana ocorre frequentemente em bosques esclerófilos e matorrais, na companhia de outras urzes ou de algumas coníferas (como por exemplo o pinheiro-bravo), ou ainda na orla de sobreirais, e também próxima de cursos de água.

Esta planta tem preferência por locais de sombra ou de meia-sombra, embora também suporte locais com incidência direta de luz solar. Do ponto de vista edáfico, prefere os solos ácidos, bem drenados e frescos.

Geralmente, é uma planta resistente a condições adversas. No verão suporta longos períodos de seca e no inverno tolera temperaturas baixas, compreendidas entre os -5ºC e os 10ºC, e períodos curtos de geada. A ocorrência de incêndios florestais cria condições adequadas para a germinação e desenvolvimento das suas sementes.

Ornamental e melífera

A urze-lusitana é uma planta melífera. As suas flores perfumadas atraem as abelhas e muitos outros insectos polinizadores.

A dispersão das sementes ocorre sobretudo por ação do vento, água e gravidade. Os humanos e alguns outros animais vertebrados podem facilitar a dispersão a longas distâncias, transportando as sementes na roupa e calçado e ainda no pelo e patas dos animais.

É uma espécie muito interessante do ponto de vista ornamental, quer pelo seu aspeto peculiar, folhagem densa e persistente, bem como pela sua profusa e prolongada floração invernal.

Foto: Miguel Porto/Flora-On

A urze-lusitana é uma alternativa ideal para complementar qualquer espaço verde, em particular canteiros de jardins de baixa manutenção, jardins costeiros e jardins de pedra, ou como cobertura de solo, ou ainda para formar cercas vivas. Pode também ser cultivada simplesmente em vasos e floreiras, tanto em terraços como em varandas.

Espécie Pouco Preocupante

A Erica lusitanica foi inserida na Lista Vermelha da IUCN – União Internacional para a Conservação da Natureza, que a classifica globalmente como Pouco Preocupante.

Esta espécie tem sofrido algumas ameaças. Os incêndios florestais recorrentes são a principal causa, seguidos pelas intervenções silvícolas e pela mineração. Todavia, o nível de ameaça global não é muito elevado e, em Portugal, não se encontra protegida por legislação nacional.

Já em Espanha e em França, esta espécie está listada como Vulnerável na Lista Vermelha da Andaluzia (Espanha) e na Lista Vermelha Francesa.

Por outro lado, e apesar de a sua área de distribuição nativa ser restrita a três países, a Erica lusitanica pode ocupar uma ampla gama de habitats. Foi introduzida noutras regiões do mundo, nomeadamente nos Estados Unidos da América (Califórnia e Oregon), Grã-Bretanha, Havaí, Nova Zelândia e Austrália, onde em muitos casos encontrou condições de adaptação que permitiram que se tornasse uma espécie naturalizada. 

Na Califórnia e no Havai, aliás, pela sua rápida proliferação e grande facilidade de estabelecimento de extensas monoculturas, é considerada uma séria ameaça às espécies nativas (potencialmente invasora).

Urze-lusitana vs urze-branca

A urze-lusitana (Erica lusitanica) é muitas vezes confundida com a urze-branca (Erica arborea), sobretudo pelo porte e cor das flores, embora sejam inúmeras as características que as distinguem. Esta última planta é também vulgarmente conhecida como betouro, quiroga, quiróga, torga, urze, urze-molar ou urze-arbórea.

A urze-branca é uma espécie com uma distribuição nativa mais alargada, podendo ocorrer em regiões do Mediterrâneo, Macaronésia, Norte e Leste de África. Em Portugal, a sua distribuição é também mais ampla do que a da urze-lusitana, ocorrendo um pouco por todo o território continental e no Arquipélago da Madeira.

Esta espécie tem preferência por bosques mais abertos, matagais frescos e sombrios e solos mais húmidos. Cresce mais de sete metros de altura e possui uma folhagem de cor verde mais intensa.

Urze-branca. Foto: Miguel Porto/Flora-On

A característica que melhor distingue as duas espécies são as flores. Embora ambas produzam flores brancas, as flores da E. arborea têm uma corola mais pequena e os estigmas são dilatados e em forma de disco. Já na E. lusitanica, a corola é maior e os estigmas são pouco dilatados e em forma de cone.

Urze-lusitana. Foto: Miguel Porto/Flora-On

Além disso, a época de floração também é distinta. A E. lusitanica floresce mais cedo, entre novembro e março, raramente coincidindo com a E. arborea, que tem um período de floração compreendido entre fevereiro e julho.

Agora que já sabe como identificar a urze-branca, só falta mesmo procurá-la. Se a encontrar, registe esse momento e partilhe as suas fotografias com #oqueprocurar #plantasdeportugal #floranativa e #àdescobertadasplantasnativas nas suas redes sociais. 

Dicionário informal do mundo vegetal:

Pubescente – que tem pelos finos e densos.
Persistente – folhagem que se mantém verde, na árvore, ao longo de todo o ano, renovando gradual sem que a árvore fique despida.
Verticilo – nó onde se insere um conjunto de órgão idênticos (ex. ramos, folhas, etc.).
Patente – que se insere segundo um ângulo próximo de 90º.
Séssil – a folha não possui pecíolo (haste de suporte), inserindo-se diretamente no caule.
Subséssil – quase séssil, com pecíolo ou pedicelo muito curto.
Revoluta – folha que mantém as margens ligeiramente enroladas para a página inferior da mesma.
Tubular – flor cuja corola possui um tubo muito alongado.
Umbela – inflorescência em que as flores se agrupam em forma de guarda-sol.
Lóbulo – parte da folha com recorte pouco acentuado.
Corola – conjunto das pétalas (peça floral, geralmente colorida ou branca), que protegem os órgãos reprodutores da planta.
Campanulada – em forma de sino invertido.
Sépala – peça floral, geralmente verde, que forma o cálice e que protege externamente a flor.
Cápsula – fruto seco, com várias sementes, que abre e deixa as sementes cair quando maduro.
Bosque esclerófilo – bosque ou floresta composto por espécies arbóreas e arbustivas providas de folhas rígidas, recobertas por uma cutícula protetora.
Matorral – terreno coberto de mato denso e espesso.

Carine Azevedo

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