Abutre-preto. Foto: Juan Lacruz/Wiki Commons |
A partir de agora, os abutres-pretos podem contar com um total de 13 ninhos artificiais instalados no Parque Natural do Douro Internacional, junto à fronteira com Espanha, incluindo quatro que já existiam e foram reparados. Estas estruturas foram colocadas em cima de zimbros, azinheiras e sobreiros, e espera-se que comecem a dar resultados já no final deste ano, quando se inicia a época de nidificação.
Os novos ninhos foram instalados “entre cinco a dez quilómetros em torno da área da colónia actual, que tem três casais reprodutores”, indica José Pereira, da Palombar. A ONG portuguesa avançou com a instalação dos ninhos em parceria com agentes florestais dos Serviços de Emergência da Comunidad de Madrid e com investigadores da universidade espanhola de Oviedo, no âmbito do projecto LIFE Aegypius return, que está a trabalhar em Portugal e no oeste de Espanha para a recuperação das populações desta espécie ameaçada.
“Foi necessária uma equipa especializada em trabalhos em altura porque na nossa região, os abutres-pretos constroem muitas vezes os ninhos em cima de árvores que estão junto às ravinas”, explica o mesmo responsável. Na área do Douro Internacional, o leito do rio é recortado por falésias de grande altura, onde várias aves aproveitam para nidificar em segurança.
Instalação de um dos ninhos, perto das falésias do Douro. Foto: Palombar |
No caso destes ninhos artificiais, cada um contém um poste de madeira que fica acoplado ao cimo da árvore, encimado por várias lâminas de aço que em conjunto lembram o formato de um cesto de vime. A cobrir essa parte, os membros da equipa colocaram restos de ramos das árvores, pedaços de estevas e agulhas de pinheiro recolhidas ali à volta. E também uma espécie de cama de lã que lembra os aproveitamentos das egagrópilas que estas aves regurgitam e que costumam colocar por cima dos ninhos, para os tornarem mais macios.
Um dos ninhos instalados, com agulhas de pinheiro e restos de lã amarelada colocados por cima. Foto: Palombar |
O objectivo é “tentar simular um ninho natural”, para que mais casais de abutre-preto aqui se venham instalar quando começar a época de nidificação. E já não falta muito tempo, uma vez que é no mês de Dezembro que os abutres-pretos começam a inspecionar os locais dos ninhos – costumam regressar aos mesmos sítios – e fazem as primeiras paradas nupciais.
Das quatro colónias desta espécie classificada com Criticamente em Perigo em Portugal, é no Douro Internacional que reside a mais pequena, que ainda assim tem vindo a aumentar, lembra um comunicado da Palombar. Na última época de reprodução, aqui nidificaram três casais pela primeira dez desde o regresso destes abutres à região, em 2012, embora apenas dois se tenham reproduzido com sucesso.
Além de ajudarem a diversificar o leque de escolhas para novos casais, os ninhos vão também ajudar a que a reprodução seja mais segura, nota José Pereira, que lembra que em 2016 um ninho da espécie teve de ser escorado de urgência para não cair pela ravina abaixo, em direcção do rio.
Um dos ninhos instalados. Foto: Palombar |
Para ajudar ao aumento da população de abutres-pretos na região, está também prevista a libertação de 20 aves desta espécie, provenientes de centros de recuperação de fauna silvestre, nos próximos três anos, até 2027. Com esse objectivo, prevê-se que em breve ali comece a funcionar uma estrutura de aclimatação: “Nesta estrutura de grandes dimensões e com todas as condições de segurança, os indivíduos da espécie recuperados irão passar por um período de readaptação ao meio natural e de habituação à região para que a sua fixação nesta colónia, depois da devolução à natureza, seja facilitada”, descreve o comunicado da Palombar.
Assim, os ninhos artificiais poderão servir para acolher novos casais que ali se estabeleçam, provenientes da nova estrutura, onde as aves permanecem por vários meses, mas não só. José Pereira adianta que no território do Douro Internacional já têm sido observados vários abutres-pretos ainda jovens, que ao atingirem a idade de maturidade sexual – o que sucede normalmente apenas entre os quatro e os seis anos – poderão ser atraídos pelos ninhos.
E para aumentar a probabilidade de ocupação, foi colocada numa árvore próxima uma escultura-réplica de abutre-preto, que também funcionará como um chamariz para atrair novos casais.
Escultura-réplica de abutre-preto, colocada nas imediações dos ninhos. Foto: Palombar |
O projeto LIFE Aegypius return arrancou em Setembro de 2022 e tem como objectivos principais aumentar a população de abutre-preto e melhorar o seu estado de conservação em Portugal. Pretende, num prazo de seis anos (2022-2027), duplicar a população reprodutora da espécie em Portugal, para 80 casais, bem como aumentar as colónias de quatro para cinco.
Este projecto é desenvolvido por um consórcio liderado pela Vulture Conservation Foundation e conta, do lado português, com a Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural, Herdade da Contenda, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), Liga para a Proteção da Natureza (LPN), Associação Transumância e Natureza, GNR e Associação Nacional de Proprietários Rurais, Gestão Cinegética e Biodiversidade. Tem financiamento de 75% do programa LIFE da União Europeia e cofinanciamento da Viridia – Conservation in Action e MAVA – Foundation pour la Nature.
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