Por: Paula Freire
(colaboradora do Memórias...e outras coisas...)
Dei-te o possível.
Dei-te uma memória de estórias
escritas em fios de silêncio.
Todos os poemas que nunca soube contar.
Os dedos do horizonte numa frase inventada.
A paisagem escondida do que sou.
As sombras despidas do que ficaste a saber.
A sensível concha de uma respiração consentida,
inconcebível, tão inteira.
O grito longínquo
perdido nos relógios desarrumados do tempo.
Dei-te o mar
no profundo do olhar,
um porto vencido que não sabia amanhecer.
Um murmúrio
a aguardar pelo corpo do teu nome
na singularidade das palavras por dizer.
As horas, sem fôlego, presas à desordem da vida
e a imagem viva nos estilhaços desfeitos
do rosto e dos espelhos,
dos sonhos sem olhos.
Dei-te a singeleza rubra das rosas
nos reflexos espantados dos sorrisos.
A luz delirante das prodigiosas imaginações.
O primeiro céu caído nos braços lentos da noite
e as galáxias perdidas da terra
no regresso dos desejos
pela pele transparente da lua.
Como um ato de amor,
onde o sentir foi espaço de outras eras.
.
Em vão são as últimas lágrimas.
O coração, sozinho, solta a ausência, baixinho…
Decifra o alfabeto poético de todos os deuses
que nos embalaram o incansável assombro.
Um dia, pó de universo
nascido do único sol onde me perdi.
Dei-te o possível
na lânguida claridade dos maiores impossíveis.
Pelas estradas que naufragam
adormecerei os cansaços do peito
onde, hoje, já não te existo.
E o amanhã nascerá sem lugar,
abandonado,
numa voz oculta de submerso para sempre.
.
@Lázaro Rios
(heterónimo, Paula Freire)
Paula Freire - Natural de Lourenço Marques, Moçambique, reside atualmente em Vila Nova de Gaia, Portugal.
Com formação académica em Psicologia e especialização em Psicoterapia, dedicou vários anos do seu percurso profissional à formação de adultos, nas áreas do Desenvolvimento Pessoal e do Autoconhecimento, bem como à prática de clínica privada.
Filha de gentes e terras alentejanas por parte materna e com o coração em Trás-os-Montes pelo elo matrimonial, desde muito cedo desenvolveu o gosto pela leitura e pela escrita, onde se descobre nas vivências sugeridas pelos olhares daqueles com quem se cruza nos caminhos da vida, e onde se arrisca a descobrir mistérios escondidos e silenciosas confissões. Um manancial de emoções e sentimentos tão humanos, que lhe foram permitindo colaborar em meios de comunicação da imprensa local com publicações de textos, crónicas e poesias.
O desenho foi sempre outra das suas paixões, sendo autora das imagens de capa de duas obras lançadas pela Editora Imagem e Publicações em 2021: Cultura sem Fronteiras (coletânea de literatura e artes) e Nunca é Tarde (poesia).
Prefaciadora do romance Amor Pecador, de Tchiza (Mar Morto Editora, Angola, 2021) e da obra poética Pedaços de Mim, de Reis Silva (Editora Imagem e Publicações, 2021).
Autora do livro de poesia Lírio: Flor-de-Lis (Editora Imagem e Publicações, 2022).
Em setembro de 2022, a convite da Casa da Beira Alta, realizou, na cidade do Porto, uma exposição de fotografia sob o título: "Um Outono no Feminino: de Amor e de Ser Mulher".
Atualmente, é colaboradora regular do blogue "Memórias... e outras coisas..."-Bragança e da Revista Vicejar (Brasil).
Há alguns anos, descobriu-se no seu amor pela arte da fotografia onde, de forma autodidata, aprecia retratar, em particular, a beleza feminina e a dimensão artística dos elementos da natureza, sendo administradora da página de poesia e fotografia, Flor De Lyz.
Tentei comentar, juntar palavras. Como se comenta uma Ode? Não fui capaz.
ResponderEliminarSimplesmente único e belo ❤️
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