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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 26 de novembro de 2023

Uᴍ Iɴᴛᴇʀɪᴏʀ Esqᴜᴇᴄɪᴅᴏ | Oᴘɪɴɪãᴏ

 Um décimo de população abandonou o distrito de Bragança nos últimos dez anos. Esta é a triste realidade de todo o interior na sua maioria.
Este tema deveria consumir grande parte do nosso tempo na busca de soluções de fundo que possam, eficazmente, travar esta sangria da nossa região, em vez de continuarmos a insistir na mesma receita, ano após ano, esperando um resultado diferente.
Por vezes, dá ideia que desconhecemos quais as razões para a persistência deste êxodo social e,  permanecemos irresponsavelmente sentados, impávidos e serenos, como que aguardando que a situação mude, simplesmente, sem qualquer mudança de atitude.
Os tempos passam e vemos repetida a história da década de 60/70, fustigada pela emigração, com a agravante que nem a recente tendência de aumento do numero de imigrantes em território nacional se revelou suficiente para que os números de abandono do país fossem, de certa forma, compensados.
A persistência na adoção de políticas de fixação deficitárias, sem conseguir estabelecer um plano a longo prazo, trouxe-nos aqui.  E será essa mesma falta de visão que nos manterá neste rumo.
Sucessivos governos ignoraram e ignoram de forma flagrante o interior, ao direcionar a maior parte do investimento para os grandes centros, como se o voto de um cidadão de Freixo de Espada à Cinta, de Vila Flor ou de Macedo valesse menos que o de um de Lisboa. E convenhamos, só não vale menos no momento eleitoral, porque após isso volta a ser o cidadão do lugarzito no interior, onde a tal "civilização" tarda a chegar, a carroça continua a ser o veículo de eleição e as pessoas não sabem praticamente ler. É óbvio que aplico um sentido figurado e com recurso ao exagero ao escrever isto, mas penso não ser novidade quando digo que muitos cidadãos da urbe pensam em nós de uma forma retrógrada, mal fundamentada e, permito-me dizer, ignorante.
É um facto inegável que é nos grandes centros que existem os grandes comércios, as grandes empresas e os principais serviços. E o que importa deduzir deste facto é a razão primordial para tal: as pessoas. É a existência delas em grande número, a par da quantidade e qualidade das infraestruturas de comunicação, que tem um peso enorme no processo de decisão de qualquer governo e empresa, no que respeita à localização dos seus serviços.
Por outro lado, é a existência dessas empresas e serviços que mais pesa no processo de decisão das pessoas, quando procuram o local para viver, pois é junto delas que existem as oportunidades.
O destino de qualquer concelho está intimamente ligado às tendências demográficas e estas revelam transformações sociais com repercussões avassaladoras, nomeadamente económicas,  criando limitações à possibilidade de melhores empregos e salários no futuro, devido à contração da população em idade ativa (16 - 65 anos), relativamente à população de idade mais avançada (+65 anos), que entretanto deixa de trabalhar e que eventualmente se tornará socialmente dependente e caminha, a passos largos para a solidão.
Questões como a falta de esperança e condições de vida favoráveis para a população mais jovem contribuem para um consequente decréscimo contínuo da natalidade. E é essencial perceber o que leva a que estas limitações ocorram. 
Somos uma sociedade dependente de uma condição laboral que clara e lamentavelmente interfere com a disponibilidade temporal, financeira e familiar, não só para ter filhos, como para os criar com a garantia que terão pela frente um futuro de qualidade. 
De facto, é sem dúvida positivo que se tenha trilhado o caminho da igualdade de género ao quebrar aquele famigerado tabu que defendia que os principais papeis da mulher seriam o da procriação e criação dos filhos, mas isto levantou outras questões que infelizmente os sucessivos decisores políticos ainda não conseguiram colmatar, como a inevitável necessidade do casal dedicar cada vez mais do seu tempo ao trabalho, deixando pouca margem para acompanhar o processo parental.
Tudo isto não seria um problema se as políticas sociais e de incentivo à natalidade fossem eficazes, bem ao jeito das praticadas noutros países europeus como a Suécia, onde a parentalidade é separada da maternidade, proporcionando apoios fortes aos homens e mulheres que são progenitores de um lado e protegendo de forma inequívoca as mulheres grávidas ou recém-mamãs, do outro. Ou seja, mais do que uma simples política de incentivo à natalidade, naquele país alimenta-se uma política de igualdade, equiparando homens e mulheres também em relação ao mercado de trabalho. 
Bem diferente do modelo Francês, muito semelhante ao adotado em Portugal, que aposta essencialmente em medidas pró-natalistas que consistem essencialmente em dar incentivos positivos às mulheres que têm mais filhos para serem "mães" por mais tempo, obrigando-as a estar afastadas do mercado de trabalho por períodos alongados e continuando a encará-las como reprodutoras, alimentando a insegurança e desigualdade a nível profissional.
A realidade no interior é bem mais agravada, pois para além de haver menos empregos disponíveis, que leva a que o estímulo à fixação seja muito menor, faltam medidas de apoio social e de incentivo à natalidade com a força e eficácia correspondentes à necessidade desta região.
Criar filhos no interior tem inúmeras mais-valias. 
Questões como a segurança, a proximidade da família direta, o custo de vida e a "simplicidade" que caracteriza esta franja da sociedade portuguesa, são fortes boas razões para contribuir para a demografia. 
Mas então porque é que somos cada vez menos? O que impede que as gerações mais recentes se mantenham na terra onde nasceram? E o que impede que essas mesmas gerações se desloquem do litoral para se fixar no interior, optando antes por emigrar? Qual é o ponto comum nestas duas variantes? Haverá mais, mas não tenho dúvida alguma que o mais pertinente se prende com o emprego.
E neste campo, os executivos municipais têm um papel essencial: o da criação de estratégias e modelos que estimulem os diversos intervenientes económicos a apostar não só na vertente produtiva da região, mas também na transformadora, incrementando a economia de valor acrescentado e consequentemente, a necessidade de mão de obra, nomeadamente a qualificada. 
É na união e transformação que reside a capacitação da agricultura e um crescimento sustentável da economia local. E por cá, temos tudo para o fazer, ao invés de continuarmos à espera que um milagre nos traga unidades industriais que necessitam de mão-de-obra qualificada que não temos.
Numa região cada vez mais envelhecida, desertificada e esvaziada de serviços, é essencial criar processos facilitadores e simplificadores do empreendedorismo, de forma a que seja cada vez mais fácil e menos burocrático criar o próprio negócio, ao mesmo tempo que se auxiliam os empreendedores na sua caminhada desde o primeiro momento, seja por via da formação, do auxilio no recurso às linhas de financiamento europeias, no apoio fiscal e jurídico e, cada vez mais, no recurso a financiamentos junto da banca, uma condicionante constrangedora para os jovens que procuram tornar realidade uma ideia, um sonho ou a simples vontade de ser um trabalhador independente, mas não reúnem as condições financeiras necessárias. 
Muito boas ideias de negócio nunca chegam a ver a luz do dia pelo simples facto do empreendedor desconhecer as obrigações legais e fiscais e/ou, simplesmente não ter dinheiro/crédito para o fazer.
Ainda neste tema, caberia também aos executivos municipais, como conhecedores das atividades e do potencial da região que representam, garantir que sejam criadas condições para que as necessidades de mão de obra sejam satisfeitas, apostando nos estímulos à formação nas diversas áreas profissionais dos intervenientes económicos. 
Algo tão simples como abordar as empresas ou instituições e questionar acerca das suas necessidades especificas de mão de obra e, junto de entidades como as associações comerciais, garantir a formação do trabalhador. Muito à semelhança do que fazem as grandes companhias com os seus quadros de pessoal e que o pequeno comercio e/ou empresas não tem capacidade de fazer.
Pequenos passos, mas de enorme relevância no combate à desertificação das regiões do interior, apostando no desenvolvimento do seu sector agrícola, comercial, industrial e social e garantindo às suas populações condições de trabalho e qualidade de vida, tão essenciais.

26 de novembro de 2022
Cláudio Trovisco

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