O papel da mulher no mundo dos caretos e dos mascarados tem sido um assunto polémico nos tempos que correm. Se no passado estas festividades eram reservadas aos homens, agora, as populações começaram a introduzir algumas mudanças nos rituais para os manter vivos, pelo que as mulheres começam a ocupar um lugar de destaque e a participarem ativamente nas tradições.
No caso dos Caretos de Salsas, que participaram no desfile da Bienal Mascararte, manda a tradição que os caretos se juntem e entrem de rompante nas casas a chocalhar as raparigas, onde aproveitam para roubar o fumeiro e fazer umas traquinices, como explica Filipe Caldas. “A nossa tradição é nos Reis. Os caretos de Salsas saem do dia 1 ao dia 5 de Janeiro. Entram em casa das pessoas, chocalham as meninas, roubam o fumeiro e no dia 6 retiram as máscaras e vão fazer o peditório das almas com os mordomos”.
Se em Salsas a vinda das mulheres para estas tradições ainda é recente, no caso dos Caretos de Grijó, já há bastantes ‘caretas, como explica Elisabete Geraldes, presidente da Junta de Freguesia local. “Eles têm uma bota e bebem vinho pela tradicional bota. Eles e elas. Há bastantes caretas já”.
Estando a temática da emancipação feminina no mundo dos mascarados presente na 11ª edição da Mascararte, António Tiza, autor e investigador transmontano explica que até há bem pouco tempo o papel do careto era somente assumido pelos rapazes, mas o panorama tem vindo a alterar-se, sendo o resultado da evolução dos tempos e das tradições. “Isto é o resultado da evolução das tradições. Ao longo do tempo, tempo esse que se traduz em séculos e em milénios, isto evoluiu. O que hoje se faz nas Festas de Inverno não é seguramente o que se fazia há 100 ou 200 anos atrás. Esta mudança e esta assunção do papel por parte da mulher é outro elemento dessa evolução e a mim não me choca nada, antes pelo contrário. A mulher pode também assumir este papel festivo em pé de igualdade com os rapazes”.
Até então, figuras como a Filandorra, a Madame ou a Velha apesar de representarem a mulher, eram também encenadas por homens e rapazes, que caricaturavam a figura feminina. “Estas figuras femininas nas Festas de Inverno quase sempre representaram a fertilidade. Sendo que algumas delas trazem já ao colo um bebé representando. Outras caricaturavam a figuras das mulheres mais velhas”.
Fernanda Silva, vereadora do município de Bragança, explica que a Bienal Mascararte representa a preservação e a divulgação de uma tradição e de uma marca identitária do território que é comum a todo o distrito de Bragança. “Tentamos ligar esta tradição a outras linguagens artísticas, nomeadamente a reinvenção e à recriação com elementos contemporâneos, porque o próprio nome assim o indica”.
A vereadora brigantina considera, ainda, a edição deste ano provocadora relativamente à forma como se devem preservar as tradições e qual é o papel da mulher nesta divulgação e na continuidade destes rituais das Festas de Inverno. “Procuramos também dar aqui uma relevância àquilo que as mulheres têm feito, nomeadamente ao nível do artesanato ligado à confeção da máscaras, mas também à elaboração dos próprios fatos dos caretos”.
Com esta edição da Bienal Mascararte, a Câmara Municipal de Bragança pretendeu também destacar o empreendedorismo cultural e criativo, realçando o papel dos artesãos e de projetos diferenciadores e aglutinadores.
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