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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 5 de junho de 2025

A rã, o escorpião e o sapo

Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)


 Diz uma velha lenda africana que quando um raio pegou fogo à savana, todos os animais se apressaram a atravessar o rio pois a fúria e a velocidade das labaredas levavam, a eito, tudo quanto estivesse naquela margem. Quem sabia nadar tratou de atravessar as refrescantes águas fluviais, com a maior brevidade. Quem não sabia, foi, solidariamente, ajudado por quem tinha essa capacidade e disposição para tal. Sobrou o escorpião em quem ninguém confiava. Vendo-se entalado entre a anunciada morte pelo fogo e o inevitável afogamento se tentasse ultrapassar a corrente pelos seus próprios meios, suplicou à rã que o levasse às costas para se salvarem os dois.
- Deves estar louco! - respondeu-lhe de imediato. - Por que razão haveria de te levar comigo se és sobejamente conhecido por atacar e envenenar todos quantos contigo contactam?
- Assim é, na verdade, porém, desta vez será diferente pois caso te ferrasse, durante a travessia, morrerias e de seguida eu também, afogando-me.
Tal argumento convenceu a rã que se predispôs a levá-lo às cavalitas. Ora, ainda não tinham chegado a meio da viagem e já o batráquio sentia o ferrão a entrar-lhe nos costados.
- Então, que é lá isso? Não vês que ao matar-me, nos perdemos os dois?
- Tens razão, mas que queres? Picar aqueles com quem convivo faz parte da minha natureza. Não sou capaz de o evitar… mesmo que isso implique, igualmente, a minha perdição.
Na política, esta fábula é frequentemente recordada por quem dá a mão a tantos quantos são conhecidos por atraiçoarem, na primeira oportunidade, todos aqueles que os ajudaram e à custa de quem subiram na hierarquia partidária. Como aqui os afogamentos nem sempre se concretizam, é frequente que o mesmo escorpião vá ferrando rã atrás de rã cuidando de saltar para as costas do próximo carregador, quando o anterior estiver a dar o último suspiro.
Não deixa, contudo, de causar alguma estranheza que, sendo públicas e conhecidas as sucessivas picardias de tão abjeto passageiro, ainda haja quem se predisponha a carregá-lo nas revoltosas águas da política regional. Ora, quando é a mesma rã que depois da aguilhada venenosa que por pouco não a atirou completa é definitivamente para o outro lado da vida (política), na oportunidade seguinte oferece, de novo, o dorso ao mesmo conhecido e descarado lacrau, a estupefação é incomensurável! Não é fácil de entender!!
Será que a lábia do artrópode é tanta e de tal grau que, apesar de ser sobejamente conhecido o seu modus operandi e dos inúmeros casos públicos anteriores, conseguiu convencer o batráquio que a picada venenosa recebida, recentemente, lhe foi infligida por outrem, por um inventado aracnídeo, alguma tarântula ignota, estranha e distante que não ele, carregado aos ombros e sobejamente conhecido por ser useiro e vezeiro em enterrar o ferrão, em casos que tais? Haverá, porventura alguma rã tão ingénua que acredite em tal patranha?
… ou será que a prática política, levada a cabo pelos profissionais da caserna, se tenha deteriorado, depreciado e banalizado tanto e de tal forma que a conhecida e vulgar operação de engolir sapos, praticada com regularidade por quem navega nessas águas turvas, tenha atingido um nível tal de insensatez que a deglutição do referido anfíbio contenha como aperitivo, ou sobremesa, a ingestão de um dos mais conhecidos e traiçoeiros lacraus da zona?


José Mário Leite
, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia), A Morte de Germano Trancoso (Romance) e Canto d'Encantos (Contos), tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.

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