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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Tenho saudades do velho Rio Fervença


 O nosso rio não era só um curso de água, era tudo aquilo o que representava para mim e para tantos Bragançanos. Era nas margens do Fervença que se escrevia uma parte importante da nossa vida. O Fervença era o nosso ponto de encontro, o nosso recreio natural, o lugar onde a infância se misturava com a descoberta e onde a juventude ganhava forma entre risos, mergulhos e segredos.

Foi ali que aprendi a nadar, entre correntes suaves e pedras que pareciam conhecer todos os meus passos. No Fervença também aprendi a pescar, sentado horas a fio, com uma paciência quase inocente que só a infância e a juventude permitem. Ao redor, os amigos e as amigas completavam o cenário com conversas sem pressa, brincadeiras improvisadas, desafios que hoje parecem simples, mas que então eram aventuras grandiosas. O rio era o coração de tudo isso. Havia vida, havia frescura, havia um equilíbrio quase perfeito entre natureza e comunidade... e boas merendas.

As margens eram lameiros verdes, aconchegantes, onde estendíamos a toalha e nos deixávamos amorenar pelo sol de verão. O canto dos pássaros misturava-se com o som da água, e os peixes, abundantes, vinham mostrar-nos que aquele era um rio autêntico, saudável, repleto de movimento. É impossível não sentir nostalgia ao recordar aquela pureza, a ausência quase total de poluição, o cheiro de água limpa, a sensação de que tudo ali era genuíno.

Hoje, quando me aproximo do Fervença, encontro um cenário muito diferente. Em grande parte do ano, especialmente no verão, o rio reduz-se a um fio de água cansado, quase imóvel, marcado ainda por descargas diretas de saneamento que lhe tiram a dignidade. O cheiro já não é o de um rio vivo, mas o de um sobrevivente. Os peixes desapareceram, como se tivessem desistido. As margens já não acolhem os jovens como antes, não há lameiros onde possamos estender a toalha ou sentir a frescura da relva nos pés. Falta-lhe vida. Falta-lhe o brilho. Falta-lhe aquilo que fez dele um rio de memórias.

E, no entanto, apesar da tristeza, não perdi a esperança. Acredito verdadeiramente que um dia o Rio Fervença poderá renascer, não como um simples curso de água domesticado, mas como o rio vibrante que marcou gerações. Há potencial, há vontade de muitos e há exemplos, pelo país fora, de rios devolvidos às cidades, recuperados, revitalizados. Porque não em Bragança? Porque não o Fervença?

Sonho com o dia em que o rio volte a correr limpo, em que as crianças possam brincar nas margens sem receio, em que os peixes, escalos e bogas regressem, devolvendo movimento e equilíbrio ao ecossistema. Sonho com margens recuperadas, com espaços verdes vivos, com um rio integrado no quotidiano da cidade, como merece estar. Sonho com o murmúrio da água a acompanhar os nossos passeios, com o reencontro entre Bragança e o seu próprio rio, um reencontro tardio, mas possível.

Tenho esperança. Uma esperança teimosa, mas firme, de que o Fervença voltará a ser aquilo que um dia foi… parte de nós, parte da nossa história e parte do futuro que desejamos para a nossa terra.

HM

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