“Anquanto la Lhéngua fur Cantada este povo não se morre” é o nome do documentário realizado por João Botelho em terras de Miranda do Douro.
Depois do “Reino Maravilhoso” de Miguel Torga e a região do Barroso, o documentário do planalto mirandês vem encerrar a triologia encomendada pela Direcção Regional de Cultura do Norte ao cineasta. João Botelho passou a juventude no concelho de Vila Real onde conviveu com o povo transmontano. Foi no baú das memórias de criança que encontrou a inspiração para este documentário. “Tinha memória em criança de um casal que andava de terra em terra: uma mulher com uma voz esganiçada e um homem que tocava um realejo. Vendiam romances escritos em folhas de papel”, recorda. E acrescenta: “Lembrei-me de levar uma cantora/actriz que é a Catarina Wallenstein e juntei-lhe o animal mais bonito mais que existe em Portugal que é o burro mirandês. É uma imagem bíblica, se quiserem, aquela ideia da fuga para o Egipto, neste caso é a chegada a uma terra muito boa”, revela entre risos. Catarina Wallenstein é acompanhada por Gabriel Gomes que leva consigo o acordeão e compõe alguns dos temas em mirandês. Os restantes foram mantidos tal como foram recolhidos da tradição mirandesa. João Botelho afirma que desde cedo valoriza a “riqueza musical daquele povo e daquela língua”. “As verdadeiras cantoras de Miranda, o Grupo de Cantares das Almas de Sendim, são a coisa mais bonita que eu ouvi na vida, aquela polifonia, dez frases que demoram sete minutos a ser cantadas, sobrepostas umas às outras com vozes extraordinárias “, declarou à Brigantia.
O Grupo de Cantares das Almas de Sendim participa também no documentário, juntando-se ao Grupo de Pauliteiros de Miranda e os Galandum Galundaina. O filme tem a duração de 50 minutos. Demorou uma semana a gravar e foi apresentado no passado dia 5, no Auditório Municipal de Miranda do Douro. O documentário serve também para homenagear Amadeu Ferreira, presidente da Associaçon de Lhéngua Mirandesa “porque ele é o maior sábio mirandês”, referiu João Botelho. Na apresentação oficial esteve Francisco José Viegas, Secretário de Estado da Cultura.
Escrito por Brigantia (CIR)
in:brigantia.pt
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