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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 13 de março de 2012

«O mundo precisa de uma revolução» - Gérald Bloncourt, fotógrafo da emigração portuguesa

Nos anos 50 do século XX, Gérald Bloncourt tornou-se, em Paris, o fotógrafo dos emigrantes portugueses. Na época, saiu de França e viajou até Portugal para conhecer a realidade dos que partiam. Hoje, com um olhar atento sobre a actualidade mundial, Bloncourt continua, tal como há seis décadas, a defender as «revoluções».
Tem 85 anos e mantém o olhar comprometido com que enquadrou as mais de 200 mil fotografias arquivadas no seu escritório, em Paris: operários, emigrantes, pobres, bairros de lata, greves, miséria, preto e branco. «Denunciava toda a exploração, de todos os operários, de todas as mulheres, de todos os homens», conta.

Gérald Bloncourt é fotógrafo, poeta e pintor. Nasceu no Haiti. Depressa abraçou a arte e a revolução. Nunca mais largou nenhuma das duas. Em 1946 juntou-se à revolta de estudantes e jovens intelectuais que empurrou o Presidente Elie Lescot do poder. Um golpe militar expulsou-o para França. Aqui encontrou a fotografia.
Publicou sempre em jornais de esquerda, em vários títulos da imprensa francesa. Encontrou os portugueses por acaso, eram os anos de 1950.
«Encontrei na Torre Montparnasse, que estava a fotografar andar por andar, operários portugueses. Simpatizei com eles porque senti sempre muita amizade por Portugal. Quando era miúdo li sobre os grandes descobridores, fascinavam-me. Não percebia como é que aquelas pessoas, que tinham descoberto mundo, podiam viver debaixo de uma ditadura feroz», disse.
Bloncourt quis saber onde viviam: «Explicaram-me, deram-me moradas, bairro clandestino - bidonville - de Champigny», conta. Depressa passou a ser cara conhecida e a poder fotografar toda a gente.
«Depois de fazer diversas fotografias pensei: mas se vivem aqui nesta miséria, como será que é a vida em Portugal? E fui. Vi os bairros de Lisboa, fiz todos os percursos da emigração e descobri a realidade de Portugal e a polícia política, um terror», recordou.
Ficou agarrado à história. Voltou diversas vezes, atravessou os Pirenéus a pé com quem vinha a salto, voltou a Portugal no ano de 1974, depois da Revolução, no mesmo avião em que regressou Álvaro Cunhal. «Vivi, por mero acaso, a vida da emigração portuguesa», diz.
Há dois anos a história mandou-lhe um email. A célebre portuguesinha do bidonville, a menina de cinco ou seis anos, suja, de boneca na mão, no meio da lama do bairro de lata, escreveu-lhe. Gérald desconfiou mas confirmou. Era ela: «A fotografia foi publicada inúmeras vezes, foi o cartaz da exposição em Lisboa, em 2008. Hoje falamos ao telefone às vezes. Ela é parte da família», diz.
À distância de meio século, Bloncourt diz não ter dúvidas de que a França, «uma potência imperialista e colonialista, tratou mal todos os imigrantes». Os portugueses não foram excepção: «Eles até estavam mais fragilizados porque vinham a fugir a uma ditadura e à miséria. Não tinham alternativa. Calavam a boca. Foram sobre-explorados, claro. Mas foram ajudados pelos trabalhadores franceses. É preciso não confundir a França com o povo francês», acrescentou.
Olhando para hoje, o fotógrafo considera que não há retratos novos nesta nova crise, diz que os rostos são os mesmos: é ainda, sustenta, a mesma luta de classes e será assim «enquanto existir o regime capitalista».
«A única forma de isto mudar é repensar o mundo e viver de outra forma. E a isso chama-se revolução. Não é comunismo, é bater-se pelos direitos dos outros», defendeu.
Gérald Bonclourt vai receber no dia 23 de Março a medalha de Cavaleiro da Ordem das Artes e Letras, atribuída pela câmara do 11.º bairro de Paris.
Café Portuga/Lusa; foto - Gérald Bloncourt

1 comentário:

  1. Muito obrigado por nos dar a conhecer este fotógrafo da nossa emigração.
    A realidade que viveu no terreno deu-lhe a consciência e a visão de um mundo dividido que lhe despertor a sensibilidade para a mudança.

    Tal como diz é necessária uma revolução!!!!, nos tempos que vivemos.

    Eu diria uma mudança de paradigma, de aitudes, de comportamentos!!!!!.

    O tempo urge, amanhã estaremos nas mãos de algum aprendiz de feitiçeiro....

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