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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Quem não trabalhar as terras vai ficar sem elas


Escrevo esta crónica antes de bater a meia noite do ano velho.  
Ao contrário do que seria meu desejo venho dar uma péssima notícia aos meus fiéis leitores. Sobretudo aos emigrantes que não ouvem rádios, não vêem televisão, nem lêem Jornais diários. 
O governo já havia anunciado que iria tomar conta das terras abandonadas. Na altura em que ouvi a ministra da Agricultura pensei que fosse uma peta do1º de Abril. Infelizmente essa peta já foi transformada em lei,  (62/20065) já foi promulgada no DR nº 238 – 1ª série em 10 de dezembro e até já entrou em vigor, 10 dias depois de promulgada.
A opinião pública vive anestesiada pelo medo da crise que bateu no fundo em meados de 2011 que provocou eleições antecipadas e que o actual governo, com o pretexto de pagar os calotes herdados, está a levar tudo à sua frente como o tsunami mais destruidor das últimas décadas.
Em síntese, a famigerada Lei permite ao Estado vender as terras abandonadas, ao fim de 15 anos. Ou seja: os malefícios da adesão à União Europeia, camuflados de tires e de carruagens cheias de euros, que foram parar aos bolsos dos tubarões, logo se sentiram nos primeiros tempos. Portugal tinha vocação agrícola e marítima. 
Durante séculos vivemos daquilo que a terra e o mar davam. Nunca fomos um país industrializado. Mas sempre tivemos terra e mar para produzir aquilo que se come e se bebe: produtos dos melhores do mercado, gado caprino e bovino, frangos, coelhos e perus; peixe de todas as qualidades. Havendo braços humanos, ousadia e persistência não havia fome, nem sede. Um país abundante em águas naturais e medicinais; rios em número e qualidade, praias desde Caminha a Vila Real de Santo António. Portos de mar para cruzeiros e para a pesca.
Um país de clima temperado. Liberto de tufões e de ciclones que ao oriente e ao ocidente  tantos danos têm causado. Um solo que dá tudo aquilo de que o homem se alimenta: vinhos dos melhores, fruta de variadas qualidades e exigências comerciais. Tubérculos como a batata, o nabo, a cenoura, a cebola, os legumes, o limão. O arroz, o centeio, o trigo, o milho. Que outros países se conhecem que tenham mais e melhor do que Portugal?
Dos rios se fez luz a jorros, com barragens como as do sistema Cávado- Rabagão; a do Picote, Bemposta, Carrapatelo, Picote, Castelo de Bode, dezenas delas que deram para abastecer o país e para enriquecer alguns políticos que vivem hoje, como nababos, desde a Ibéria à China.
Quando os países europeus começaram a reerguer-se após a II guerra mundial, Portugal isolara-se no seu cantinho, quase obrigado pela ligação ao Império Afro-Asiático. Não soubera libertar-se dessa junção umbilical, o que levou ao genocídio dos mais válidos e generosos braços humanos. Nove mil tombaram no campo de batalha. Quase um milhão serviu de troféu para justificar essa carnificina. Regressaram, mais mortos do que vivos e, após uma traição cobarde e vergonhosa daqueles que os comandaram, apoiados nos  barbaramente traídos e caluniados. 
Ainda hoje essa insídia social, prolongada com o drama dos «retornados» que sofreram idêntico holocausto, não foi reparada, sobretudo pelos falsos salvadores da «pátria» que, graças à influência de que dispunha no regime que combatiam, nem foram à guerra, nem emigraram, antes usufruíram dos sortilégios que «construíram», empoleirando-se em títulos, canudos e profissões que contrastam com a dos emigrantes que, com sacrifícios supremos, alimentaram o país com o dinheiro das suas remessas.
Emigrantes, combatentes e «retornados» foram os bodes expiatórios da sociedade que se criou dessa mescla de anfíbios que saltaram para a ribalta e que conduziram o país ao descalabro, já por três vezes repetido. Foram-se as barras de ouro, os quartéis, casas solarengas, empresas públicas, a REN, vai a Ana e irá a TAP.  Nada mais havendo a hipotecar chega, pelas mãos da direita que nem assim agrada à esquerda, a lei «assassina» que nenhum político contestou e que a imprensa encobriu. «Aplica-se aos prédios rústicos e mistos e aos baldios».
Com esses terrenos que herdámos, que comprámos mas que não podemos trabalhar, cria-se uma «bolsa de terras» que vai ser gerida por «uma entidade gestora», certamente constituída  por uns quantos correlegionários de qualquer partido que esteja no governo. Essa entidade «é competente para celebrar, em nome do Estado, contratos que tenham por objecto a cedência a terceiros de prédios disponibilizados na bolsa de terras». Entram nessa «bolsa de terras sem dono conhecido ou sendo conhecido não estejam a ser utilizadas para fins agrícolas, florestais ou silvopastoris».
Dura lex, sed lex: a lei é dura, mas é lei. Não deixa, contudo, de ser uma lei injusta, inoportuna e iníqua.  Os pastores de Trás-os-Montes, das Beiras, do Alentejo, vão ter dificuldades em alimentar as suas rezes. Os naturais dessas regiões deixarão de roçar mato, lenha ou outros bens nos baldios que são pertença dessas comunidades, ditas aldeias, povoações ou freguesias. E quem emigrou e desde há quinze anos pelo menos, não tenha utilizado esses prédios (herdados, comprados ou oferecidos), ipso facto, vai ser confrontado com resistências burocráticas, com coimas, com procedimentos que só quem dali é, sabe quão doloroso vai ser, para medir a gravidade da sua aplicação. Oxalá me engane!

Por: Barroso da Fonte
in:jornal.netbila.net

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