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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Bragança - Tradição, contos e sabores num museu dedicado ao Porco Bísaro


O porco bísaro, proveniente de terras transmontanas, é sustento da casa Fernandes há três gerações. Da criação do porco à transformação, a iniciativa chega agora ao turismo. No Museu do Bísaro, um espaço virtual, é possível explorar a ligação deste animal ao Homem e ao território. Fá-lo em diversas dimensões, das tradições, aos contos e usos culinários.
Na paisagem serrana das terras transmontanas alimenta-se o porco bísaro, animal de bom porte, dorso malhado de branco e preto. Uma espécie que terá chegado a estas terras nortenhas, em tempos recuados, pela mão do povo Celta, no século VI a.C..
Uma ligação ao território e às gentes que sucessivamente nele habitaram que explica o protagonismo desde porco no campo alimentar (onde para além dos enchidos, presta-se a excelentes sopas, arrozes, bolas e folares), mas também no imaginário local, nas lendas, provérbios, na medicina popular e inclusivamente nos jogos.
Esta relação de proximidade, entre homem, animal e território, está patente desde há um ano no Museu do Bísaro. Trata-se de uma mostra virtual que proporciona uma viagem pelo mundo do porco, navegando por conteúdos diversos e imagens. Entretanto, a iniciativa privada ganhou corpo e materializou-se num espaço físico em Gimonde, Bragança.
Iniciativas que contam com o empenho da família Fernandes há muito ligada à criação do bísaro. «Os meus pais tinham uma mercearia onde comercializavam produtos regionais e também tinham a exploração agro-pecuária. Com o tempo dedicaram-se à confecção de enchidos», explica Alberto Fernandes, um dos responsáveis pelo Museu do Bísaro.
Um saber que foi sendo transmitido dentro da família. Hoje, a terceira geração alia à criação do animal e aos produtos obtidos a partir deste, uma outra componente, a turística. A família Fernandes faz a divulgação do bísaro numa quinta, onde é possível observar os animais no seu habitat. Uma mostra que se completa com artefactos associados à criação deste animal, assim como uma componente ligada à degustação e venda de produtos provenientes do bísaro. «No futuro, pensamos ter uma sala multimédia», acrescenta Fernando.
Para já, no Museu do Bísaro, o visitante pode conhecer muitas tradições associadas ao animal. Uma delas é a matança. Sobre este momento de festa nas zonas rurais do país, escreveu Rebelo Bettencourt, no «Em Louvor do Vinho de Cheiro»: «…Fui à matança dum porco…/ Foi uma festa de estalo!/ Se os torresmos eram bons/ O Vinhão era um regalo/ Que direis do sarrabulho/ Temperado com pimenta?/- Não tenho medo ao diabo/ O petisco é que me tenta!...».
Para além da matança, o Museu do Bísaro destaca aspectos etnográficos associados ao porco, presente em jogos, lendas, provérbios e crenças. O povo inspirou-se muitas vezes neste animal para construir provérbios e ditos: «Boa carne é a da perdiz. Mas se o porco avoasse. Não havia carne que lhe chegasse».
No Entrudo, o porco tem também grande destaque. O Museu do Bísaro explica que «segundo Ernesto Veiga de Oliveira, em Festividades Cíclicas em Portugal, o prato de ocasião [do Entrudo] é a orelheira de porco, come-se também, na mesma altura, focinho, rabo e pé de porco, presunto toucinho e salpicão, e ainda, se o há sarrabulho».
Um porco que também «visita» muitas brincadeiras. Exemplo desta dimensão lúdica é o «jogo da porca»: «Abre-se no chão uma cova na qual um rapaz chamado porqueiro, deita uma bola de madeira que representa a porca. Em volta, à distância de três ou quatro metros, cada um dos jogadores faz uma cova mais pequena a que dão o nome de “chôna” para a distinguir da outra denominada “curro”. O porqueiro atira a porca ao ar, gritando: “lá vai, lá vai baleira, quem a quer, quem a cheira!”. Os outros munidos de varapaus procuram a todo o transe levar a porca para longe enquanto o porqueiro se esforça por metê-la no curro, tendo o cuidado de ver se pode apanhar alguma chôna vaga, o que, se fizer, deixa o dono porqueiro. Se qualquer porqueiro abandonar o jogo, devido ao cansaço, é castigado com o bata-cú. Colocam os paus em cruz sobre o curro e, fazendo-o assentar, procuram enterrá-lo nele».

Sara Pelicano; fotos - Museu do Bísaro
incafeportugal.net

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