Sem dúvida, a concluir pelos números apresentados nas estatísticas oficiais, nos Livros de Registos de Passaportes e pela informação colhida nos periódicos regionalistas do distrito de Bragança, nas duas primeiras décadas do século XX, especialmente no pico do fluxo emigratório: 1911, 1912, 1913, a análise dos pólos de atracção geográfica dos emigrantes deixa transparecer uma preferência indiscutível pelos destinos intercontinentais (gráfico n.º 1), mais concretamente os transoceânicos, privilegiando o continente americano.
Vejamos os valores absolutos e percentuais dos emigrantes, que o quadro n.º 2 nos transmite: os 48 160 emigrantes são distribuídos da seguinte forma: América 47 133 (97,87%); África 564 (1,17%); Europa 287 (0,60%); Oceânia (Ilhas de Sandwiche/Hawai) 159 (0,33%); Ásia (Índia Inglesa, Polinésia – serviços militares) 17 (0,04%).
AAmérica é o continente que sobressai. Os restantes continentes apresentaram valores que não atingiram os 2%.
Todos os anos apresentam registos de emigrantes. Apenas os anos de 1901, 1902, 1903, 1906, 1915, 1917 e 1918 não atingem valores iguais ou superiores a 1 000 emigrantes. O ano mais representativo é o de 1912 com 11 502, (99,74% dos 11 532 emigrantes desse ano). Entre 1907 e 1914 registam-se os valores mais elevados. Curioso referir que para o ano de 1914, emigraram para a América 1 411 indivíduos, correspondente a 100% dos emigrantes desse ano. Os anos de 1908, 1909, 1912, 1913 e 1915 ultrapassam valores percentuais de 99%.
Os Livros de Registos de Passaportes apresentam muitas vezes a designação “América” sem especificar países. Os E.U.A. confundem-se com a designação América do Norte. E o Brasil também aparece designado como Estados Unidos do Brasil.
A América do Norte concentrou 1 569 emigrantes, 3% dos emigrantes do Distrito de Bragança, entre 1901-1920. Os E.U.A. apresentam-se como um país atractivo, junto da população emigrante, especialmente pelas ofertas de trabalho remunerado. No entanto, as políticas de recepção de emigrantes, pautaram-se por restrições quantitativas e qualitativas. O desenvolvimento deste país passava pela selecção de mão-de-obra válida, saudável, alfabetizada, pondo de parte velhos, doentes ou portadores de condutas moralmente contestadas. Empregar e albergar esta mão-de-obra emigrante implicava custos que os governos pretendiam minimizar.
A América do Sul aparece-nos subdividida nas estatísticas oficiais entre “outros países da América do Sul” e “Brasil” e reúne, nestes dois espaços, um contingente de 45 564 indivíduos, respectivamente, 493 e 45 071 emigrantes.
O peso, em termos absolutos e percentuais, exercido pelo Brasil, depreende-se logo à partida. Destacam-se ainda países como o Chile, Uruguai (Montevideu), Panamá e Argentina (Buenos Aires). O fluxo, para estes países, passava pelas ligações via Brasil.
Para a Argentina, regista-se maior incidência entre os anos de 1907 a 1919.
Associava-se a um país jovem, com capacidade de absorção da população, com recursos naturais e mercado de trabalho propício, principalmente no sector agrícola, mas onde se efectuava o controlo dos clandestinos. O Chile é também um país que só é referido para os anos de 1909 e 1910, onde atraíam as actividades agrícolas vinícolas que os emigrantes transmontanos conheciam. Outros países como o Uruguai, são referidos para os anos de 1907, 1911, 1912 e 1916 e o Panamá é mencionado em 1909.
O continente africano – mais concretamente as zonas sobre as quais incidia a colonização portuguesa: Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, associadas ao Zaire e Congo – revelou-se um destino competitivo e propagandeado, mas ignorado pela massa populacional emigrante, já que África simbolizava aventura e a necessidade de construir e dinamizar a partir do “nada”; a este destino associavam-se ainda políticas e projectos de fomento colonial pouco atractivos, um clima rigoroso e um estatuto de “colono” que não
agradava a quem via na emigração um sinal de rápida prosperidade económica.
Esta emigração “organizada”, “orientada” e de tipo “colonial”, promovida pelos governos, não se viu traduzida em contingentes numéricos significativos, entre 1901-1920. Para aqui não convergiram as ambições que os governos pretendiam reflectir nos habitantes.
A Europa redescobriu-se a partir de 1916 e marcou posição após o confronto bélico de 1914-1918. A inversão do quadro geográfico revelou a faceta intercontinental do fenómeno emigratório regional, atendendo à urgência da reconstrução das economias, do reerguer dos espaços urbanos e redinamização das explorações mineiras e agrícolas. O país de maior incidência emigratória, neste período, foi a França, seguida da Alemanha, Bélgica e Espanha. A 1.ª Grande Guerra travou, pela insegurança que transmitia, a saída de contingentes emigrantes para a América, mas dinamizou, imediatamente, a mobilidade destes indivíduos para o novo pólo geográfico, focalizando na Europa as suas atenções.
Neste cenário, as possibilidades de trabalho remunerado estavam bem mais perto e ao alcance de um maior número de braços, disponibilizados pela crise brasileira e pelo apertado filtro dos E.U.A.
Maria da Graça Lopes Fernandes Martins
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