Produtores preocupados com escoamento da castanha. Armazenistas argumentam que preço voltou níveis normais
Perante as críticas dos agricultores, relativamente à descida de preço, os empresários do sector da castanha defendem que, este ano, o preço regressou a valores normais, e que só desta forma se pode enfrentar a ameaça que constitui a castanha chinesa.
O armazenista Alcino Nunes sustenta que “a castanha este ano não está barata”.
“Vieram para preços normais, nos anos anteriores estava fora do normal e eram preços muito perigosos para a agricultura e para o país, porque abrimos as portas à China”, frisa. O empresário argumenta que a concorrência de preços mais baixos do país que é o maior produtor mundial das castanhas poderia pôr em causa o negócio na Europa.
O empresário sedeado em Bragança refere mesmo que “se perdeu mercado e quantidades de venda por culpa de o ano passado estar tão cara”.
Vasco Veiga, proprietário da Sortegel, garante que não está a comprar menos castanha. “Este ano, até agora, já comprámos a mesma quantidade que durante o ano passado inteiro”, cerca de 8 mil toneladas. Mas admite que, neste momento, estão a fazer uma retracção na compra, porque a castanha “não se está a conservar, está muito bichada”. “Quando vender a que tenho, volto para as compras”, assegura, referindo que não tem capacidade de frio para conservar o produto, estando mesmo a alugar uma infraestrutura de conservação na Guarda para armazenar castanhas, até que o mercado internacional, que representa grande parte das transacções da empresa, volte a ter capacidade de absorção.
“O mercado de fresco está bloqueado e no congelado, a indústria também não está a comprar, por causa da entrada de castanha chinesa no mercado francês. O preço da castanha estava tão alta nos últimos anos que entrou castanha chinesa que substitui a nossa na indústria”, defende Vasco Veiga.
António Reis, o mais recente comerciante de castanha em Bragança, adianta que outro motivo para a diminuição do preço é o facto de haver mais produção “não só em Portugal como em outros países”. Considera também que nos últimos anos houve excessos que eram perigosos para o sector e criavam preços muito elevados para o consumidor final.
Produtores preocupados com escoamento
Há muitos produtores de castanha no concelho de Bragança que ainda não conseguiram vender o seu produto. Para além da diminuição do preço, e finalizada a colheita, o atraso dos compradores, que normalmente levam a castanha para as empresas que a transformam e exportam, está a preocupar os produtores.
Em Donai, os habituais compradores quase não foram vistos este ano. O preço oferecido por quilo da castanha ronda 1 euro, podendo chegar a apenas 80 cêntimos. Uma grande descida em relação ao ano passado, quando chegou a ser era vendida a 2,80 euros. Mas em alguns casos os intermediários só são esperados dentro de alguns dias.
“Falei com a pessoa que costuma comprar a minha castanha todos os anos, que me disse para aguardar mais uns dias”, refere Matilde Vara, que diz ter “medo que a castanha não saia do armazém. É um prejuízo muito grande”.
Maria Luzia Rocha conta que normalmente vendia alguma no princípio da apanha. “Mas este ano ainda não consegui vender nenhumas, nem no princípio nem até agora. Os compradores raramente se vêem por aqui. Noutros anos, costumavam vir mais amiúde”. Tem, no entanto, confiança de que conseguirá vender as mais de duas toneladas de castanha que tem no armazém. A que preço não sabe, mas já ficaria satisfeita se fosse escoada a 1 euro.
Por Oleiros, já passaram alguns compradores. Mas ainda resiste a preocupação de que muitas castanhas fiquem nos armazéns e a qualidade possa mesmo degradar-se.
“Vendi as primeiras a 1,2 e outras a 1,3 euros. Agora andam a um euro, mas se descer temos de as vender, não podemos ficar com a castanha muito tempo, se não estraga-se”, frisa Marcolino Pires, que tem este ano uma colheita de cerca de 10 a 11 mil quilos.
Julieta Ramos salienta que a “o preço está muito baixo e a procura tem sido pouca. A castanha está a um euro, o meu marido vendeu 11 toneladas a um euro, mas a restante não será assim, porque já há boatos de que será paga a 80 cêntimos ”.
A habitante de Oleiros não percebe, por que motivo a descida foi tão acentuada, já que, afirma, “ninguém dá explicações nenhuma, mas aquilo que se vai entendendo é que se juntaram os compradores e puseram um preço único”.
Em Espinhosela, a passagem dos intermediários ainda não aconteceu.
Os produtores como Luís Afonso pedem regulamentação da venda do produto para acabar com a oscilação de preço e a incerteza no escoamento.
“O estado devia tabelar para nós e para o revendedor, uma regularização”, e não se conforma com o facto de este ano ser paga a um preço inferior, questionando se “será que vamos ver a castanha congelada ou assada mais barata? Não é. Alguém enche a barriguinha à nossa custa”.
Em Espinhosela parece haver um entendimento entre os produtores de não vender a castanha ao preço de 1 euro. “É preferível alimentar uns javalis e doá-los a instituições de caridade”, refere em jeito de brincadeira Luís Afonso.
A castanha está este ano a ficar nos armazéns, o que deixa os produtores preocupados.
Por: Olga Telo Cordeiro
in:jornalnordeste.com
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