Ainda chegou a fazer o exame da 4ª classe, a “cavalo num burrinho” até Freixo de Espada à Cinta. Não estudou mais. Fornos era uma aldeia pobre e só alguns tinham possibilidade de voar mais alto. Aos 7 anos já tratava de uma pequena horta e a luta dos dias era essencialmente para não passar fome. A sua mãe, “que Deus tem”, nunca deixou que acontecesse. Quando regressava do trabalho a ceia estava sempre pronta. “A ceia era umas batatas cozidas, porque eu gostava muito de batatas cozidas, um bocadinho de chouriça ou um bocadinho de bacalhau, ou umas sardinhas ou um daqueles chicharros, pronto e passávamos assim”.
Aos 79 anos António Paulo já só conta das dificuldades. Ultrapassou-as há muito tempo, mas com muito trabalho. “Estive três anos na Alemanha, arranjei lá dinheiro, poupei muito, trabalhei muito, cheguei a trabalhar 18 horas por dia”. Nesse tempo a ânsia por uma vida mais desafogada obrigou-o a desenrrascar-se. Para isso dormia onde fosse preciso e comia o que calhava.
A família haveria de falar mais alto. Numas férias, António Paulo veio a Portugal, e já não regressaria à Alemanha. Mais que tudo, tinha quatro filhos que precisavam dele. Foi ficando e regressou ao seu antigo trabalho. Ferroviário por mais de 30 anos, na antiga estação de Freixo de Espada à Cinta. Com o tempo as viagens eram cada vez menos, já só vinha um comboio de mercadorias e a estação acabou por fechar.
As viagens de António Paulo também já vão sendo curtas. Vive no Lar em Lagoaça. Deixou a sua casa pois já não estava capaz de cuidar de si, sem ajuda, diz. Mas lúcido, afirma que não é só “história”, o tempo em que se criou. “Era a realidade”. Longe dos “senhores do dinheiro”, António foi vivendo, ainda que pouco desafogado. Viveu sobretudo do seu trabalho à espera dos dias melhores, para si e para os seus.
Gabinete de Comunicação da CM de Freixo de Espada à Cinta
Joana Vargas
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