Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Dizeres e Ditos na Carta Gastronómica de Bragança

Maria Assunção Gonçalves
Sr.ª Dona Maria Assunção Gonçalves, 83 anos, vive em Carragosa.
Antes vivia-se mal, mas cheios de alegria, reunia-se a família, contavam-se histórias e riam-se. Faziam muitas partidas, um dia tiraram o sino da capela, noutro puseram o carneiro do pastor na ribeira. Aquele pastor tinha uma ou duas cabras, mugia-as para uma caldeirinha de cobre e bebia o leite, comia pão e toucinho.
O toucinho mandava na nossa alimentação, se o toucinho era fininho significava que o porco não estava bom.
No tempo do meu Pai, colhiam quarenta almudes de vinho, pouco graduado, as vinhas davam muita despesa e pouco lucro, desistiram de produzir.
Porque a Mãe era muito doente principiou a trabalhar desde pequena, aos dez anos amassava, a merenda era de centeio e toucinho, isto os remediados, os pobres coitadinhos. Havia muita pobreza, mas muita caridade. Mel e vinho quente usavam-se na cura de constipações, as amígdalas curavam-se colocando um folha nogueira quente na garganta. Se pusermos uma folha de nogueira num cozido, este fica escuro. Comiam-se nozes com pão e aguardente no mata-bicho. O Pai gosta de a beber pela manhã, a Mãe levava-a para a cama e bochechava-a.
Adquiria as panelas troco de batatas e feijões, agulhas, alfinetes e peneiras a troco de um cesto de batatas.
Tratavam-se os doentes com caldinhos de galinha e sopas de trigo. Coziam-se ratinhos para dar aos meninos no fito de deixarem de fazer xixi na cama. Filhós e presuntos nunca são muitos, ensinaram-lhe As trutas vindas do Baceiro eram comer de luxo, as bogas e os barbos vinham de uma ribeira de Vale de Lamas, comiam-se em molho de escabeche.
Nas segadas, de manhã comia-se pão com nozes ou queijo, às 10 horas levava-se já o jantar (almoço) para a terra, constava de: sopas da segada e bacalhau cozido com batatas. Chamavam ama (patroa) à pessoa que pagava o bacalhau. A comida ia nos alforges da burra e a sopa na mão. Entre o jantar e a ceia comia-se o taco. À ceia comia-se carne refogada, pernil cozido, castanhas cozidas e caldo verde. As castanhas conservavam-se numa panela de barro preto, coberta com terra e erva.
Nas malhas de manhã era café com leite, chocolate e bacalhau frito, ao meio-dia cuscos com chouriço de mel, ao jantar carneiro refogado com batatas, à merenda sopas de vinho doce servidas nas terrinas, arroz-doce e filhós, à ceia carneiro estufado com batatas.
No Natal rabas, bacalhau e um polveiro seco. Para matar os perus embebedavam-nos, fazia-lhe um corte na cabeça. Se na Páscoa não houvesse folar não era Páscoa.
A Mãe era mandona, tinha de ir à fonte com um cântaro de lata, demorava-se a brincar, ouvia ralhos. As cantarinhas de barro reservavam-se para a água fresca, vinham de Pinela. Jogavam à panela na segunda de Páscoa. As meninas jogavam à macaca, jogo da roda, cabra-cega e bilharda, os rapazes o jogo dos paus. Os rapazes de fora que viessem namorar as raparigas de cá levavam asas de pau (pancada). Se algum rapaz de fora tivesse autorização para namorar uma rapariga de cá, os rapazes tocavam o sino a rebate e obrigavam o de fora a pagar o vinho.
Manteiga pouca gente a punha no folar, faziam-na mas para comer logo. O mesmo acontecia com o queijo. Havia dois ou três caçadores, não apareciam javalis, lobos e corças sim. Se matavam um lobo os rapazes andavam com ele pelas aldeias a pedir.

Carta Gastronómica de Bragança
Autor: Armando Fernandes
Foto: É parte integrante da publicação
Publicação da Câmara Municipal de Bragança

Sem comentários:

Enviar um comentário