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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

EMIGRAÇÃO PARA O BRASIL

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas..."

Penso que é do vosso conhecimento, pelo menos dos meus leitores – se os tiver, – que sou casado, há mais de quarenta anos, com paulistana.
O avô de minha mulher, emigrou para o Brasil, no início do século XX, após concluir o curso de “Comércio”, numa escola que ficava junto ao Palácio da Bolsa, no Porto.
Emigrou, porque lhe disseram: que nesse país, era fácil enriquecer. Embarcou num velho navio, juntamente com outros, que buscavam vida melhor, com destino a Santos.
Rapidamente verificou, que a terra de Santa Cruz, não era o paraíso esperado; mesmo assim, chegou a industrial. Azares e infortúnios, levaram-no a perder parte do que conseguiu, o que não admira, porque era intelectual, e dedicava-se às “ Letras “; caminho certo para empobrecer alegremente.
Estando a conversar, com ele, no “jardim-de-inverno”, na confortável casa de Vila Mariana, narrou-me, a traços largos, a sua história. 
Perguntei-lhe, a razão de nunca ter vindo a Portugal:
Olhou-me fixamente, com os inquietos e paternais olhos verdes, e, após segundos de silêncio, disse-me, em doce voz, levemente cantada e conselheira:
- “ Estou velho! …Já não vale a pena! … Depois, já não vivem os que conheci. Estive sempre à espera de dias melhores… assim fiquei por aqui, pensando nos que deixei…”
Camilo – considerado Mestre dos mestres da literatura portuguesa por Vasco Botelho de Amaral (*) – incluía, nos seus romances, quase sempre, o “ brasileiro”, que regressava à terra natal, abastado de bens e de anos. Em regra, casava com jovem, por vezes, fidalga, filha de ilustres nobres arruinados.
Mas a maioria dos que partiam e partem, nunca regressavam, nem regressam, porque não queriam, nem querem, que se saiba, que não alcançaram o sucesso desejado.
Silva Pinto, narra, com azedume: “No Brasil”, as tristes desventuras de muitos que desembarcaram no Rio: Ao famoso Ator Justiniano Nobre de Faria, foi encontrá-lo como humilde carregador; e ao professor Franco (que introduziu, no Brasil, o método de leitura de João de Deus,) segundo escreveu: “ Só pedia, aos cafres, em troca da luz que lhes levava, o pão de casa dia.”
Há anos, indo eu, do Tua para Vila Flor, em tarde de calor tórrido (com o asfalto da estrada, a ferver,) na traquitana da Carreira. Sentou-se, ao meu lado “brasileiro”, de meia-idade, trajado de claro e chapéu panamá; ostentava, entre os grossos e ásperos dedos, várias notas de mil escudos! …
Saiu em Carrazeda de Ansiães, muito hirto, muito sério, muito emproado… com as notas bem visíveis! …
A vida da maioria dos emigrantes não foi fácil (basta ler a “ Selva” e os “Emigrantes”, de Ferreira de Castro,) e ainda não é, apesar de agora, serem mais cultos, e haver leis que os protegem.
Muitos, após ásperas e humilhantes desventuras, terminam na miséria; e, muitas vezes, é em extremava miséria, que morrem, longe da família e dos que lhe querem bem.
Nos anos noventa, amigo meu, sabendo que ia em viagem para São Paulo, pediu-me para entregar certa quantia, a irmão, que vivia no Rio.
Prontamente aceitei, acrescentando: que me deslocaria lá, para entregar-lhe pessoalmente.
Muito retraído, quase em cochicho, disse-me: que enviasse, o dinheiro, pelo correio. “ É que vive numa favela, em grande miséria…”
Assim fiz.
Todavia, há, quem conseguiu e consiga, singrar, em terra estranha, tornando-se: importante empresário, político influente, e comerciante de sucesso.
Infelizmente, são exceções. A maioria já se sente feliz, poder vegetar de cabeça erguida.
Tudo depende de sorte… e espírito de iniciava…; e de outras coisas, que, por decoro, não devo revelar.

(*) “ Glossário Critico de Dificuldades da Língua Portuguesa”


Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

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