A neve que caiu ontem e hoje obrigou dez Instituições Particulares de Solidariedade Social a solicitar ajuda aos bombeiros de Bragança para a distribuição das refeições aos seus utentes do serviço de apoio domiciliário.
“Este é um pedido normal quando neva. Como as carrinhas com que fazem a distribuição não têm tração às quatro rodas, por norma pedem-nos apoio”, explicou ao Mensageiro o segundo comandante, Carlos Martins.
Dado o volume de pedidos, os bombeiros socorreram-se de duas associações locais para levar a tarefa a bom porto. Assim, para além dos sete veículos todo-o-terreno disponibilizados pela corporação, a TáBô Team, que participa no Nacional de Trial 4x4, e o Nordeste Automóvel Clube, apoiaram três equipas dos bombeiros com os seus veículos.
“Assim é mais fácil rentabilizar os meios para outras ocorrências”, frisou Carlos Martins.
O Centro Social Paroquial Senhora da Assunção, na aldeia de Rebordãos, foi um dos que solicitou apoio. “Uma carrinha da junta de freguesia, 4x4, foi fazer uma das rotas mas precisávamos de outra”, explicou ao Mensageiro Francisca Dias, a diretora.
Carlota Pires foi a bombeira destacada para o serviço, como voluntária, ela que habitualmente trabalha na secretaria da Associação Humanitária dos Bombeiros de Bragança. “Nestes dias, temos todos de dar uma ajuda”, explicou.
Alguns dos utentes já nem contavam com o almoço. “Eu bem lhes disse que não viessem, nestas condições, que é um perigo”, protestava, carinhosamente, a D. Izilda, de Nogueira. Antes dela, já o senhor Fernando, em Rebordãos, “não contava” que o serviço habitual se efetivasse com as condições de neve que se faziam sentir na aldeia. “Não era preciso virem”, diz, enquanto recebe o cabaz com a alimentação.
Ao todo, são mais de uma dúzia de casas que recebem o almoço diariamente só nesta rota. Otávio Fernandes, de 89 anos, mora sozinho em Nogueira. “Já não contava que viessem”, diz. De uma nevada assim, “já há uns anos que não se via nada assim”. No seu caso, os únicos animais que tem são o cão Tonho e a gata Violeta.
Francisca Dias fez o trabalho de casa antes da distribuição. Falou com familiares dos utentes, avisando que se procederia normalmente à distribuição da alimentação. Conhece-os a todos como se da família fossem, distribuindo a comida e um gesto de carinho à medida que a rota avança.
Em Gostei, o Sr. Moisés já lá vem de trator. “Mora numa casa desviada da estrada, em terra batida. Quando o tempo está assim pior, vem sempre à nossa espera”, explica a diretora do Centro Social de Rebordãos.
“Ainda tentei ligar para lá para dizer que não viessem, com este tempo. Mas não consegui encontrar o número”, explica o Sr. Moisés, que hoje teve de alimentar os animais na loja (é criador de vacas).
Ao longo de duas horas, as marmitas com a comida quente, o pão e a gelatina de sobremesa são distribuídas por todos os utentes. “Cada vez temos mais solicitações", frisa Francisca Dias. “Deve ser porque a nossa comida é boa”, explica, com um sorriso.
António G. Rodrigues
in:mdb.pt
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