Hoje guiamo-nos pelo número do pé. Os números do pé, para sapatos, e do pescoço, para camisas, sempre me meteram confusão. O que sei é que nos regemos por números para vestuário e calçado. Mas, na roupa surgiu outra medida, por letras. Assim, temos para crianças a roupa por meses e anos; para senhoras o tamanho «S» é o mais comum; e o «M» para homens. Nem todos temos o mesmo peso e medida e surgiram outros números em crescendo «L», «XL», o «XXL» e os que pela sua grande massa corporal só vestem por encomenda.
Voltando ao calçado, nos tempos idos da década de cinquenta, do século XX, as crianças da minha aldeia não iam às feiras. Acho que éramos um estorvo. Só quando se levava à feira um reco, lá ia a rapariga com os pais, a ajudar a tocar o bicho à feira e para tomar conta dele. O reco era trabalho de mulher, tal como as aves de capoeira. Os rapazes estavam talhados para os bois e só iam se fosse necessária a sua ajuda. Por isso, quando era preciso comprar umas botas o meu pai pegava num pauzinho direito e punha-o no chão e eu punha o pé descalço em cima e ele marcava a medida, cortando o resto. O corte do pauzinho como medida tinha sempre em conta o crescimento dos pés durante um ano. Nunca ouvi dizer aos meus irmãos que as botas não lhe serviam. Em minha casa, a minha Mãe nunca permitiu que algum de nós usasse socos. Os socos eram usados pelos mais pobres. Não importava que o meu pai dissesse que eram mais quentes que as botas. Agricultor remediado não usava socos. Era uma despromoção social.
Lembro-me que quando fiz a quarta classe tive direito a uns socos. Quando me vi com eles foi como se me metessem uns patins nos pés. Deslizava com eles na relva e a biqueira pontapeava as pedras pequenas para longe. Não devem ter durado mais que dois ou três meses. Mais que usar os socos era quando chegava o tempo quente e a minha Mãe me dava autorização para andar descalço. Era como se tirasse dos pés umas grilhetas. Sofria bastante porque via os outros raparigos andar descalços e mais leves do que eu com as botas. Onde me ficavam os olhos mortos de desejo era nos charcos e poças de água. Os mais pobres, em pleno Inverno descalços, com as calças arregaçadas a chapinharem… A minha Mãe, às vezes devia ter pena de mim, ver-me morto de desejo de saltar para os charcos, dizia para as vizinhas: - o meu se andasse ali, amanhã estava de cama.
Voltando à medida das botas, o meu Pai ia à feira dos 3, 14 ou 25, a Mirandela e dava a medida aos mestres sapateiros de Foz Côa e se tivessem calçado que me servisse comprava de imediato ou ficavam encomendadas para a feira seguinte.
Jorge Lage
in:atelier.arteazul.net
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