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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

O QUE QUEREM OS TRANSMONTANOS, AFINAL?

Não me alongo ao Alto Douro, para tanto. Fico-me por Trás-os-Montes, por agora.
Trás-os-Montes que no presente é irrelevante no contexto nacional porque, politicamente falando, não existe. O que não deixa de ser surpreendente porquanto se trata de um espaço geográfico diversificado mas coerente, com múltiplos recursos a que os tempos modernos dão importância acrescida em cada dia que passa.
E, se Trás-os-Montes não existe politicamente, também não existe administrativamente, pelo que nenhuma entidade o representa e defende enquanto tal.
Ninguém está formalmente habilitado, portanto, a traçar-lhe um rumo, a definir-lhe uma estratégia de desenvolvimento coerente e consequente, preservando e dignificando os seus usos e costumes e promovendo a cultura transmontana no seu todo.
Não passa de uma região teórica portanto, que é administrada a esmo, a granel, fragmentada, segundo o conhecido lema “dividir para reinar”, como convém ao Governo central que assim pode livremente privilegiar o quê mais lhe interessa, a começar pelos poleiros em que toma assento.
Os transmontanos, esses, existem, mas só o são quando se afirmam como tal, porque, se assim não for, também ninguém dará conta deles.
E tempos houve em que sabiam bem o que queriam porque nada tinham, embora tivessem tudo que era seu: serras, rios, vales, hortas, searas, olivais, vinhedos, caminhos para caminhar, braços para trabalhar e o suor do rosto.
Nem sequer tinham quem pensasse por eles, como hoje têm. Nem precisavam porque as suas carências eram por demais evidentes de tão elementares que eram: chafarizes, escolas, hospitais, esgotos, telefones, electricidade, estradas e pontes.
Porém, com o advento da democracia, os transmontanos passaram a ter milhares de cérebros a reflectir e a decidir por eles: demagogos, ex-governantes em processo de expiação dos seus fracassos governativos, deputados e autarcas que supostamente os representam mas que em boa verdade obedecem a outros interesses e muitos doutores e mestres, intelectuais e especialistas em todas as áreas, a quem o poder não dá ouvidos.
Não se compreende, por isso, que Trás-os-Montes esteja cada vez mais despovoado e deprimido. O Regime já pôs a hipótese de regionalizar e de descentralizar, já criou comissões regionais e unidades de missão, distribuiu subsídios a rodos, rasgou uma autoestrada, ainda que tardega, furou o Marão, vendeu rios, edificou universidades e centros culturais, mas os transmontanos não dão mostras de abandonar a saga emigrante e muito menos de retornar à pátria, o que parece ser, hoje mais do que nunca, um estigma maior.
O que querem os transmontanos, então?
Será que querem ser independentes, como os escoceses, os catalães ou os corsos? Ser uma região autónoma como a Madeira ou os Açores? Ter uma Autoeuropa instalada em Vimioso e um Google em Vinhais? Casas da Música como o Porto tem? Estádios de futebol como a Nova Luz ou o Dragão? Milhares de turistas endinheirados que animem o comércio, a hotelaria e as hospedarias rurais? Ou apenas que o azeite, o vinho e a castanha sejam pagos ao preço da prata?
Talvez os transmontanos não queiram nada disso ou talvez até queiram muito mais. O Regime é que parece não saber o que os transmontanos querem nem estar habilitado a responder.
Por isso, o que falta à região transmontana é cérebro para pensar por ela própria e ser bem governada. Como um todo e não como uma colecção de municípios e freguesias, a jeito de capelas e sacristias, em que os vigários (Honi soit qui mal y pense) se limitam a dizer amém à Roma dos partidos.
O que os transmontanos querem, afinal, é políticas, projectos e investimentos de âmbito regional que tenham impacto nacional. E vice-versa.
Começando, por exemplo, por uma profícua defesa do meio ambiente e o aproveitamento integrado e racional das suas águas, enquanto é tempo.
Que é o mais urgente, para começar.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.



Henrique Pedro
in:jornalnordeste.com

1 comentário:

  1. De: Silvino Potêncio (Emigrante Transmontano em Natal/Brasil)
    Concordo em parte com o texto e acrescento mais algumas considerações da minha própria "lavra".
    Estou fora da Minha Aldeia (Caravelas de Mirandela) desde a Primavera de 1962 e por todos os lugares por onde passei sempre fiz questão de me identificar como "Transmontano" e não raramente acrescento... sou da Terra das Alheiras!
    A propósito do "esquecimento proposital" dos homens do "poleiro alfacinha" das coisas e das gentes Transmontanas eu tenho na minha modesta Bibliografia, e também na minha página Literária várias crônicas, artigos, poemas, criticas e muitos protestos a respeito disso.
    Quando Lisboa destruiu o Vale do Rio Tua, mesmo indo contra a decisão da UNESCO que o considerou um PATRIMÔNIO NATAURAL DA HUMANIDADE, para mal dos nossos pecados, foram Transmontanos que traíram o POVO DE TRAS OS MONTES E ALTO DOURO... isto para não falar da destruição de toda a malha ferroviária a montante do Douro (margem direita a mais destruída mas também do lado esquerdo a incompetência do Governo raia as bordas da VERGONHA internacional.
    Como eu costumo dizer no meu Livro-Album... quem destruiu subiu na vida, quem precisava ficou na miséria ou "escafedeu-se" nos caminhos da Emigração - faço minhas as suas palavras e, por agora, fico-me por aqui.

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