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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 4 de junho de 2019

Milhares de pássaros morrem “sugados” pela apanha da azeitona

Dados apontam para a morte de mais de 96 mil aves por ano devido à colheita mecanizada de azeitona em Portugal mas ICNF considera que os números não são relevantes.

O primeiro alerta foi lançado em Espanha no final do ano passado: segundo as autoridades, "cerca de 2,6 milhões de aves" teriam sido dizimadas na região da Andaluzia devido à apanha mecanizada de azeitona durante a noite. Meses depois, o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) deu conta da morte de 480 pássaros entre dezembro e janeiro em Portugal, numa zona de 75 hectares em Avis, Portalegre.

O problema está nas máquinas utilizadas. De acordo com os meios de comunicação espanhóis, este método de colheita envolve uma forte iluminação que "cega os pássaros", impedindo-os de fugir e sugando-os. Em causa podem estar 17 espécies de aves migratórias, a maioria delas protegidas pela legislação nacional. Entre as aves mais afetadas, encontram-se pardais e verdilhões.

O então presidente do ICNF, Rogério Rodrigues, afirmou ao jornal Expresso que os números das mortes não são "estatisticamente relevantes para determinar já a proibição da apanha noturna", tendo considerado que é "necessário reforçar a amostragem na próxima época de colheita, entre outubro e janeiro", para depois serem tomadas medidas sobre o assunto, recomendando o "espantamento de aves" como alternativa por agora. A SÁBADO contactou várias vezes o ICNF mas não obteve resposta sobre como este "espantamento" se realizaria.
Mas será que o número de mortes de pássaros é mesmo irrelevante? Ora, uma "média de 6,4 aves por hectare" pode facilmente traduzir-se na fatalidade de 96 mil animais, se as contas se estenderem pelos 15 mil hectares de olival superintensivo existentes em todo o país. E este número pode ser bem maior, dado que a colheita de azeitona nos olivais decorre entre outubro e janeiro.

As notícias chamaram a atenção de Vanessa Mata e Luís Pascoal da Silva, investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-inBIO) da Universidade do Porto, localizada no Campus de Vairão, que decidiram enviar, no passado mês de maio, uma carta à revista científica Nature para "alertar a comunidade internacional" a fazer pressão para a regulamentação desta prática.

Na mesma, os cientistas denunciam a morte de "milhões de aves" na Europa devido à sucção noturna de olivais. "As árvores são despidas à noite porque as temperaturas amenas ajudam a preservar o aroma da azeitona", escrevem.

À SÁBADO, a investigadora Vanessa Mata considera que é "raro" verificarem-se temperaturas acima dos 25°C entre outubro e janeiro, o que afetaria a qualidade da azeitona. Aponta outras razões para este método ser aplicado pelos operadores dos olivais: "Parece-me a mim que será uma questão financeira, em que será mais barato recolher azeitona utilizando uma máquina a operar dia e noite, do que duas máquinas a operar apenas durante o dia."

Vanessa Mata teme que o espantamento "não adiante muito", defendendo à SÁBADO que a apanha noturna de azeitona seja suspensa até serem encontradas "soluções comprovadas que garantam a segurança, de pelo menos uma boa parte, das aves".

Quanto aos dados avançados pelo ICNF, a investigadora difere da opinião do antigo diretor do organismo, considerando que mesmo que a estimativa seja desproporcional, "continua a ser um número elevadíssimo para uma atividade tão concentrada no tempo e no espaço".

Numa resposta à SÁBADO, a GNR – responsável pelo Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) – indicou que "procedeu a diversas ações de fiscalização" depois das denúncias, cujos resultados foram remetidos para o Ministério Público e ICNF. A SÁBADO está ainda a aguardar resposta junto do Ministério Público.

E o que dizem os produtores de azeite sobre as mortes de aves?

A Associação de Olivicultores do Sul (Olivum) reconheceu à SÁBADO que "a colheita mecanizada noturna poderia provocar a morte de alguns pássaros que escolhiam os olivais em sebe para pernoitar". Referindo que a prática é habitual desde os anos 70 e comum a outras culturas como a vinha ou os cereais, a associação indica também que este tipo de colheita mecanizada é, no entanto, realizado maioritariamente durante o dia.

Face à recomendação do ICNF, a Olivum acrescenta que "alguns olivicultores testaram métodos de espantamento para prevenir impactos da colheita noturna sobre as aves" mas que a situação surgiu "numa altura em que muitos olivais já tinham mesmo terminado a sua colheita", não existindo tempo para serem aplicados novos métodos de preservação das aves. Estão em desenvolvimento novos estudos por parte do organismo mas não existem ainda dados concretos, segundo a associação que pretende "aliar a produção  de azeites de  alta qualidade ao total respeito pela natureza".

Em fevereiro deste ano, a Quercus e a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) exigiram a proibição da apanha noturna de azeitona, pedindo a atuação rápida das autoridades. Ao Expresso, Nuno Sequeira, dirigente da Quercus, lamentou "a falta de regulamentação que permite a mortandade das aves e outros impactes ambientais, como a erosão e contaminação do solo e a poluição de aquíferos com químicos de síntese usados na agricultura intensiva e superintensiva".

No Reino Unido, a morte de aves devido à apanha noturna de azeitona está a fazer com que cadeias de supermercados queiram investigar de onde e em que condição vem o seu azeite, com uma investigação do jornal britânico The Telegraph a indicar que marcas que confirmam usar este método estão a ser afastadas das prateleiras dos supermercados. Em Portugal não existe ainda maneira de saber como podem as colheitas mecanizadas durante a noite afetar o mercado.

Diogo Camilo
Revista Sábado

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