O Admirável Mundo Novo ideado em 1931 por Aldous Huxley e para o qual caminhamos a passo estugado, não terá vacas, podemos agora augurar.
Mas também não será um mundo livre de moscas porque, paradoxalmente, os ambientalistas mais fervorosos declararam guerra ao bife mas ignoraram os insectos que justificam os aerossóis.
Este assunto poderá fazer rir mas deve ser tomado a sério porque as amorosas vaquinhas estão a ser acusadas de serem as maiores produtoras de gás metano que, na opinião de cotados cientistas, é o grande responsável pelo aquecimento global e correlativas alterações climatéricas.
Razão pela qual os ambientalistas que agora enfatizam o papel do metano e minoram o do carbono (vá-se lá saber porquê), se atiram à carne de vaca como gato a bofe, reclamando que seja banida do cardápio dos humanos. Pobres cães e gatos e demais carnívoros que se alimentam exclusivamente de ruminantes!
Aparentemente o destino de bois e vacas está traçado, muito embora durante milénios tenham contribuído decisivamente para o progresso da Humanidade puxando carros e arados, tocando moinhos, malhando cereais e transportando deuses e mortais no seu dorso robusto.
Não admira, portanto, que em certas civilizações como na egípcia e na hindu, a vaca tenha ganho estatuto de divindade. Sem esquecer que foi uma vaquinha que com o seu bafo aqueceu o Deus Menino, no presépio. Gesto que hoje seria considerado, por certo, um gravíssimo contributo para o aquecimento global.
Vacas que os ambientalistas radicais inexoravelmente condenam a desaparecer da superfície da Terra porque, com o advento dos motores de explosão, deixaram de ter outra utilidade que não seja a produção de leite e carne agora considerada perniciosa. Desajeitadas que são para animais de companhia nem a sola dos sapatos as salvará, o que dá pena!
Fim inglório e injusto porque, em boa verdade, não são as vacas que ameaçam a vida na Terra. São, isso sim, os humanos que se multiplicaram fisicamente mas não cresceram espiritualmente conforme era vontade do Criador.
Substituíram a força de bois, vacas e muares pela dos motores de explosão e apostam agora em cocktails de petróleo, pastilhas radioactivas e pasteis de plástico para substituir os lacticínios e os pratos de carne bovina.
A verdade é que os grandes poluidores não são os ruminantes. São os automóveis, os tractores, os navios, os aviões, as indústrias e o comércio.
Não iludam o problema, portanto: o maior desafio que a Humanidade enfrenta é a mudança do sistema energético que implica ciências, tecnologias, economias e políticas e que passa pelo abandono do petróleo que não é inesgotável, nem renovável.
Acresce que a água que os ruminantes bebem e a erva que comem a devolvem à Natureza por inteiro. Ponham-lhes máscaras no focinho, ou onde melhor lhes parecer, para recolher o metano que expelem e não haverá razão para os excluir do biossistema.
Para lá de que erradicar a fome continua a ser um problema emergente pelo que dispensar o leite e a carne de vaca não é de todo sensato.
Que os humanos se deliciem por muitos séculos com a suculenta posta mirandesa, com conta, peso e medida, são os meus votos.
E que as amorosas vaquinhas continuem a enxotar as moscas com o rabo. Ainda que as moscas valham milhões.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.
Henrique Pedro
in:jornalnordeste.com
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