- Já vooooooou mãe.
… E logo agora que me ia a isolar.
Lá vou ter que ir fazer mais um recado. Só é chato a minha equipa ficar a jogar com menos um… 2 contra 3.
Henriiiiiiiiiiiiiiiique, és surdo ou quê?
Tenho que ir, esperai por mim, já volto.
- Vais à Senhora Antoninha e trazes 1 quilo de açúcar, do escuro, duas caixas de fósforos e meio litro de petróleo. Diz-lhe para assentar.
- Tá bem mãe.
Bom dia Senhora Antoninha. Quero 1 quilo de açúcar do escuro, duas caixas de fósforos e meio litro de petróleo e é para assentar.
- Então hoje não levas dois rebuçados de troco.
- Pois não, é para assentar…
- Mas levas este, toma.
- Obrigado Senhora Antoninha.
Com uma velocidade estonteante toca a correr para casa levar a encomenda.
- Não te esqueças de não vires a horas para o jantar e de me fazeres andar à tua procura. Ai de ti se não estiveres em casa quando o teu pai vier. Se ele tiver que ir saber de ti já sabes que comes pela medida grossa.
- Tá bem, só vou acabar o jogo. Os outros estão à minha espera.
- Como estamos Teixeira?
- A perder 7 x 3. Com menos 1… só assim nos ganham.
- Vamos p´ra cima dos gaijos.
Já não se vê a bola, já escureceu. Não acabou o jogo, só acabava aos 10. Estamos a perder 8 x 5. Amanhã continuamos.
Vamos para casa antes que cheguem os nossos pais…
- Vai lavar essas bentas e essas mãos que metes nojo… se o teu pai te vê assim comes do que não gostas.
Os dias corriam devagar, não havia stress nem pressa de chegar a algum lado, tínhamos tempo para tudo… éramos muito felizes e sabíamos… nem o dinheiro nos fazia falta desde que houvesse uma bola e a luz do dia… um anzol, um metro de sediela, remisga, ou casquete… e um naco de pão com um cibo de… qualquer coisa. Não havia nenhum bairro que não tivesse quatro pedras a servirem de balizas.
HM
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