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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

A “Dança dos Paulitos” de Miranda do Douro

Dança dos Paulitos
 A “Dança dos Paulitos”

Constitui, sem dúvida, uma das mais castiças expressões do nosso folclore, a “dança dos paulitos“, que, nos recatados confins de Terras de Miranda do Douro, é ainda executada pelos naturais no festival a Nossa Senhora do Naso e em outros, sem que as investidas da civilização a tenham conseguido derrubar ou subverter, descaracterizando-a.

Este divertimento é duma antiguidade quási imemorial, pois já no século XV se exibia nas festas do “Corpus Christi“.

Os actores do bailado – em número de 16, na dança completa, ou de 8, na meia dança – manejam com agilidade uns pequenos bastões com cerca de 35 centímetros, “palotes” ou “paulito“, com os quais marcam o compasso, batendo com eles reciprocamente.

Os dançantes, “peões” e “guias” em mangas de camisa, tendo nas costas, ao pendurão, lenços floridos de seda, dançam numa exaltação febril, saltitando, volteando, cruzando-se e contorcionando-se com simplória graça, num estilo que perturba e entontece, ao mesmo tempo que os bastões se entrechocam ritmicamente.

Durante as evoluções coreográficas, usam uns fantasiosos vestuários regionais, apropriados para este divertimento e característicos pela orgia policrómica e terna complexidade.

Os trajes

Constam de um largo chapéu braguês, preto, engalanado de lantejoulas, penas de pavão e flores, tendo pendentes da aba duas longas fitas.

Colete guarnecido caprichosamente e no qual se distingue um losango de tecido branco, na parte posterior que se ajusta às costas.

Estes coletes são de grosseiro burel escuro, a que chamam “pardo“, espreitando no bolso dos mesmos, lenços brancos, matizados a cores berrantes;

Saias brancas, rodadas, de grandes folhos, tendo na barra guarnições bordadas, garrido saiote de baeta vermelha.

Meias de lã branca, ensilveiradas a preto e sapatos de baqueta branca, ornamentados a cores.

Esta dança cheia de cor, de movimento e dum certo pitoresco selvagem, quási não carece de ritmo e de sentido musical; executa-se ao som horríssono do tamboril, da caixa de rufo e da gaita-de-foles.

Além deste instrumento ruidoso, tangem os dançarinos, durante a exibição, castanholas, que ressoam no bailado como um estridente acompanhamento.

Estilos e variantes da dança

Tão característica dança, presa a uma sólida tradição, é por vezes acompanhada por canções populares, num cerrado dialecto quási incompreensível, misto de português e de castelhano.

Tem diversos estilos e variantes – “laços” – contando-se entre os principais: a lebre, o mirandum, a erva as pombas, os ofícios, a a carmelita, D. Rodrigo, o perdigão, o vinte e cinco, o acto de contrição, o cavalheiro, a pimenta, o touro, o canário e o maridito.

Teve a prioridade nestas investigações o erudito folclorista dr. Leite de Vasconcelos que, nos Estudos de Filologia Mirandesa, abordou o tema desenvolvidamente.

Assegura o douto arqueólogo Reverendo Francisco Manuel Alves, que esse bailado deve ter lido uma origem sagrada que se obliterou, e não guerreira, como conjecturam alguns comentadores.

Tal hipótese é admissível, tanto mais que os mirandeses não bailam com espadas, lanças ou qualquer outra arma ofensiva, mas simplesmente, com pequenos bastões, como for já referido.

A dança dos paulitos não guarda dos tempos antigos nenhum vestígio pagão, sendo demasiado rigoristas os párocos que a não toleram nas festas religiosas.

Em Penafiel, nos festivais do Corpo de Deus, exibem-se algumas danças originais tais como a dos sapateiros, dos ferreiros, e outras em que há animação e ingenuidade.

Seria longa a enumeração de todas as danças populares portuguesas, muitas delas tumultuosas e cheias de dinamismo.

Vira Minhoto
Danças de cada província

Cada província, cada região, possui os seus bailados característicos, manifestações, de vivacidade, de alegria, telas animadas das ocupações agrárias e dos arraiais rumorosos: o Algarve tem a “cana-verde” e o “corridinho“, dançados quási sempre ao som da harmónica.

O Ribatejo, o “vira-vira“, o “estaladinho” e o “verde-gaio“, cujos movimentos são regrados frequentemente pela gaita-de-beiços.

O Douro, o “regadinho” e a “chula-vareira“.

O Minho, o “malhão“, o “vira“, a “ramaldeira” e a “cirandinha“, modas estas dançadas quási todas ao som raspado e chocalhante da viola e de típicas cantigas.

Entre as danças mais ou menos licenciosas, conta-se o “fado“, batido no tablado das lôbregas alfurjas em posições torpes e desnalgadas, em que o sadismo e a devassidão se confundem, vibrando em uníssono.

Muito embora cheia de nítida influência andaluza, deve ainda notar-se a dança, o “fandango“, cujo sapateado ou ruído feito com os rastos e tacões do calçado, atingem os efeitos duma saltitante orquestração.

A carta coreográfica da dança nacional, é uma farândula de graça desenvolta, castiça, sadia e embriagante, que devia merecer o culto dos folcloristas que têm entusiasmo por todas as revelações da simplória alma popular.

Guilherme Felgueiras (da Associação dos Arqueólogos Portugueses)
Fonte: “Ilustração” nº 273 – 1937

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