Por: Paula Freire
(colaboradora do Memórias...e outras coisas...)
Enternece-me o modo brioso e garrido como o Sr. Domingos responde, sempre que alguém o questiona sobre a data do seu aniversário. Empertiga os ombros, afina a voz e profere, lacónico: “10 de junho. Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”. E o olhar envolve-se-lhe num silencioso e arrebicado sorriso.
O Sr. Domingos não foi marinheiro. Nem terá tido oportunidade sequer de ver o mar, muitas vezes, ao longo dos seus já extensos setenta e cinco anos de idade. Pouco foi o tempo que alongou vistas por outras paragens que não fosse a sua aldeia de onde, um dia, os filhos saíram em busca de outros destinos mais afortunados.
Os estudos foram escassos, os poucos que uma simples e modesta família de sete filhos lhe permitiram em tempos remotos, quando a pobreza se fazia casa num país encerrado entre quatro paredes. Mas sabe a história de Portugal na ponta da língua. E com grande confiança a recita aos netos, quase como se entoasse demorada cantiga à desgarrada.
Pois dessa história, o Sr. Domingos conhece o heroísmo e a afoiteza dos seus ancestrais que se aventuraram por mares nunca dantes navegados mais do que prometia a força humana.
Se nunca foi um navegador, sabe dos passos e dos triunfos desses heróis do mar que se fizeram a um mundo desconhecido, à descoberta do futuro, numa vontade constante de ir sempre mais além.
Povo viajante feito de garra e bravura extraordinárias onde cabia a gigantesca convicção no desconhecido e uma força inabalável de superação dos infortúnios e má sorte.
Talvez o Sr. Domingos desconfie, com boa pitada de vaidade, ser ele também herança deste património genético tão magnificamente assinalado pelo nosso prodigioso, aventureiro e apaixonado Camões. E por isso, na sua postura humildemente despretensiosa possamos perceber, porém, esse orgulho maior por ter nascido num dia 10 de junho.
Não foi por morar num Portugal interior, muitas vezes esquecido, que o Sr. Domingos permitiu deixar passar ao lado a sua história de um passado de expansão e aquisição de outros saberes. É este forte sentimento de pertença que tanto lhe admiro, apesar do bastante que lhe falta materialmente, fruto das asperezas e intempéries da vida num canto de Portugal votado à solidão e abandono dos que nunca partiram para contrariar os desígnios.
E sei que, se algum dia, tivesse que deixar para trás o seu pedaço de terra, guardador de muitas vivências, e a sua casinha construída a pulso com ardor e dedicação, seria como pedir à morte que o levasse para outro mundo. Porque é desta ânsia permanente de regresso ao seu porto que se faz o coração de cada português, qual mito de D. Sebastião, ainda que um sexto sentido lhes garanta que, por vezes, a volta possa não passar de uma ilusão.
Se reduzimos cada vez mais as nossas fronteiras e abrimos portas a uma sociedade multicultural onde se vão desenhando constantes e rápidas mudanças nos vários sistemas que lhe dão forma, continuamos ainda assim a descobrir-nos numa cultura amplamente genuína e pura que transporta em si o caráter tão forte da nossa lusitanidade.
Honrar o chão que pisamos e o barro de que somos moldados e cantar o presente, e também o passado e o futuro porque o presente é todo o passado e todo o futuro, como nos ditou Álvaro de Campos em “Ode Triunfal”. É isto o que, agora, podemos encontrar de mais digno no desejo de cada um.
Os nossos antecessores, numa árdua conquista de mais conhecimento, muito fizeram e contribuíram para nos abrir horizontes.
Hoje, em cada palavra dita, em cada centelha de comemoração por este dia que nos torna, de alguma forma, mais grandiosos enquanto povo, saibamos conferir sentido a todo o esforço levado a cabo por esses nossos antepassados.
Consigamos igualmente fazer uso dos ensinamentos de outrora para interpretar o futuro e corrigir o que possa estar mal. Com aquele sentimento que os portugueses tão bem guardam no peito ao longo dos caminhos do seu fado: a esperança e a fé.
Mudem-se os tempos… mas permaneça a vontade.
O Sr. Domingos não foi marinheiro. Nem terá tido oportunidade sequer de ver o mar, muitas vezes, ao longo dos seus já extensos setenta e cinco anos de idade. Pouco foi o tempo que alongou vistas por outras paragens que não fosse a sua aldeia de onde, um dia, os filhos saíram em busca de outros destinos mais afortunados.
Os estudos foram escassos, os poucos que uma simples e modesta família de sete filhos lhe permitiram em tempos remotos, quando a pobreza se fazia casa num país encerrado entre quatro paredes. Mas sabe a história de Portugal na ponta da língua. E com grande confiança a recita aos netos, quase como se entoasse demorada cantiga à desgarrada.
Pois dessa história, o Sr. Domingos conhece o heroísmo e a afoiteza dos seus ancestrais que se aventuraram por mares nunca dantes navegados mais do que prometia a força humana.
Se nunca foi um navegador, sabe dos passos e dos triunfos desses heróis do mar que se fizeram a um mundo desconhecido, à descoberta do futuro, numa vontade constante de ir sempre mais além.
Povo viajante feito de garra e bravura extraordinárias onde cabia a gigantesca convicção no desconhecido e uma força inabalável de superação dos infortúnios e má sorte.
Talvez o Sr. Domingos desconfie, com boa pitada de vaidade, ser ele também herança deste património genético tão magnificamente assinalado pelo nosso prodigioso, aventureiro e apaixonado Camões. E por isso, na sua postura humildemente despretensiosa possamos perceber, porém, esse orgulho maior por ter nascido num dia 10 de junho.
Não foi por morar num Portugal interior, muitas vezes esquecido, que o Sr. Domingos permitiu deixar passar ao lado a sua história de um passado de expansão e aquisição de outros saberes. É este forte sentimento de pertença que tanto lhe admiro, apesar do bastante que lhe falta materialmente, fruto das asperezas e intempéries da vida num canto de Portugal votado à solidão e abandono dos que nunca partiram para contrariar os desígnios.
E sei que, se algum dia, tivesse que deixar para trás o seu pedaço de terra, guardador de muitas vivências, e a sua casinha construída a pulso com ardor e dedicação, seria como pedir à morte que o levasse para outro mundo. Porque é desta ânsia permanente de regresso ao seu porto que se faz o coração de cada português, qual mito de D. Sebastião, ainda que um sexto sentido lhes garanta que, por vezes, a volta possa não passar de uma ilusão.
Se reduzimos cada vez mais as nossas fronteiras e abrimos portas a uma sociedade multicultural onde se vão desenhando constantes e rápidas mudanças nos vários sistemas que lhe dão forma, continuamos ainda assim a descobrir-nos numa cultura amplamente genuína e pura que transporta em si o caráter tão forte da nossa lusitanidade.
Honrar o chão que pisamos e o barro de que somos moldados e cantar o presente, e também o passado e o futuro porque o presente é todo o passado e todo o futuro, como nos ditou Álvaro de Campos em “Ode Triunfal”. É isto o que, agora, podemos encontrar de mais digno no desejo de cada um.
Os nossos antecessores, numa árdua conquista de mais conhecimento, muito fizeram e contribuíram para nos abrir horizontes.
Hoje, em cada palavra dita, em cada centelha de comemoração por este dia que nos torna, de alguma forma, mais grandiosos enquanto povo, saibamos conferir sentido a todo o esforço levado a cabo por esses nossos antepassados.
Consigamos igualmente fazer uso dos ensinamentos de outrora para interpretar o futuro e corrigir o que possa estar mal. Com aquele sentimento que os portugueses tão bem guardam no peito ao longo dos caminhos do seu fado: a esperança e a fé.
Mudem-se os tempos… mas permaneça a vontade.
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