Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Em democracia não há intocáveis, não há vacas sagradas, não há assuntos tabu.
O romance das aventuras e desventuras de um ministro que ainda o sendo, quase não é, de outro que já não o sendo parece que é, de uma demissão por telefone que teve à mistura, mesmo não se sabendo de quem para quem, ameaças de agressões e outros rocambolescos episódios, de uma super-chefe de gabinete que tudo sabe, tudo faz, tudo (ou quase tudo) controla – será que o ministério funciona sem ela? – que tudo protege (sobretudo o ministro), tem capítulos para todos os gostos e preferências. Mas pouco interesse tem, no final do dia. Quem telefonou a quem, quem o fez primeiro, quem indicou ou reportou o quê, quem usa e manipula melhor a linguagem para, não mentindo, contrariar o que outro disse, sem o apodar de mentiroso, deixando porém essa impressão a quem ligeiramente os escute sem atender aos pormenores, aos específicos significados de cada termo e do seu contexto. Para completar o enredo amexicanado não falta quem, na ânsia de processar tudo e todos, de acusar qualquer um e mais alguém de mentiroso e de outro qualquer delito se permita zurzir num governo ambíguo, com bons resultados económicos, mas que não se refletem na vida quotidiana, atolado em casos e casinhos mas que persiste em alimentar a intriga.
Episódios quixotescos que entretêm a classe política que, infelizmente, à falta de melhores e mais substantivos, se enreda neste emaranhado do diz que disse, kafkiano a autofágico.
Que não tem o mínimo interesse.
Porém, quando se sabe de fonte segura, não desmentida, antes confirmada por todos quantos se referiram a este facto, que um indivíduo é abordado por um agente secreto, a meio da noite, intimando-o a colaborar a bem, porque sendo a mal, será pior, mas não tem alternativa se não obedecer, sem direito a qualquer réplica, qualquer defesa ou exercício do contraditório, sem explicação forte e inatacável para tal atuação... o caso muda radicalmente de figura. Quando o organismo que deve controlar a atuação desta agência secreta informa que tudo está de acordo com a Lei, mas não especifica que lei, nem que regulamento cobre tão estranho e preocupante comportamento... é de ficar inquieto, preocupado e vigilante. Também aqui houve logo quem viesse gritar na praça que o SIS é sagrado, não se pode tocar no SIS, não se pode discutir o SIS nem o seu funcionamento! Quando uma das vozes que vem “alertar” para o perigo sem medida de se estar a mexer com os sacrossantos serviços secretos é a de um ex-ministro que em fevereiro de 1982 veio à televisão alertar o país para uma “intentona” perigosa ameaçadora capaz de destruir a democracia só porque, na preparação de uma greve geral os manifestantes se preparavam para usar “varapaus” e pregos!
Não, não quero saber quais os segredos de estado pressupondo que estejam devidamente custodiados por quem de direito e, sobretudo, adequadamente protegidos. Não me movem propósitos voyeuristas de conteúdos e informações pessoais. Mas tenho o direito de saber se em Portugal volta a haver um grupo de agentes com poderes para atuar, à margem da lei, ameaçando cidadãos, independentemente de serem culpados ou não, do que quer que seja. E não, não basta dizer que tudo está conforme a legislação em vigor. É necessário dizer qual a Lei e em que circunstâncias permite tal estranha e alarmante atuação.
O romance das aventuras e desventuras de um ministro que ainda o sendo, quase não é, de outro que já não o sendo parece que é, de uma demissão por telefone que teve à mistura, mesmo não se sabendo de quem para quem, ameaças de agressões e outros rocambolescos episódios, de uma super-chefe de gabinete que tudo sabe, tudo faz, tudo (ou quase tudo) controla – será que o ministério funciona sem ela? – que tudo protege (sobretudo o ministro), tem capítulos para todos os gostos e preferências. Mas pouco interesse tem, no final do dia. Quem telefonou a quem, quem o fez primeiro, quem indicou ou reportou o quê, quem usa e manipula melhor a linguagem para, não mentindo, contrariar o que outro disse, sem o apodar de mentiroso, deixando porém essa impressão a quem ligeiramente os escute sem atender aos pormenores, aos específicos significados de cada termo e do seu contexto. Para completar o enredo amexicanado não falta quem, na ânsia de processar tudo e todos, de acusar qualquer um e mais alguém de mentiroso e de outro qualquer delito se permita zurzir num governo ambíguo, com bons resultados económicos, mas que não se refletem na vida quotidiana, atolado em casos e casinhos mas que persiste em alimentar a intriga.
Episódios quixotescos que entretêm a classe política que, infelizmente, à falta de melhores e mais substantivos, se enreda neste emaranhado do diz que disse, kafkiano a autofágico.
Que não tem o mínimo interesse.
Porém, quando se sabe de fonte segura, não desmentida, antes confirmada por todos quantos se referiram a este facto, que um indivíduo é abordado por um agente secreto, a meio da noite, intimando-o a colaborar a bem, porque sendo a mal, será pior, mas não tem alternativa se não obedecer, sem direito a qualquer réplica, qualquer defesa ou exercício do contraditório, sem explicação forte e inatacável para tal atuação... o caso muda radicalmente de figura. Quando o organismo que deve controlar a atuação desta agência secreta informa que tudo está de acordo com a Lei, mas não especifica que lei, nem que regulamento cobre tão estranho e preocupante comportamento... é de ficar inquieto, preocupado e vigilante. Também aqui houve logo quem viesse gritar na praça que o SIS é sagrado, não se pode tocar no SIS, não se pode discutir o SIS nem o seu funcionamento! Quando uma das vozes que vem “alertar” para o perigo sem medida de se estar a mexer com os sacrossantos serviços secretos é a de um ex-ministro que em fevereiro de 1982 veio à televisão alertar o país para uma “intentona” perigosa ameaçadora capaz de destruir a democracia só porque, na preparação de uma greve geral os manifestantes se preparavam para usar “varapaus” e pregos!
Não, não quero saber quais os segredos de estado pressupondo que estejam devidamente custodiados por quem de direito e, sobretudo, adequadamente protegidos. Não me movem propósitos voyeuristas de conteúdos e informações pessoais. Mas tenho o direito de saber se em Portugal volta a haver um grupo de agentes com poderes para atuar, à margem da lei, ameaçando cidadãos, independentemente de serem culpados ou não, do que quer que seja. E não, não basta dizer que tudo está conforme a legislação em vigor. É necessário dizer qual a Lei e em que circunstâncias permite tal estranha e alarmante atuação.
José Mário Leite, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance), Canto d'Encantos (Contos) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.
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