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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 24 de junho de 2023

Óh meu rico S. João

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

São João, cravos aos molhos 
Manjericos pela rua. 
E no sonho dos teus olhos 
Balões grandes como a Lua.

(popular)

Estes versos são de uma marcha de S. João dos meus tempos de rapaz. Lindo! Uma quadra que simples como é se torna no refrão de uma canção popular que nos anos da minha juventude era cantada pelo povo que festejava este Santo com verdadeira fé e popularidade sadia e de efeitos purgativos que se notavam no semblante das gentes da minha terra.
A rádio (EN) tornava as celebrações mais apetecidas e que coroado pela música que era deveras popular, mas que era harmoniosa e tinha a capacidade de influenciar o povo a uma alegria sã e moderada.
Hoje muito particularmente no Norte de Portugal, já que os festejos nas várias cidades do Norte são como uma pequena amostra que, quiçá, possa reacender a chama dos festejos dos Santos Populares e voltarmos ao ponto que começou a perder fulgor a partir da década de 60.
Tenho neste momento diante dos olhos, a última festa em louvor do Santo Batista na Rua dos meus amores e lembro o trabalho que antecedeu o dia do arraial, com a construção da Quermesse e a saga que foi a Comissão de Festas deslocar-se ao Fervença e ao Sabor para cortar, espadanas que fechassem as alas laterais que com o muro do lado da Farmácia da Preta a servir de suporte sustentava a Quermesse que era o ponto de enfeite e de suporte financeiro à realização dos festejos. Tudo começava com a chegada do tempo justo, o mês de Junho, dito, o dos Santos populares, que começava com o Santo António na Vila, leia-se muralhas do Castelo, que me recordo tinha sempre bastante gente, e em que tive momentos de alegria quando um ano passei o arraial na companhia do Manuel, bibliotecário da Gulbenkian, que tendo chegado por volta do meio -dia à Taverna do Torrão se quedou por lá até às sete da manhã do dia de São João em que o António Barril seu colega na Biblioteca o foi buscar a ele e ao Acordeão, que não largou desde a chegada até ao epílogo.
No terreiro em frente ao Castelo parecia o Arraial de uma festa medieval com jograis e povo, dançarinos e bailarinas, como nunca mais aconteceu em Bragança.
Nesse mesmo ano foi a vez de fazermos o baile de S. João na Caleja do Forte desde o pontão até à entrada na Rua do Norte que era a zona plana onde se fez o bailarico. Esta zona era a mais plana e por isso foi utilizada para tal evento que diga-se foi um sucesso. No final após ter chegado a madrugada fizeram-se as contas e o dinheiro que sobejou após o pagamento das despesas foi distribuído pelas pessoas que se achou mais necessitadas e foi este o baile de S. João mais popular daquele ano em Bragança. Acrescentou-se a isto, a classificação e a entrega dos prémios, aos garotos que fizeram as Cascatas construídas para pedir uma moedinha p'rá Cascata sendo este um costume muito antigo e  uma tradição que se perdeu e era uma variante mais ou menos próxima do Presépio de Natal com as devidas diferenças .
Eu até compreendo todas estas mudanças que não são ocasionadas senão pelo aumento da qualidade de vida e mais ocupação da juventude em actividades mais seleccionadas e mais consentâneas com a educação que hoje se ministra às crianças e jovens. A Escola está mais empenhada no que se ensina aos jovens, cujo porvir está baseado na formação académica e não na aprendizagem das Artes & Ofícios.
De qualquer modo fica aqui uma análise e comparação entre o meu tempo de miúdo e este da minha velhice que me trouxe esta nostalgia das coisas colectivas em que os jovens eram mais solidários e eram parte essencial na vida da Cidade.
Dos bailes e bailaricos defendo de que a cultura Anglo -Saxónica deu uma machadada medonha na nossa, que alterou todo o conceito do é popular e que se tornou mal visto pelas classes baixas que faziam a sua ascensão para patamares onde não cabem as tradições das quais durante séculos nos servimos e vivemos.
A minha cidade está diferente mas menos mágica. A Praça da Sé, a Alexandre Herculano e as dos Oleiros e República bem assim como a 5 de Outubro (Tombeirinho)  estão mais tristes porque as pessoas se servem delas apenas para passarem de pó-pó.

Óh meu rico S. João 
Dos folguedos e alegrias 
O meu rico S. João, galhofeiro, brincalhão
Padroeiro das folias

(popular)



Bragança ,23 de Junho de 2023
A. O. dos Santos
(Bombadas)

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