Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
São João, cravos aos molhos
Manjericos pela rua.
E no sonho dos teus olhos
Balões grandes como a Lua.
Manjericos pela rua.
E no sonho dos teus olhos
Balões grandes como a Lua.
(popular)
Estes versos são de uma marcha de S. João dos meus tempos de rapaz. Lindo! Uma quadra que simples como é se torna no refrão de uma canção popular que nos anos da minha juventude era cantada pelo povo que festejava este Santo com verdadeira fé e popularidade sadia e de efeitos purgativos que se notavam no semblante das gentes da minha terra.
A rádio (EN) tornava as celebrações mais apetecidas e que coroado pela música que era deveras popular, mas que era harmoniosa e tinha a capacidade de influenciar o povo a uma alegria sã e moderada.
Hoje muito particularmente no Norte de Portugal, já que os festejos nas várias cidades do Norte são como uma pequena amostra que, quiçá, possa reacender a chama dos festejos dos Santos Populares e voltarmos ao ponto que começou a perder fulgor a partir da década de 60.
Tenho neste momento diante dos olhos, a última festa em louvor do Santo Batista na Rua dos meus amores e lembro o trabalho que antecedeu o dia do arraial, com a construção da Quermesse e a saga que foi a Comissão de Festas deslocar-se ao Fervença e ao Sabor para cortar, espadanas que fechassem as alas laterais que com o muro do lado da Farmácia da Preta a servir de suporte sustentava a Quermesse que era o ponto de enfeite e de suporte financeiro à realização dos festejos. Tudo começava com a chegada do tempo justo, o mês de Junho, dito, o dos Santos populares, que começava com o Santo António na Vila, leia-se muralhas do Castelo, que me recordo tinha sempre bastante gente, e em que tive momentos de alegria quando um ano passei o arraial na companhia do Manuel, bibliotecário da Gulbenkian, que tendo chegado por volta do meio -dia à Taverna do Torrão se quedou por lá até às sete da manhã do dia de São João em que o António Barril seu colega na Biblioteca o foi buscar a ele e ao Acordeão, que não largou desde a chegada até ao epílogo.
No terreiro em frente ao Castelo parecia o Arraial de uma festa medieval com jograis e povo, dançarinos e bailarinas, como nunca mais aconteceu em Bragança.
Nesse mesmo ano foi a vez de fazermos o baile de S. João na Caleja do Forte desde o pontão até à entrada na Rua do Norte que era a zona plana onde se fez o bailarico. Esta zona era a mais plana e por isso foi utilizada para tal evento que diga-se foi um sucesso. No final após ter chegado a madrugada fizeram-se as contas e o dinheiro que sobejou após o pagamento das despesas foi distribuído pelas pessoas que se achou mais necessitadas e foi este o baile de S. João mais popular daquele ano em Bragança. Acrescentou-se a isto, a classificação e a entrega dos prémios, aos garotos que fizeram as Cascatas construídas para pedir uma moedinha p'rá Cascata sendo este um costume muito antigo e uma tradição que se perdeu e era uma variante mais ou menos próxima do Presépio de Natal com as devidas diferenças .
Eu até compreendo todas estas mudanças que não são ocasionadas senão pelo aumento da qualidade de vida e mais ocupação da juventude em actividades mais seleccionadas e mais consentâneas com a educação que hoje se ministra às crianças e jovens. A Escola está mais empenhada no que se ensina aos jovens, cujo porvir está baseado na formação académica e não na aprendizagem das Artes & Ofícios.
De qualquer modo fica aqui uma análise e comparação entre o meu tempo de miúdo e este da minha velhice que me trouxe esta nostalgia das coisas colectivas em que os jovens eram mais solidários e eram parte essencial na vida da Cidade.
Dos bailes e bailaricos defendo de que a cultura Anglo -Saxónica deu uma machadada medonha na nossa, que alterou todo o conceito do é popular e que se tornou mal visto pelas classes baixas que faziam a sua ascensão para patamares onde não cabem as tradições das quais durante séculos nos servimos e vivemos.
A minha cidade está diferente mas menos mágica. A Praça da Sé, a Alexandre Herculano e as dos Oleiros e República bem assim como a 5 de Outubro (Tombeirinho) estão mais tristes porque as pessoas se servem delas apenas para passarem de pó-pó.
Óh meu rico S. João
Dos folguedos e alegrias
O meu rico S. João, galhofeiro, brincalhão
Padroeiro das folias
(popular)
Bragança ,23 de Junho de 2023
A. O. dos Santos
(Bombadas)
Sem comentários:
Enviar um comentário