sexta-feira, 30 de junho de 2023

IGREJA DE SANTA MARIA

 
A igreja de Santa Maria, intramuros da cidadela, é cabeça de uma das 
duas freguesias em que se divide a cidade e tem por orago Nossa Senhora da Assunção.
Segundo a lenda referida pelo Santuário Mariano (527), nas lutas com os mouros Bragança foi destruída, seus habitantes fugiram, escondendo as sagradas imagens, e passados quase duzentos e oitenta e cinco anos, da Reconquista Cristã, apareceu a de Santa Maria num sardão, carrasco ou azinheira do espesso matagal crescido em cima das ruínas do primitivo povoado. Levaram-na para o monte hoje chamado Cabeço da Cidade, a uma légua desta, na confluência do Sabor e Fervença, onde então viviam, mas de noite a Virgem fugiu para o primitivo local (o sardão), e tantas vezes o fez até que, desenganados, vieram habitar junto dela edificando-lhe um templo.
«D’este tempo, diz Borges, ajuizão pessoas doutas, se accommodou a Bragança o nome de Coeliobriga, porque se de antes tivera o de Juliobriga, que os latinos formarão em Caliobriga, chamando-lhe como cidade de Cayo Julio, deixando a vaidade, que fazia do nome de hum Principe da terra, lograsse o titulo de Cidade do Céo, que isso significa Coeliobriga, pois com beneficio tão superior se dignou assistir em ella a Imperatriz da Gloria» (528).
O templo actual de três naves fez-se no século XVI, transferindo-se, com autorização do bispo de Miranda D.António Pinheiro, a matriz para a igreja de S. Vicente, vindo a concluir-se o fontispício de colunas salomónicas em granito com folhagem e parras enroscadas nas espirais dos fustes, segundo o estilo dito jesuítico, no tempo do bispo D. João Franco de Oliveira (1701-1715) que liberalmente subsidiou a obra.
A capela-mor fez-se no ano de 1580, sendo bispo D. Jerónimo de Meneses, por ficar a antiga incluída no corpo da igreja.

----------
(527) SANTA MARIA, Agostinho – Santuário Mariano, tomo V, livro III, p. 583.
(528) BORGES – Descrição Topográfica…, notícia 2.ª.
----------

A tribuna desta capela, de talha dourada, sendo insuficiente a mandada fazer em 1635 pelo comendador Lourenço Dias Preto, fez-se pelos anos de 1710 por conta dos frutos da comenda de que era administradora D. Maria de Figueiroa, natural de Bragança, viúva do mestre de campo general e governador das armas da província Sebastião da Veiga Cabral.
No corpo da igreja há quatro altares e duas capelas, sendo uma da invocação de Nossa Senhora dos Prazeres, pertencente à família Figueiredo, cujas armas ostenta no arco em estilo renascença muito ornamentado e primorosamente esculpido. Foi fundada, como se vê na legenda do arco, em 1585, por Pedro de Figueiredo, alcaide-mor de Bragança, com vínculo de morgadio.
Entendem vários autores que nesta igreja havia colegiada (529) e era a única do bispado de Miranda; achamos, porém, a julgar pelos documentos, que era antes um simulacro dela, pois não correspondia ao que se entende por tal instituição na rigorosa acepção do termo. Fosse como fosse, nem esse simulacro hoje existe.
Os priores de Santa Maria usam de murça desde tempo imemorial de que têm sentença obtida em juízo contencioso contra o Cabido de Miranda que pretendia impugnar-lhe tal privilégio (530).

----------
(529) SANTA MARIA, Agostinho – Santuário Mariano, tomo V, livro III, n.º 11.
(530) BORGES – Descrição Topográfica…, notícia 3.ª.
----------

MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA

Sem comentários:

Enviar um comentário