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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 22 de junho de 2023

MOSTEIRO DE S. BENTO

 
O mosteiro de S. Bento, para religiosas professas dessa ordem, foi fundado 
em 1590, por uma dama nobre chamada Maria Teixeira, moradora em Bragança, que, por escritura de 20 de Outubro desse ano, o dotou com todos os seus bens e o colocou debaixo da padroeira Santa Escolástica(499).
D. Rodrigo da Cunha(500) entende que a fundação deste mosteiro foi obra do Bispo de Miranda, D. Jerónimo de Meneses, no que padeceu engano. Esse bispo fez algo, mas foi, como já mostrámos, no respeitante ao convento de Santa Clara. E como prova, ainda hoje se vê o escudo dos Teixeiras junto à porta da igreja na parede: em campo azul uma cruz de oiro potente e vazia.
Como já vimos no n.º 4 do vol. I, pág. 338, das Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, não ficou completo o edifício na mesma ocasião.
Do mosteiro de Vairão veio para este a primeira abadessa, D. Jerónima de Vilhena, e D. Luísa de Noronha, que dizem filha do conde da Feira, com o título de prioresa.
Em 1721 tinha cento e quarenta e quatro religiosas professas, quatro conversas e onze noviças, e por esse tempo se fez a tribuna do altar-mor de obra entalhada.

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(499) COSTA, António Carvalho da – Corografia Portuguesa, tomo I, p. 496; CASTRO, João Baptista de – Mapa de Portugal, tomo II, pp. 58 e 59. Crónica Beneditina. SILVA, António Pires da – Chronograph.Medi., p. 19.
(500) CUNHA, Rodrigo da – Catálogo e História dos Bispos do Porto, parte II, cap. XL, p. 343. FARIA – Europa, tomo III, p. 216.
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Ao tempo, além do altar-mor, tinha mais dois laterais no corpo da igreja, fazendo-se então mais outro dedicado a Nossa Senhora dos Desamparados, cuja devoção trouxeram para Bragança os soldados que militaram em Valença sob as ordens do Marquês das Minas nas últimas guerras (1710).
Na cerca do mosteiro havia a capela do Menino Jesus, de que nada resta, mandada fazer em 1698 pelo alcaide-mor Lázaro de Figueiredo Sarmento e por seu primo António de Figueiredo Sarmento, governador da cidade. Para ela deu o retábulo o bispo da diocese D. Manuel de Moura Manuel, que depois seu sucessor, D. João Franco de Oliveira, mandou dourar; e por ordem deste escreveu o padre António de Távora a história da origem da capela, e o padre Bernardo Rebelo, cura de Santa Maria, ambos de Bragança, a relação dos milagres do Menino Jesus.
Helena da Costa, mãe da fundadora do Mosteiro, Maria Teixeira, era filha do alcaide-mor de Bragança, Francisco da Costa Homem, senhor do morgado de Santa Marta de Bornes, erecto na capela-mor da igreja matriz desta freguesia, e havia casado com Gonçalo Teixeira. Não era, pois, a fundadora dona viúva, como quer Carvalho da Costa, pois nunca casou, mas sim sua mãe(501).
Em provisão de 19 de Julho de 1748, concedeu o rei D. João que as freiras deste convento, a requerimento da madre abadessa e mais discretas, pudessem ter juiz privativo que evocasse a si todas as coisas que dissessem respeito aos interesses do mosteiro e este fosse o juiz de fora da cidade de Bragança. Igual concessão gozavam, segundo elas diziam, as freiras de Vinhais e as de Odivelas.
Para fundamentar o pedido desta concessão alegavam que várias pessoas lhes eram devedoras de dinheiros, juros, tenças e restos de dotes, e sendo, pela maior parte, estranhas ao concelho ou de lugares onde apenas havia só juízes ordinários, sobre os quais pesava a influência dos devedores, poderosos em geral, elas, não podendo forçá-los à paga dessas dívidas, passavam fomes, pois eram pobres(502).
A 2 de Julho de 1782 as freiras deste convento romperam, com grave escândalo, a clausura sagrada, saindo tumultuariamente do recolhimento, levantando dinheiros, que diziam infundadamente pertencerem-lhe, efectuando a compra de um casal em Castelãos, etc. O facto, como inusitado, assumiu proporções de escândalo maior;  a rainha, que então

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(501) BORGES – Descrição Topográfica…
(502) Arquivo Distrital de Bragança, Livro do Registo da Câmara de Bragança, fl. 161.
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era D.Maria I, o bispo e o juiz de fora intervieram e a irrequieta comunidade sossegou(503).
Camilo Castelo Branco, no seu romance histórico A Filha do Regicida, diz-nos que Maria Isabel, amante do rei D. João IV e casada com Domingos Leite, que nos dão como vendido a Castela por atentar contra a vida do rei, quando, afinal, segundo Camilo, procurava simplesmente vingar a sua honra de marido ultrajado, veio para este mosteiro por ordem real em 1647, enquanto em Lisboa lhe espostejavam o marido e daqui, enamorada de João da Veiga Cabral, bragançano ilustre, sargento-mor de batalha que muito se distinguira na defesa de Olivença, fugiu com ele para Castela a fim de escaparem aos ciúmes vingativos do real competidor.
Na sessão da Câmara dos Deputados de 24 de Julho de 1852 foi apresentada uma representação do presidente e vereadores da Câmara Municipal de Bragança pedindo, para o estabelecimento de diversas repartições, o mosteiro das monjas beneditinas dessa cidade, onde havia apenas uma única religiosa e que para os consertos necessários fosse aplicado como fundo o produto da venda da cerca do mesmo convento(504).
Na sessão de 9 de Março de 1853, foi apresentado por José de Morais Faria e Carvalho, deputado por Bragança, o projecto de lei que adiante apresentamos, ao qual ele apensou as seguintes razões justificativas: «Considerando o estado de ruina do edificio do convento de S. Bento de Bragança: que o edificio principiou já a demolir-se e por isso dentro em pouco estará em ruinas, como aconteceu ao de S. Francisco da mesma cidade, de que tanta utilidade se podia tirar, não servindo então sendo para profanações e couto de aves nocturnas: que o edificio de S. Bento se podia aproveitar dando-o á camara para n’elle accommodar o governo civil, alfandega, administração do concelho, tribunal de justiça, casa da camara e lyceu: que o Estado e camara pagam de renda para algumas d’estas casas bastante dinheiro: que o lyceu não se acha organisado por falta de casa e que no convento existia apenas uma freira, que podia ir para o de Santa Clara, onde ainda havia quatro, ou para o de Vinhaes; por isso propunha que este convento fôsse dado á camara de Bragança

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(503) Ibidem, fls. 91 e seguintes. Memórias Arqueológicas do Distrito de Bragança, documento n.º 110, tomo III, p. 248.
(504) Diário do Governo de 26 de Julho de 1852.
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para n’elle estabelecer as repartições acima mencionadas»(505).
Em harmonia com estes considerandos foi, em 27 de Junho de 1853, aprovada a seguinte proposta de lei:

«ARTIGO 1.º É o governo auctorisado a applicar o edificio do extincto convento de S. Bento da cidade de Bragança para todas as repartições do serviço publico d’aquella cidade, incluindo as municipaes, que alli podérem ser collocadas sem prejuizo do mesmo serviço.
ART. 2.º O governo poderá applicar para as obras indispensaveis no dito edificio a quantia ou dinheiro, producto da venda da cêrca annexa ao mesmo edificio.
ART. 4.º Fica auctorisado o governo a entregar a egreja do dito edificio á confraria de S. Pedro, para continuar alli o culto religioso, uma vez que a dita confraria se obrigue a conservar aquella egreja bem reparada e decente.
ART. 5.º As concessões feitas por esta lei limitam-se ao uso dos referidos edificios, ficando sempre ao Estado a propriedade d’elles»(506).
Já dissemos que neste edifício foi instalado o Liceu Nacional e esteve também a estação telegráfica, como se vê da seguinte correspondência de Bragança inserta na folha oficial(507): «A estação telegraphica vae ser mudada do convento de S. Bento para uma casa da rua Direita, que é propriedade municipal. N’aquelle convento dizem-me que vão estabelecer-se escolas de instrucção primaria».

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(505) Ibidem, de 10 de Março de 1853.
(506) Diário do Governo de 11 de Julho de 1853.
(507) Diário de Lisboa de 2 de Novembro de 1866.
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MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA

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