Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Naquele tempo ainda acreditava que o céu era ali bem perto, nas cercanias da serra de Nogueira, onde o firmamento se unia à terra numa comunhão mais que perfeita.
As nuvens brancas só podiam ser de açúcar, igualzinho ao que se vendia no nosso Soto, para deleite dos anjos que felizmente só comiam açúcar e coisas doces.
A trovoada iluminava a noite e o trovão era a voz de Deus muito zangado pelos pecados medonhos de ter tirado um tostão da carteira da mãe, ou ter encetado, discretamente, a malga da marmelada.
E a mãe sorria:
- Não tenhas medo meu filho é só a trovoada… passa logo… assim Santa Bárbara queira!
- Mãe, eu não quero ir para o Inferno!
O Inferno devia ser ali bem perto do poço de corda da nossa horta… fundo de meter medo!
- Não vás para junto do poço… recomendava a mãe, com aquela sua cara muito séria… sem acrescentar mais nada…
… devia ser por causa do inferno, pensava eu!
Depois cresci mãe e o céu ficou cada vez mais longe, enquanto o inferno da humanidade ficou cada vez mais perto… bem mais perto que o poço da nossa horta, onde por milagre, nasceram nenúfares brancos.
…olha mãe… envelheci quase tanto como tu… e tenho a idade do tempo em que ainda ias para as novenas da Senhora da Serra ouvir os sermões do missionário capuchinho… já não tenho medo à trovoada… as nuvens já são somente a água pura das nascentes… mas o céu continua a existir… e é o lugar onde tu estás em conversa amena com o meu pai, o teu neto e com os anjos!
… porque sorriste?!
Eu vi… e os teus olhos são as estrelas mais brilhantes da longa noite de Milhão!
… até breve… estou a caminho!
As nuvens brancas só podiam ser de açúcar, igualzinho ao que se vendia no nosso Soto, para deleite dos anjos que felizmente só comiam açúcar e coisas doces.
A trovoada iluminava a noite e o trovão era a voz de Deus muito zangado pelos pecados medonhos de ter tirado um tostão da carteira da mãe, ou ter encetado, discretamente, a malga da marmelada.
E a mãe sorria:
- Não tenhas medo meu filho é só a trovoada… passa logo… assim Santa Bárbara queira!
- Mãe, eu não quero ir para o Inferno!
O Inferno devia ser ali bem perto do poço de corda da nossa horta… fundo de meter medo!
- Não vás para junto do poço… recomendava a mãe, com aquela sua cara muito séria… sem acrescentar mais nada…
… devia ser por causa do inferno, pensava eu!
Depois cresci mãe e o céu ficou cada vez mais longe, enquanto o inferno da humanidade ficou cada vez mais perto… bem mais perto que o poço da nossa horta, onde por milagre, nasceram nenúfares brancos.
…olha mãe… envelheci quase tanto como tu… e tenho a idade do tempo em que ainda ias para as novenas da Senhora da Serra ouvir os sermões do missionário capuchinho… já não tenho medo à trovoada… as nuvens já são somente a água pura das nascentes… mas o céu continua a existir… e é o lugar onde tu estás em conversa amena com o meu pai, o teu neto e com os anjos!
… porque sorriste?!
Eu vi… e os teus olhos são as estrelas mais brilhantes da longa noite de Milhão!
… até breve… estou a caminho!
Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança.
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.
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