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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 24 de dezembro de 2023

Ritual do Velho de Vale de Porco em Mogadouro resiste ao despovoamento

 Os rituais profanos do solstício de inverno continuam a resistir ao despovoamento em algumas aldeias do concelho de Mogadouro, no distrito de Bragança, tornando-se mesmo num cartaz turístico dos tempos de natal e ano novo.


A aldeia de Vale de Porco continua a apostar na tradição do Velho, como figura singular, que resiste à erosão dos tempos, tendo sido mesmo criada uma associação para a sua salvaguarda e divulgação.

Em declarações à agência Lusa, Ana Maria Martins, uma das mentoras deste projeto de salvaguarda do Velho de Vale de Porco, disse que este ritual do Velho se estava a perder, sendo o objetivo desta coletividade revitalizar a tradição e todo o ritual.

“É necessário transmitir estas tradições aos mais jovens, porque achamos que ainda não é sentida como fazem os mais velhos da aldeia. A continuidade da tradição é um dos objetivos”, disse.

Em Vale de Porco, concelho de Mogadouro, a figura do Velho protagoniza todos os rituais da festa do Natal, associadas ao Solstício de Inverno, muito enraizadas na cultura e etnografia da região do Planalto Mirandês.

Segundo alguns investigadores transmontanos, o mascarado de Vale de Porco é denominado de Velho/Belho Chocalheiro ou até mesmo de Diabo.

Um dos segredos mais bem guardados deste ritual é o nome de quem veste o traje do Velho e, pelo que disse à Lusa, prefere o anonimato, mas conta a história.

“Há um princípio em que o Velho não deve ser identificado, e sua identidade tem de ser secreta, e só conhecida pelos mordomos da festa. A máscara deve ser retirada sem público para a pessoa não ser reconhecida”, disse o protagonista da festa.

Segundo o personagem, esta identidade secreta poderá estar ligada “a certas patifarias” que o Velho faz ao longo do seu ritual.

“Mesmo aqueles que conheciam a identidade das pessoas que vestem o traje do Velhos não a podem divulgar. Era um segredo que se mantinha entre toda a rapaziada do grupo”, vincou.

Só os chamados “mancebos”, rapazes entre os 13 e os 17 ou 18 anos, é que podiam vestir o traje. "Era um ritual de passagem para a fase adulta”, disse.

No dia de natal, pelo frio da manhã, os chocalhos rompem o silêncio da aldeia e o Velho Chocalheiro, no seu fato inteiriço de serapilheira, coroado com uma careta de pau predominantemente vermelha, com pormenores em preto, encimada por chifres e de chocalhos à cinta, sai à rua para gáudio da poluição.

Moisés Falcão recorda o ano de 1947 quando vestiu a fato de serapilheira e colocou a máscara do Velho, “eram tempos diferentes, mas era uma festa em que a rapaziada participava, porque havia muita”.

"Era uma honra representar o Velho, mas era preciso pagar em vinho e outros géneros”,vincou.

Esta figura sai sempre acompanhada pelos mordomos e realiza assim o ritual do peditório.

O velho percorre a aldeia, metendo-se com a garotada que, por sua vez, o vai provocando e atingindo-o de várias formas.

No ano novo, o “Velho” volta a sair à rua. Este momento festivo liga-se à mitologia da expulsão do ano velho e preparação do novo ano.

Antigamente também saía à rua no dia de consoada, para pedir e recolher cepos para a Fogueira do Galo da praça central desta aldeia.

Os rituais são celebrados ainda hoje em várias localidades transmontanas com alguns misticismo. Inserem-se num conjunto de rituais do solstício de inverno que se estendem até ao carnaval.

FYP//LIL
Lusa/fim

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