“Esta exposição é quase como fazer um reconhecimento póstumo a uma extraordinária e esquecida artista transmontana, que nasceu no final do século XIX, no período naturalista e cujas 200 obras foram doadas pelo filho, o arquiteto Alfredo de Matos Ferreira, ao Museu do Abade de Baçal. Estava na altura de mostrar aos transmontanos e ao país. Dos 200 trabalhos fez-se uma seleção de cerca de uma centena deles, desenhos e pinturas, mas tem, também, objetos pessoais como cavaletes, etc. Foi ainda possível fazer um documentário com as netas, no ateliê da artista na aldeia de Urros, concelho de Torre de Moncorvo, e que complementam a exposição”, explicou o diretor do MAB, Jorge Costa.
Berta Nery está representada na coleção do museu desde 1994, com a obra ‘A cozinha transmontana’. “É um dos temas muito tratados por ela. Há outras obras que integrámos na coleção permanente, nomeadamente um núcleo do naturalismo. Quem vem visitar a exposição fica a conhecer não só o talento no desenho desta artista transmontana mas, também, revisitar a coleção permanente do museu que tem muitas novidades. Muitas obras que foram acrescentadas, desde pintura, escultura, objetos, de vários períodos. Continuamos a receber doações e vamos mostrando estas novidades que vão aparecendo”, frisou Jorge Costa.
Isabel Matos Ferreira e Irene Matos Ferreira, netas da pintora, disseram ao Mensageiro que esta exposição “é uma emoção muito grande”. “Quando todo o acervo veio para cá, em 2015, achávamos que não ia ser mais visto, que ia ficar guardado nas catacumbas. De repente, sermos contactadas pelo diretor do museu a dizer que descobriu a obra da nossa avó e queria fazer uma exposição, foi a possibilidade de não só voltarmos a ver as obras dela mas dá-las a conhecer aos outros. É muito emocionante”, frisaram.
Jorge Costa recorda que Berta Nery era filha de pai transmontano, de Urros, oficial de artilharia. “Em criança deslocou-se ao sabor do trabalho do pai. Esteve em Macau, em Lisboa, na Madeira. A mãe era de Torres Novas, uma mulher muito à frente do seu tempo. Em Lisboa, Berta Nery morava muito perto dos ateliês quer de Carlos Reis quer de Columbano, e isso permitiu-lhe contactar com os grandes mestres do naturalismo. Tinha muito talento. Acabou por vir para a aldeia para se curar de doenças respiratórias. Foi aí que conheceu o marido, um médico dos Caminhos de Ferro. Casou, teve um filho” e acabou por se mudar para Urros por vontade do marido.
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