sábado, 23 de dezembro de 2023

RUÍNAS DA CAPELA DE SANTA EULÁLIA - IZEDA. Paraíso do Românico Perdido!

Implantada 3km a Noroeste da vila de Izeda, em área isolada de ponto de cota superior a 600 metros e suave inclinação, é ladeada, a Sul, por linha de água que corre para a ribeira de Vilalva. A sua presença numa área atreita à atividade agropecuária, junto de água corrente, indica habitabilidade. Ali foi encontrada uma necrópole com sepulturas em lajes, associada à capela, e recolhido material de uso doméstico, de construção e moedas de prata.



As «Memórias Paroquiais de 1758» referem que Izeda «tem tres ermidas, huma de Santa Eulalia dista do Lugar meya Legoa Situada em humas vinhas há tradiçaõ que foy antigamente huma Cidade Chamada Medea de que ainda parecem vestigios». Aos nossos dias chegaram as ruínas da Capela. De linhas arquitetónicas retas (15x6mt) e paredes com cerca de 0,8mt de espessura, identificam-se três espaços: nártex, nave e capela-mor. A capela-mor é mais profunda que a nave, divididas por arco triunfal de volta perfeita. Se acrescentarmos o uso de pedra na construção, a rusticidade, robustez e reduzidos pontos de entrada de luz, assumimos um edifício religioso românico.
Outro pormenor é a dedicação da Capela a Santa Eulália de Mérida, mártir venerada na Península Ibérica no tempo dos Visigodos, sobretudo na região de Entre-Douro-e-Minho. O que aponta para a existência de povoado cristão dos séculos VI-VIII, assente em anterior urbe romana e precursora da própria localidade de Izeda. Assim, a Capela de Santa Eulália constituir-se-á como um exemplar românico do Ocidente Peninsular anterior à Reconquista Cristã. Conforme observável in loco, é longitudinal e de linhas direitas. A cobertura superior seria de dupla água e a cornija do edifício eventualmente assente em fiadas de modilhões. O nártex, aberto e transversal à nave, teria cobertura suportada por mísulas na parede da frontaria e colunas. Era a área de entrada, de penitência e de permanência dos não batizados. Seguia-se o frontispício, sobrelevado. 
Como Capela antiga, teria simplicidade de linhas, a terminar em empena, eventualmente com frontão, coroado por cruz. Rasgado por portal de jambas e dintel retos e/ou com arco de volta perfeita, é ladeado por duas janelas retangulares verticais para entrada de luz para a nave, sendo de supor uma terceira sobre o portal, em fresta ou óculo. A nave é de reduzidas dimensões, austera e sem decoração, chão em pedra granítica e teto em madeira, abobadado ou em empena, assente em vigamento transversal. À entrada estava pia de água benta em granito, de boca oval e nervuras no bordo, a crer na sua presença atual junto ao portal principal da Igreja matriz de Izeda. Nas paredes percebem-se pequenas reentrâncias na parede, indiciadoras de mísulas para suporte de imagens hagiográficas ou pontos de luz natural. A nave é dividida da capela-mor por arco triunfal de volta perfeita em silhares de granito, com intradorso apainelado. Assenta em pilares toscanos com imposta saliente e almofadas na base.
A capela-mor, mais profunda e de menor altura que a nave, é sobrelevada por degrau, removido recentemente. Sem entradas de luz e despojada, do lado da epístola parece existir reentrância retangular! A mesa de altar seria paralelepipédica de granito sobre supedâneo, encostada à parede testeira, a destacar a imagem do orago Santa Eulália. Refira-se que em nicho lateral do altar-mor da Igreja matriz de Izeda está exposta imagem da Santa, não sendo a original da Capela. Marca viva dos tempos, as ruínas da Capela de Santa Eulália apresentam um indelével passado histórico-religioso a merecer requalificação.

Susana Cipriano e Abílio Lousada

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