Um estudo do Instituto Português de Administração de Marketing concluiu que 60% dos portugueses iriam gastar menos este ano em compras de Natal.
Na região transmontana, as opiniões dos proprietários de comércios locais dividem-se perante este estudo. Para uns, a situação “não é tão má quanto o espectável”, mas, para outros, “é terrível”.
Em Bragança, horas antes da habitual troca de prendas nas casas dos familiares, ainda se sentia a azáfama das compras feitas à última da hora, como manda a tradição.
Dalila Luso, proprietária de uma drogaria na rua Almirante Reis, contou que no princípio do mês de Dezembros “esperava-se uma véspera muito má para as vendas”, no entanto, com o aproximar do dia de Natal, “os portugueses deixam tudo para a última da hora”. “Nesta última semana antes do Natal ainda movimentamos alguma coisa. As pessoas fazem sobretudo compras online nos últimos anos e, quando não encontram aquilo que querem na internet, passam aqui na drogaria”, acrescentou Dalila.
Metros mais abaixo, numa sapataria, a opinião não se manteve tão positiva em relação à da vizinha da drogaria. Luís Ferreira, gerente do estabelecimento, falava de “poucas vendas e pouco movimento de pessoas pelas ruas”. “Os horários das grandes superfícies vieram destruir o comércio local. Além disso, a falta de estacionamento aqui no centro da cidade, em relação ao estacionamento gratuito nas grandes superfícies, também não vem ajudar o nosso negócio”, disse Luís Ferreira.
Entre roupas, brinquedos, perfumes ou jóias, há quem prefira uma prenda mais original, com um toque praticamente personalizado. Mário Ortega é proprietário de uma loja com produtos à base de madeira alusivos, sobretudo, a temas relacionados com a região de Trás-os-Montes. “Estamos a sentir que as pessoas se vão distribuindo um bocadinho nas suas compras. Uns optam por peças alusivas ao Natal e outras por aquilo que podem ser as peças compradas em qualquer altura do ano. Os que querem comprar várias prendas optam pela colecção de Natal porque são um pouco mais baratas”, explicou Mário Ortega.
No entanto, entre as várias prendas que se podem encontrar num presépio, há uma que nunca passa de moda e continua a ser valorizada apesar da digitalização ter tomado conta do dia-a-dia.
Os livros, segundo Casimiro Fernandes, proprietário de uma livraria junto à Praça da Sé, “continua a ser uma prenda de ocasião e sobretudo de tradição”. “Há pessoas que ainda têm bom gosto e boa leitura. Sabem aquilo que compram e optam pelo comércio local. Há quem venha de fora e acabam por comprar aqui, nas papelarias locais para oferecerem um livro àqueles que ainda cultivam o hábito de terem um livro na mesinha de cabeceira”, contou Casimiro Fernandes.
Em Miranda do Douro “não se vêem tantos espanhóis” antes do Natal
Com a fronteira mesmo ao lado e a partilha de costumes, manda a tradição que em Miranda do Douro, com a chegada da quadra natalícia, os espanhóis procurem as suas prendas na cidade vizinha.
Mas, este ano, segundo os proprietários dos comércios locais, a situação piorou drasticamente e já nem se sente a presença da língua espanhola a pronunciar-se pelas ruas. “Este ano está a ser um fracasso, porque parece que os emigrantes não vieram à terra e os espanhóis não aparecem. Estamos numa cidade isolada e isso só tem vindo a piorar todos os anos”, disse António Pires, proprietário de um comércio em Miranda do Douro.
Também José Raposo, gerente de uma loja conta que, pelos últimos dias, vão vindo mais algumas pessoas, “mas praticamente o mesmo dos outros anos. “Quem não comprava antes desta crise também não compra agora. Ainda se vão vendo alguns espanhóis, mas muito poucos em relação aos anos anteriores. Vamos ver se para os Reis eles voltam”.
Num outro ponto da cidade mirandesa, Alfredo Delgado é proprietário de uma loja de produtos artesanais, aberta há apenas dois anos. “Infelizmente este ano não temos visto mais pessoas nesta época das festas. Está a acontecer o inverso e temos cada vez menos clientes, por incrível que pareça não temos mais gente por ser Natal. Vão passando espanhóis mas não entram”, disse Alfredo Delgado.
“O polvo está ao mesmo preço, mas as pessoas não compram”
Para a ceia de Natal, há quem prefira o bacalhau, mas também são muitos os que preferem polvo, sobretudo na região.
Por esta altura, os preços são os mesmos do ano passado, mas a procura tem diminuído bastante, “porque não há dinheiro”.
Quem o diz é Cármen Cassiano, vendedora ambulante de peixe fresco, que percorre diariamente várias aldeias nos concelhos de Mirandela e Vinhais, explicando que, os consumidores, “apertaram o cinto ao ponto de não conseguirem apertar mais”. “A diferença foi gigante em relação aos anos anteriores no que diz respeito às vendas do polvo. As pessoas têm achado tudo caro porque há definitivamente pouco dinheiro e não dá para tudo”, explicou Cármen.
Em relação aos preços do polvo, a proprietária da peixaria explicou que “os valores variam muito”. “Nas polveiras entre dois a três quilos vendi por 16,50€, a partir disso era a 18€ e naqueles polvos muito grandes vendi por 20 euros”. “O facto de vender polvo fresco também encarece o produto, mas para quem compra e gasta o dinheiro prefere sempre ter mais qualidade na mesa de Natal”, rematou.
No entanto, apesar da subida de preços “há determinados produtos que não podem faltar na mesa dos portugueses”.
Esta é um das principais frases ouvidas pelas ruas, entre aqueles que entram e saem das lojas, pastelarias e peixarias, como é o caso de Rita Fonseca, que “não descarta o polvo e o bacalhau”. “Não poupamos na comida, mas depois tentamos apertar nas prendas que damos às pessoas e não oferecemos coisas de valores muitoelevados”, explicou a cliente natural de Mirandela.
Na correria das horas que passavam antes do Natal e no momento de rechear a mesa para brindar os que mais amam, os transmontanos não fecharam os bolsos perante a inflação actual, sobretudo nos ingredientes principais da quadra festiva: o amor e a fé.
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