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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Onde foi assinado, há 530 anos, o Tratado de Tordesilhas? Um historiador espanhol tem uma teoria.

 A 7 de Junho de 1494, representantes de Portugal e de Espanha assinaram, na cidade homónima, o Tratado de Tordesilhas, no qual as duas potências dividiram o chamado Novo Mundo. Mas onde aconteceu exactamente o encontro? O historiador espanhol Miguel Ángel Zalama tem uma teoria.

Cordon Press

Após complicadas negociações, a 7 de Junho de 1494, representantes do rei português D. João II e dos Reis Católicos assinaram o Tratado de Tordesilhas, pelo qual Portugal e Castela dividiram o chamado Novo Mundo. O acordo foi sancionado pelos Reis Católicos a 2 de Julho em Arévalo, enquanto D. João II fez o mesmo a 5 de Setembro em Setúbal.

O TRATADO DE ALCÁÇOVAS

Os dois reinos tinham resolvido a guerra de sucessão em Castela com o Tratado de Alcáçovas, em 1479, mas a paz estava prestes a ser interrompida quando, em Março de 1493, Colombo aportou em Lisboa no regresso da sua primeira viagem. João II reclamou como suas as terras descobertas, pois entendia que tinha navegado para sul das Ilhas Canárias e, segundo o acordo de Alcáçovas, esse território pertencia aos portugueses. Os Reis Católicos, por seu lado, argumentavam que não tinham atravessado o paralelo das Canárias, mas que a viagem tinha sido efectuada para ocidente, pelo que os novos territórios pertenciam a Castela.

Embora os portugueses tivessem razão, na altura não era possível determinar a latitude em que se encontravam as ilhas das Caraíbas, pelo que se recorreu ao Papa.

ENCONTRO EM TORDESILHAS

Alexandre VI, da família dos Bórgias, toma o partido dos Reis Católicos e, em quatro bulas sucessivas, entre Maio e Setembro de 1493, determina que tudo o que fosse descoberto num raio de 100 léguas a oeste de Cabo Verde pertencia à Coroa de Castela. João II não se encontrava numa boa posição e aceitou negociar um acordo, cujos termos foram discutidos e aprovados em Tordesilhas.

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O Papa Alexandre VI ficou do lado dos Reis Católicos e decidiu que tudo o que fosse descoberto num raio de 100 léguas a oeste de Cabo Verde pertencia à Coroa de Castela.

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É surpreendente que os portugueses tenham aceitado reunir-se em Tordesilhas, uma cidade no coração de Castela e, portanto, longe da fronteira, porque, embora os correios transportassem rapidamente as notícias, a distância de Lisboa tornava difícil a troca de informações e as manobras a tempo.

Os Reis Católicos, pelo contrário, controlavam directamente o processo, permanecendo em Tordesilhas durante um mês enquanto se discutiam as condições. Só abandonaram a cidade na véspera de os negociadores concluírem um acordo que lhes era favorável.

Os portugueses aceitaram a divisão por meridianos, tal como estabelecida pela bula papal Inter caetera, mas deslocaram a linha para 370 léguas a oeste de Cabo Verde, assegurando assim a navegação para a África Austral.

CASA DO TRATADO OU PALÁCIO REAL

Todos os pormenores do acordo e as suas consequências são bem conhecidos, mas há um aspecto que é frequentemente esquecido: onde foi assinado o Tratado de Tordesilhas?

Embora não existam provas documentais, a tradição sugere que foi nas chamadas Casas do Tratado, construídas na margem direita do rio Douro, junto à igreja de San Antolín. O viajante interessado que visita a vila encontra um edifício de pedra de finais do século XV, que incorpora na fachada o escudo de armas dos Reis Católicos, ladeado por dois outros que mostram a heráldica de Alfonso González de Tordesilhas, camareiro dos Reis, e da sua mulher, Leonor de Ulloa.

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A tradição leva a que a assinatura do famoso tratado tenha sido efectuada nas Casas del Tratado, construídas na margem direita do rio Douro, em Tordesilhas.

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Este personagem, apelidado de “Calvarrasa”, tinha uma casa na actual Plaza Mayor, que foi demolida em 1487. Depois, mandou construir “umas casas no miradouro do rio que cai na zona rochosa, entre a igreja de Santo Antolín e Sant Juan”, nas quais colocou o seu brasão: “Cabeça de águila negra em campo branco”.

Embora o edifício possa ter sido concluído aquando da assinatura do Tratado, tal não significa que tenha sido aí que este foi assinado. Meio século mais tarde, Anton van den Wyngaerde não incluiu este edifício, supostamente importante, na sua Vista panorâmica de Tordesilhas.

Mencionou, sim, o palácio real, que já não existe, e do qual provavelmente provém o brasão principal da casa. O palácio foi construído por Henrique III de Castela e foi ocupado por Juan II, pelos Reis Católicos e, a partir de 1509, pela rainha Juana I até à sua morte em 1555. Como a vila não tinha câmara municipal até ao século XVI, não era raro que os vereadores se reunissem “nos paços do rei que estão na dita vila, onde é costume reunir-se com o toque do sino”.

Demolido no século XVIII, quando Carlos III o ofereceu à cidade, pouco mais nos resta do palácio do que provas documentais, uma planta e um desenho impreciso da sua existência.

O facto de se ter perdido irremediavelmente não isenta de responsabilidade aqueles que pretendem obscurecer a sua memória: o palácio, e não uma casa privada sem especial prestígio, deve ter sido o lugar onde se discutiu e assinou o Tratado de Tordesilhas, por ser o único edifício civil da cidade capaz de acolher as delegações e porque os Reis Católicos ficaram lá e só o deixaram horas antes da assinatura, quando já tinham alcançado os seus objectivos e a sua presença no acto protocolar não era apropriada.

Miguel Ángel Zalama / The Conversation *

* Miguel Ángel Zalama é professor de História da Arte na Universidade de Valladolid. Este artigo foi originalmente publicado no portal The Conversation e é publicado aqui sob uma licença Creative Commons.

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