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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 16 de outubro de 2011

Ary dos Santos

Original é o poeta 
que se origina a si mesmo 
que numa sílaba é seta 
noutro pasmo ou cataclismo 
o que se atira ao poema 
como se fosse um abismo 
e faz um filho ás palavras 
na cama do romantismo. 
Original é o poeta 
capaz de escrever um sismo. 


Original é o poeta 
de origem clara e comum 
que sendo de toda a parte 
não é de lugar algum. 
O que gera a própria arte 
na força de ser só um 
por todos a quem a sorte faz 
devorar um jejum. 
Original é o poeta 
que de todos for só um. 


Original é o poeta 
expulso do paraíso 
por saber compreender 
o que é o choro e o riso; 
aquele que desce á rua 
bebe copos quebra nozes 
e ferra em quem tem juízo 
versos brancos e ferozes. 
Original é o poeta 
que é gato de sete vozes. 


Original é o poeta 
que chegar ao despudor 
de escrever todos os dias 
como se fizesse amor. 
Esse que despe a poesia 
como se fosse uma mulher 
e nela emprenha a alegria 
de ser um homem qualquer. 


Serei tudo o que disserem 
por inveja ou negação: 
cabeçudo dromedário 
fogueira de exibição 
teorema corolário 
poema de mão em mão 
lãzudo publicitário 
malabarista cabrão. 
Serei tudo o que disserem: 
Poeta castrado não! 


Os que entendem como eu 
as linhas com que me escrevo 
reconhecem o que é meu 
em tudo quanto lhes devo: 
ternura como já disse 
sempre que faço um poema; 
saudade que se partisse 
me alagaria de pena; 
e também uma alegria 
uma coragem serena 
em renegar a poesia 
quando ela nos envenena. 


Os que entendem como eu 
a força que tem um verso 
reconhecem o que é seu 
quando lhes mostro o reverso: 


Da fome já não se fala 
- é tão vulgar que nos cansa - 
mas que dizer de uma bala 
num esqueleto de criança? 


Do frio não reza a história 
- a morte é branda e letal - 
mas que dizer da memória 
de uma bomba de napalm? 


E o resto que pode ser 
o poema dia a dia? 
- Um bisturi a crescer 
nas coxas de uma judia; 
um filho que vai nascer 
parido por asfixia?! 
- Ah não me venham dizer 
que é fonética a poesia! 


Serei tudo o que disserem 
por temor ou negação: 
Demagogo mau profeta 
falso médico ladrão 
prostituta proxeneta 
espoleta televisão. 
Serei tudo o que disserem: 
Poeta castrado não!

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