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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Um inverno - confissão


Depois dos chouriços feitos, de muito cansaço e das minhas mãos completamente estragadas, fomos para a aldeia onde a minha tia dava aulas que fica na Lomba e pertence ao concelho de Vinhais. 
Saí de uma aldeia para outra. Se uma era pequena, a outra pequena era. As pessoas eram simpáticas e receberam-me de braços abertos. Fui tratada como uma princesa e recebi muito mimo. No entanto, as minhas saudades persistiam. 
O meu calo de escrita doía-me. Penso que nunca na vida escrevi tanto como naqueles dias. As cartas que escrevia aos meus pais, irmãos, primos, tios e amigos não se contentavam com uma simples folha. De seis para cima era o habitual.
Dois dias depois de ali termos chegado, levantou-se a minha tia, como todas as manhãs, para ir dar aulas. Eu fiquei na cama pois ainda era cedo e não tinha, propriamente, muito que fazer para além de escrever cartas e poesia.
"Anda cá ver uma coisa!" "O que é?" Perguntei, curiosa. Quando cheguei à cozinha, estranhei a brancura, a claridade anormal. "Olha pela janela." "Que lindo! Quanta neve!" Abri a porta, em pijama e chinelos e fui para a rua. 
Reconheço que parecia uma tolinha. As crianças que se encaminhavam para a escola, olhavam para mim e riam-se, como que a dizer que a sobrinha da senhora professora não teria todos os parafusos bem aferidos.
 Ela caía do céu com uma constância maravilhosa, em grandes e macios farrapos. Foi a melhor e mais pura nevada da minha vida. Ainda hoje a saboreio. 
Depois de tomar um banho quente, vesti-me e tomei o pequeno almoço. Saí para a rua novamente, desta vez, convenientemente agasalhada e aproveitei a imensa beleza daquela paisagem.
Muitas histórias poderia contar sobre o meu primeiro inverno no regresso a Portugal. Talvez as vá contando ao sabor da vontade. Tudo depende do estado de espírito ou das saudades que, porventura, batam com mais força...
A vida da gente é uma incógnita, um caminho que se vai trilhando aos poucos e que vai entroncando com outros caminhos e outras vidas.
A minha vida tem as suas vicissitudes como todas as outras... momentos felizes e outros muito maus. Não tem sido isenta de lágrimas e sorrisos. Aprendi a viver com aquilo que o destino me proporciona e tento que ela corra o melhor possível pelos trilhos que calcorreio. 
Ensinou-me a olhar para o lado, onde vejo, sempre, alguém com mais problemas do que eu. 
Não tenho medo de ir à luta e nunca baixei os braços perante as adversidades.
Nesse primeiro inverno descobri que a minha redoma tinha um rombo e que por esse rombo, poderiam entrar coisas boas e coisas más, pessoas em quem podia confiar e que me limavam muitas arestas e outras que nem sequer se preocupavam que as arestas me rasgassem a carne.
Deixei uma situação de absoluto conforto afetivo para outra de "desenrasca-te sozinha".
Não me arrependo da opção que tomei e voltava a fazer exatamente o mesmo.
Continuo a gostar de ver nevar. Tranquiliza-me e alegra-me. Sei que posso partir uma perna ou um braço se, porventura cair, mas sei que, mesmo caindo, posso levantar-me a sorrir e atirar com uma pelotada de neve aos meus sobrinhos cujo riso preenche todos os meus vazios.
Nesse inverno descobri-me, tropecei em pedras sem fim. Ergui-me. Vivi...
Nevava com delicadeza de mãe a acalentar o filho quando a minha tia chegou para almoçar e o almoço não estava feito...
O inverno continua.


Mara Cepeda
in:nordestecomcarinho.blogspot.com

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